quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Por que sai (ou nem cheguei a entrar) do PSOL?


              Heloisa Helena e suas divergências com o PSOL
Alguns meses atrás, cheguei a postar neste blogue um apoio explícito ao PSOL (Partido Socialismo e Liberdade). No sábado, 03 de dezembro de 2011 publiquei o artigo intitulado “Um partido necessário” (1). Dias depois (04/12/2011) postei “Acompanhe o 3º Congresso do PSOL” (2). E finalmente em 12 de dezembro de 2011, “O PSOL e a questão palestina” (3).

A ex-senadora Heloísa Helena, foi um dos motivos que me mobilizaram a aderir ao partido, por acha-la coerente e uma personalidade política séria. O que não me impediu de, certa feita, enviar-lhe uma carta (4) em que contestava o fato de um partido político inserido em pleno sistema “eleitoreiro” estar sujeito às deformações e contradições geradas por este. Mas por outro lado foi uma das razões de minha desistência em me filiar a este partido (5).

Sem espaço no PSOL, Heloisa decidiu acompanhar o projeto da ex ministra Marina Silva, que deixou o Partido Verde (PV) em julho e estudava criar um partido para se candidatar à presidência novamente em 2014. Elas ensaiaram a união no ano passado, quando Heloísa quis ser vice de Marina, mas o PSOL vetou a ideia para lançar a candidatura de Plínio de Arruda Sampaio. 

Heloísa renunciou à presidência do PSOL depois da eleição e disse não se sentir presa ao PSOL, que ajudou a fundar depois de ser expulsa do PT por negar apoio a algumas reformas oportunistas do governo Lula.

O PSOL se apresentou como uma alternativa à esquerda ao PT, mas infelizmente repete seus métodos em várias cidades do país. Um exemplo disso foi a política aplicada em Maceió, com o seu apoio a Régis Cavalcante, do PPS (dissidência do “Partidão”), o partido burguês de Ciro Gomes, ministro do governo Lula.

O candidato apoiado pelo PSOL em Maceió acertou uma coligação que tinha como vice o senador Teotônio Vilela, do PSDB. Na véspera do registro da chapa, Vilela recuou, e o PMDB (que também estava na chapa) retirou seu apoio, decidindo lançar um outro nome, agora do próprio partido, à Prefeitura. Sobre isto, o PPS de Maceió publicou em seu site: “Como era de se esperar, depois da renúncia do senador, o caminho natural do PSDB e do PMDB, seria a manutenção da coligação a ser formada com o PPS.” Mas, como isso não se deu, o PPS lamentou a retirada do apoio destes partidos, criticando sua “falta de ética”. Vejam, o candidato apoiado pelo PSOL em Maceió tentou, de todas as maneiras, acertar uma coligação com o PSDB e PMDB, que só não se concretizou porque estes partidos recuaram na última hora. 

Outro escândalo de grandes dimensões, este em Goiânia, foi a coligação do PSOL com o PTC (Partido Trabalhista Cristão). A principal figura pública do PSOL, o vereador Elias Vaz, seguiu filiado ao PV para concorrer à reeleição. Elias está coligado com o PTC, tendo Rannieri Lopes como candidato a prefeito. O PTC vem a ser o antigo PRN, de Fernando Collor.

Elias Vaz é membro do MTL, uma corrente do PSOL, que tem Martiniano Cavalcante, também de Goiânia, na Executiva Nacional do partido. É um exemplo do “vale-tudo” eleitoral muito semelhante à trajetória do PT. A aliança PSOL e PTC em Goiânia e o apoio ao PPS em Maceió são incompatíveis com um partido que se propunha a ser uma alternativa realmente de esquerda ao PT.

Em meados de fevereiro, foi notícia e circulou pelas redes sociais uma reunião entre o pré candidato do PSOL à prefeitura de Macapá e lideranças do PSDB do Estado do Amapá, quando o PSOL teve a oportunidade de compor com outras frentes da esquerda, mas optaram   caminho. Mas o partido não apenas desprezou a composição com partidos com os quais teoricamente se identifica (PCB, PSTU) como reuniu-se a portas fechadas com o PSDB, nas presenças do empresário Michel Houat Harb  (Michel JK) e do latifundiário Jorge Amanajás.

