sábado, 25 de agosto de 2012

Finalmente parece que estão botando a cabeça nos trilhos


O projeto da malha
O Brasil chegou a possuir mais de 40.000 quilômetros de ferrovias, que foram minguando até encurtar a sua malha ferroviária em mais de 10.000 quilômetros. A reposição desse total de novas ferrovias (1) concedidas pelo governo poderão custar aos cofres públicos até R$ 36 bilhões em 30 anos.
Essa é a estimativa usada pela equipe presidencial na montagem do Plano de Investimento em Logística, apesar de acreditar que o custo final poderá ser menor caso as medidas surtam os efeitos esperados e aqueçam a economia.
O valor decorre do novo modelo de concessão, que vai garantir aos ganhadores dos leilões o pagamento de todos os custos do processo. Aliás um fator que era inconcebível, nós construirmos tudo e entregar de mãos beijadas às elites capitalistas que somente tinham o trabalho de conservação e embelezamento de obras. No novo modelo, os concessionários vão realizar as obras, manter e operar as novas ferrovias por 30 anos; coisa que tambem ocorrerá com as rodovias a serem duplicadas e modernizadas em todo o país.
O governo cobrirá integralmente esses custos (2), estimados em R$ 91 bilhões, ao longo do período. Em troca, ficará com toda a capacidade de transporte das ferrovias para oferecer no mercado.

Dúvida
   
A venda dessa capacidade teria, em tese, que cobrir todos os custos, mas há dúvidas se haverá demanda suficiente em todos os trechos. Segundo técnicos, a estimativa é que será possível recuperar entre 60% e 70% do que o governo irá comprar dos concessionários. 
 A diferença será o subsídio que o Tesouro bancará para viabilizar os investimentos.
Bernardo Figueiredo, presidente da EPL (Empresa de Planejamento e Logística), que comandou a elaboração do plano, acredita que a dinamização das ferrovias –com a conexão das novas linhas aos 30 mil quilômetros de ferrovias em operação hoje– elevará ao longo do tempo a quantidade de carga transportada por trilhos.
O ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos, diz que os estudos ainda precisam ser desenvolvidos, mas que, em alguns projetos, como os de São Paulo e do Centroeste, a expectativa é que não haverá diferença entre o custo e a arrecadação. Já, para implementar o sistema para ligar o Sudeste ao Nordeste, a avaliação é que o custo a ser assumido pelo governo não será recuperado no curto prazo.

Estatizar o prejuízo
  
A opção foi criticada no mercado. A avaliação é que o governo está estatizando o prejuízo e garantindo lucro principalmente para quem vai construir. Dilma Rousseff aceitou o modelo por ser semelhante ao de energia, criado por ela e em que o governo concede as novas usinas para o setor privado, mas garante a compra da produção.
No governo, as opções que não envolviam assumir o risco foram consideradas inviáveis. Se o concessionário vendesse diretamente a capacidade de transporte das linhas, seria cobrado dos consumidores tarifa muito elevada.
  
Enquanto isso, as hidrovias continuam esquecidas (3).

1. Na verdade uma reposição de trechos vergonhosamente cortados pelos interesses da indústria automobilística numa das mais “burras” operações de que se tem conhecimento. Ferrovias são mais econômicas, poluem menos e transportam um peso muito maior.

2. As dúvidas que se seguem a esta questão têm algum fundamento, e digo mais: as possibilidades de “calotes” devem ser cuidadas com todas as “artimanhas contratuais”, caso contrário os empreiteiros como a Odebrecht, Andrade Gutierrez e outros não ressarcirão o governo.

3. A junção das bacias do Amazonas e do Paraná pode proporcionar ao país um outro tipo de transporte econômico e ágil, tendo por seu lado características muito rentáveis para a economia.

6 comentários:

Joelma disse...

Irresponsabilidades da política de transportes no Brasil a partir da implantação das multinacionais da indústria automobilística por JK por essas bandas!

Mário disse...

