domingo, 28 de outubro de 2012

Pensatas de domingo e a poética de Salvador


“(...) Eu sou um narrador da cidade que existia antes do meu nascimento e que conheci parcialmente por intermédio de jornais, livros, revistas e conversas em família. “...Usar a terceira pessoa seria repetir o que já foi escrito”, afirmou. “Para a cidade que eu conheço, sigo escrevendo na primeira pessoa”, prosseguiu. “Ademais, a condição de narrador permite que eu possa intercalar comentários. Para a cidade que conheço, continuo escrevendo na condição de observador, para dar coerência ao texto e para manter a possibilidade de comentários adicionais.”, conclui.

Isaias de Carvalho Santos Neto (1) em entrevista à Editora da Universidade Federal da Bahia, antes do lançamento de seu livro.

Isaias, o autor em foto recente
Para o lançamento do livro de Isaias “Memória urbana: poética para uma cidade”, o Teatro Castro Alves e a Editora da Universidade Federal da Bahia (EDUFBA) realizarão uma programação dupla em 31 de outubro de 2012, no Foyer do teatro, posto que também foi o convidado do “Projeto Conversas Plugadas(2), com a participação da arquiteta Naia Alban Suarez, do diretor do Teatro Castro Alves, Moacyr Gramacho, do filósofo e professor José Antônio Saja e do arquiteto e professor Chango Cordiviola. O evento terá o apoio da Secretaria de Cultura e Fundação Cultural do Estado da Bahia.


Com a esperança de que os leitores enxerguem o livro como uma possibilidade de se entender a crise pela qual passa a capital baiana, Isaias Neto reuniu, neste “Memória urbana...”, textos que atuam como um registro de sua memória acerca de Salvador. Em dez capítulos, a obra forma um painel de Salvador no período localizado entre os anos 1910/70, onde o autor lança um olhar sentimental sobre a cidade, construído essencialmente a partir de memórias de família, de suas experiências pessoais e de observações profissionais.
“Destaco os anos 20 e 30, com as primeiras intervenções em busca de um esboço de reforma urbana... Este e os anos 50 se mostram divisores de água, com os seguintes tópicos: o desfile dos 400 anos da cidade; a prefeitura tornando-se-se autônoma em relação ao governo estadual; a Universidade da Bahia ser fundada e ajudar a promover uma revolução cultural. É nesse ponto que está a nossa modernidade e não, como se faz pensar, nos anos 60 e 70, que produziram resultados opostos”, explica o autor, que levou dois anos e meio para produzir a sua obra. Isaías Neto acrescenta: “A Salvador de hoje está também no livro, vista de forma crítica. Não se trata de revelar diferenças, trata-se de ver o que há hoje como um equívoco cujo resultado é outra cidade, outra estrutura, outra dinâmica”. Enfatiza...

Na foto, Isaias (1ª criança à direita), minha avó, Marieta Alves (3ª à dir.) e meu
avô, Carlos Alves, (penúltimo à esq.), entre tias e parentes das duas famílias


Ficam, para mim, as recordações de um primo, que, para alem de inteligente, sempre foi um indivíduo sensível e observador. Isaias, com quem tenho contato desde minha infância na Bahia, e que tambem, quando estudante em internato na cidade de São João Del Rey (MG), passou alguns períodos de férias em Três Rios (RJ), onde morei dos seis aos nove anos de idade.
Comecei a ler o livro ontem e já avancei alguns capítulos, em leitura saborosa; hoje, por acaso acompanhada de um delicioso “acarajé” – autenticamente baiano – adquirido na praça aqui perto de casa, no bairro de Long River (3)... As recordações da “Roça”, casa da família Carvalho Santos adquirida por meu tio-avô Isaias (seu pai) na Ladeira do Acupe, em Brotas são para mim memoráveis, pois até hoje me recordo tão bem dos (admiráveis) primos mais velhos reunidos “em torno do rádio para ouvir com sotaque familiar baiano e tomar conhecimento das novidades esportivas com notícias entremeadas por propaganda da cerveja Brahma...” (4).


Fartamente documentado com fotos de Salvador de amigos, colegas e das famílias a que Isaias pertence, o livro é muito rico, possibilitando uma compreensão embasada das condições histórica, social e urbana da velha Soterópolis (5).


1. Isaias de Carvalho Santos Neto é arquiteto, graduado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal da Bahia (UFBa), onde lecionou por 20 anos. É mestre em Ciências Sociais pela Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFBA e doutor em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo (USP). Integrou, por cerca de dez anos, o quadro de docentes da Escola de Administração da UFBA. 
  