O PSDB no estado do Amapá tem a mesma prática dos governos FHC e Alckmin. Criminalizam os movimentos sociais e massacram as classes menos abastadas. Jorge Amanajás um latifundiário e pesam contra ele acusações de grilagem de terras. Já Michel JK é um grande empresário, dono de uma rede de lojas em todo o estado.

O senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), ex petista, e que liderou o Congresso Estadual do PSOL no ano passado, já chegou a defender publicamente uma aliança com o PPS – partido que atua alinhado ao PSDB e ao DEM no Congresso Nacional. Randolfe chegou a rasgar elogios a Roberto Freire. A partir de agora, na cartilha do PSOL é preciso eliminar o tópico que trata de alianças partidárias sob qualquer égide.

Aguardemos os próximos capítulos. Ou os próximos tópicos a serem excluídos. Enquanto isso, eu me excluo de me filiar a um partido com atuações tão dúbias.
 



4. Carta aberta ao P-SOL

“O que negamos é apenas a possibilidade de um partido operário formar, em tempo normal, com os partidos burgueses, um governo ou um partido de governo, sem cair, por isso, em contradições insuperáveis que o farão, sem dúvida, fracassar. [...] Um partido proletário em um governo de coalizão burguesa, far-se-á sempre cúmplice dos atos de repressão dirigidos contra a classe operária; atrairá para si o desprezo do proletariado, enquanto que a sujeição resultante da desconfiança de seus colegas burgueses o impedirá sempre de exercer uma atividade frutífera. Nenhum regime semelhante pode aumentar as forças do proletariado - nenhum partido burguês - e só pode comprometer o partido proletário, confundir e dividir a classe operária.”
Karl Kautsky in "A Conquista do Poder Político"

Posso dizer que tenho simpatias pelo PSOL. De todos os partidos que aí estão, creio ser o melhor.
Mas, simplesmente não acredito em saídas dentro do próprio sistema. O texto acima (de Kautsky), exemplifica bem o que penso.
Quando vocês estão dentro de um Legislativo corrompido estão convivendo com a podridão do sistema e de todo o esquema articulado.
Quais são os planos para o PSOL, caso venha a ser um partido majoritário dentro do sistema vigente e não cair nos mesmos erros do PT?
Att.
João Carlos Olivieri
Rio de Janeiro – RJ, 17/04/2008

5. Isaac Deutscher defendia a tese de que uma filiação partidária seria nociva a sua independência de pensamento como historiador. Apesar de trotsquista declarado, Deutscher nunca filiou-se a nenhuma agremiação partidária.

5 comentários:

André Setaro disse...

O partido que se coliga tendo em vista o processo eleitoral perde a sua pureza inicial. É o caso do PSOL.
Mas incrível como as fabulosas galinhas possuem o poder de lhe acordar.

Jonga Olivieri disse...

No meu caso tem sido a nossa gatinha, que pede comida cedo.
Mas você, quando cheguei ao computador, já havia postado no Twitter sobre o seu artigo de hoje em seu blogue.

Quanto a partidos, como disse na carta de 2008 --citando Kautsky--, não acredito (mesmo) que estando inserido e aceito no e pelo "sistema" um partido possa ser independente e isento dessas falcatruas que há por aí.

Joelma disse...

Muito correto o seu posicionamento porque mebasado num ponto de vista irrefutável que é "a possibilidade de um partido operário formar, em tempo normal, com os partidos burgueses, um governo ou um partido de governo, sem cair, em contradições insuperáveis que o farão, sem dúvida, fracassar", como diria Kautsky.
Que apesar de ser uma figura contraditória era um marxista!

Mário disse...

Excelente a sua carta ao PSOL...
Bem antes do tempo parece que já estavas a prever alguma coisa!

Mário disse...

E falare nisso, qual é a da Heloisa Helena?