O modelo foi todo errado. E além das ferrovias, como você bem frisou: as hidrovias continuam esquecidas. Completamente esquecidas!

Anônimo disse...

Nos últimos anos têem sido realizadas várias obras, com a intenção de tornar os rios brasileiros navegáveis.
Eclusas são construídas para superar as diferenças de nível das águas nas barragens das usinas hidrelétricas. É o caso das eclusas de Tucuruí no Rio Tocantins, de Barra Bonita no Rio Tietê e da eclusa de Jupiá no Rio Paraná.
Existe um projeto de ligação das Bacias do Tocantins, Amazonas e Paraná. É a Hidrovia de Contorno, que permitirá a ligação da região Norte do Brasil às regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul
O seu significado econômico e social é de grande importância, pois permitirá um transporte de baixo custo. Parte deste projeto já está sendo implantado, principalmente no Norte do Brasil, com a construção das hidrovias do Madeira e Tocantins e outra parte já está em funcionamento, como é o caso da Hidrovia do Solimões-Amazonas;

Eng. Antônio de Pádua Gonçalves

Anônimo disse...

A título de um balanço da história das ferrovias no Brasil, aqui se chegou a 34.207 km (como a Argentina que hoje ainda possui cerca de 35.000 km).
Porém crises econômicas e a falta de investimentos em modernização, tanto por parte da iniciativa privada como do poder público, aliados ao crescimento do transporte rodoviário fizeram com que parte da rede fosse erradicada.
A implantação das primeiras ferrovias no país foi estimulada por capitais privados nacionais e estrangeiros (principalmente inglês) que almejavam um sistema de transporte capaz de levar (de maneira segura e econômica) aos crescentes centros urbanos e portos do país toda a produção agrícola e de minério produzida principalmente no interior brasileiro.
Durante os anos da República Velha, a expansão das ferrovias foi larga no Brasil chegando a 29.000 km saindo dos então 9.538km existentes no fim do império. A maior expansão se deu no estado de São Paulo, que chegou a ter 18 ferrovias sendo as maiores a E.F. Sorocabana com 2074 km, a Mogiana com 1954 km, a E.F. Noroeste do Brasil com 1539 km e a Cia. Paulista de Estradas de Ferro com 1536 km além da São Paulo Railway que detinha a ligação com o porto de Santos. Juntas, elas permitiram o crescimento do estado tanto no setor industrial quanto agrícola.

Eng. Antônio de Pádua Gonçalves

Jonga Olivieri disse...

Agradeço ao Engenheiro Antônio de Pádua Gonçalves os dados fornecidos nos seus textos...

Anônimo disse...

Mas tem mais: o rodoviarismo no Brasil, enquanto política de Estado teve origem com o ex-presidente Washington Luis, que discursou ainda como governador de São Paulo em 1920 a célebre frase “Governar é abrir estradas"! Enquanto governador de São Paulo, Washington Luis projetou e modernizou estradas no interior do estado e em direção ao Porto de Santos. Ao assumir a presidência, inaugurou em 1928 a Rodovia Rio-Petrópolis – a primeira rodovia asfaltada do Brasil – e a Rodovia Rio-São Paulo.
Contudo, foi durante a presidência de Juscelino Kubitschek, ao final da década de 1950, que o rodoviarismo foi implementado de maneira contundente.
A intenção de Kubitschek foi integrar o Brasil, principalmente com a transferência da capital para Brasília, no coração do território brasileiro. Logo após a inauguração de Brasília foram construídas as rodovias Belém-Brasília, Brasília-Rio Branco e Cuiabá-Porto Velho, no intuito de estabelecer relações comerciais e proporcionar o povoamento em áreas mais afastadas do Centro-Oeste e da região Norte.
O modal rodoviário corresponde a 58% do transporte de carga do Brasil. De acordo com dados oficiais do governo federal, o Brasil detém aproximadamente um milhão e meio de quilômetros de rodovias não pavimentadas, contra cerca de 250 mil quilômetros de rodovias pavimentadas.

Eng. Antônio de Pádua Gonçalves