2. O “Projeto Conversa Plugadas”, foi desenvolvido pelo Teatro Castro Alves (Salvador – BA) a partir de 2007 com o objetivo de reunir profissionais de destaque no cenário artístico para uma troca de experiências com o corpo técnico do TCA e o público em geral.
  
3. Como costumo chamar o bairro do Rio Comprido, Rio de Janeiro, Brasil, of course!
  
4. Página 22 parágrafo primeiro.
  
5. Os habitantes de Salvador são chamados de soteropolitanos, gentílico criado a partir da tradução do nome da cidade para o grego Soterópolis, ou seja, "cidade do Salvador", composto de Σωτήρ ("salvador") e πόλις ("cidade").
  
Informações obtidas em sites da UFBa e Teatro Castro Alves.

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Informação Importante:
O livro será distribuído nas livrarias da Travessa e Cultura
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11 comentários:

André Setaro disse...

Isaias foi meu professor no Mestrado de Artes Visuais na Escola de Belas Artes da Ufba. Não sabia que era seu parente. Sujeito culto, simpático, gostava de suas aulas. Seu livro faz parte do resgate da memória baiana, que cada dia fica desprezada pela apatia da contemporaneidade. Atualmente as pessoas somente se interessam pela presente do indicativo.

Jonga Olivieri disse...

Neto, como lhe chamava sua mãe, tia Mariá... Isaizito é, no entanto, o seu apelido familiar; é um primo de 1º grau de minha mãe, pois é filho de Isaias, irmão de minha avó Marieta.
Trata-se de uma excelente figura. Divertido, culto e simples. Fiquei na casa de meu tio antes de seguir para a fazenda de nosso primo Newton, naquele (já distante) 1966 em que estive por aí e rodopiávamos a subir e descer ladeiras atrás de filmes na Baixa do Sapateiro ou na Cidade Alta...
Batí longos papos com ele, ainda solteiro a morar com os pais, e, estudante de arquitetura, contava-me os casos da faculdade. Já nesta época meu tio havia se mudado de Brotas para o Campo Grande num apartamento com uma vista deslumbrante sobre a Baía de Todos os Santos... Um crepúsculo indescritível que só a Bahia tem...
Mas é isso aí, André, surpreendeu-me você não se lembrar que era meu parente.

Jonga Olivieri disse...

Recebi o 'e-mail' abaixo de minha sobrinha Laura, e sinto-me no direito de reproduzí-lo aqui:

"Bacana! eu quero um exemplar desse livro. Vi em mãos o de tia Stela e amei... como trabalho com memória social e fiz aquele registro de vovó e vovô, super me interessou..."

Joelma disse...

Deve ser, pelo que li nesta sua postagem, um livro muito interessante.
Será que vão colocá-lo à venda nas livrarias?

Jonga Olivieri disse...

Acabei de perguntar a ele sobre isto. Aguardo sua resposta.

Por enquanto as informações estão em: http://www.edufba.ufba.br/2012/10/edufba-apresenta-o-livro-memoria-urbana-poetica-para-uma-cidade-de-isaias-de-carvalho-santos-neto-no-conversas-plugadas/

André Setaro disse...

Onde posso e encontrar o livro para comprar, Hulot!

Jonga Olivieri disse...

A quem interessar possa: "o livro será vendido em Salvador pela livraria da editora, disponível www.edufba.ufba.br".

Segundo informação do autor...

Nun'Alvares disse...

Muito "fixe"! Este teu primo regista dados sobre uma cidade de que gosto imenso.
Pena que (de facto) hoje é uma das mais violentas aí neste 'Encanto Tropical'.

Jonga Olivieri disse...

Acabei de postar na própria matéria:

INFORMAÇÃO IMPORTANTE:
O livro será distribuído na Livraria da Travessa e na Cultura

Mário disse...

Por motivos de ausência (sem laptop), não a li sua "Pensata" ontem.
Mas pelo que vejo foi até bom porque a primeira coisa que viria à minha cabeça seria: onde posso compar este livro?
Já tenho a resposta!

Anônimo disse...

Olá Senhor,

Primeiramente gostaria de parabeniza lo pelo seu blog, muito bom.
Vi que o senhor é neto da grande historiadora Marieta Alves, gostaria de uma informação se possível for, andei um artigo de sua avó onde ela cita um livro que eu venho procurando ha muito tempo e nunca encontrei, provavelmente deveria pertencer a seu acervo pessoal(o pequeno livro em questão data do seculo 19), o senhor saberia informar se o acervo pessoal de sua avó foi doado para alguma instituição aqui na Bahia? Desde já agradeço. Igor