sexta-feira, 23 de novembro de 2012

A boa notícia é que Romney perdeu, a má é que Obama ganhou




Jorge Vital de Brito Moreira

Depois da eleição presidencial de 2012 nos EUA, parte da esquerda estadunidense (a que não se deixou manipular pelo discurso demagógico do presidente Barack Obama e seus partidários democratas), começou a expressar sua crítica não somente ao resultado da eleição como à sua própria forma antidemocrática, monopolizada por dois partidos. Como podemos observar, o título deste ensaio é semelhante ao slogan brasileiro “se correr o bicho pega, se ficar o bicho come” e indica a profunda desilusão, da referida esquerda, com o resultado eleitoral.

Nas campanhas dos candidatos republicano e democrata de 2012 foram gastos, conjuntamente, mais de seis bilhões de dólares: uma escandalosa quantidade de dinheiro que colocou a eleição presidencial deste ano como a mais cara da história dos Estados Unidos.
É assombroso que isso tenha acontecido num país afogado por uma dívida externa atual de 16,4 trilhões de dólares e pela esmagadora crise econômico social, onde dezenas de milhões de pessoas ficaram desempregadas e outras dezenas de milhões perderam suas residências (casas, apartamentos, condomínios) por não poderem pagar as prestações mensais.
Os recentes dados oficiais mostram que a desigualdade econômico/social existente nos Estados Unidos continuou ampliando-se durante o ano passado. De acordo com os dados do Censo (United States Census Bureau), os estadunidenses mais ricos aumentaram sua participação na riqueza total em 4,9 por cento, enquanto o ingresso médio chegou ao seu nível mais baixo, desde 1995. Os dados atuais revelam que 46,2 milhões de estadunidenses vivem na pobreza.
Gastar seis bilhões de dólares nas campanhas de dois candidatos num país com o número de 46,2 milhões de pobres é indicio da obscenidade moral e da decadência ética e política dos candidatos presidenciais da nação estadunidense.

É chocante que na eleição presidencial mais cara da história, a pobreza tenha raramente sido mencionada nas campanhas de ambos os candidatos. O mesmo poderia ser dito a respeito da dívida externa de 16,4 trilhões de dólares.
Isso é especialmente assustador, num período em que os dados mostram que de cada seis americanos, um é pobre; que o país tem mais de 16 milhões de crianças vivendo na pobreza; que as taxas de pobreza dos negros e latinos são duas vezes maiores que entre os brancos; que há maior pobreza entre as mulheres do que entre os homens; e que a taxa de mulheres que vivem na pobreza extrema atingiu níveis recordes.
O estudo, divulgado pelo grupo de vigilância da mídia estadunidense, FAIR (Fairness and Accuracy in Reporting), revela que a pobreza como um problema estadunidense, foi quase invisível na cobertura da mídia sobre a corrida presidencial de 2012. O estudo constatou que das 10.489 histórias de campanha eleitoral (pesquisadas pela FAIR), apenas 17 das histórias (isto é, 0,2 por cento) abordaram o problema da pobreza de uma forma que se poderia classificar de séria.
A maior decepção, entre os críticos simpatizantes, é que em 2008, o presidente Barack Obama foi visto e propagandeado como o candidato anti pobreza, mas na sua reeleição em 2012, quatro anos depois, ele mal mencionou essa pobreza, apesar do número de pobres e a dívida externa do país terem subido durante o seu governo.

Uma posição de maior lucidez, provem de intelectuais não simpatizantes, tais como, Noam Chomsky, James Petras, Cornel West, Tavis Smiley, cujas críticas ao governo Obama têm sido arrasadoras.
O caso do professor negro Cornel West (que em 2008 apoiou incondicionalmente a campanha de Obama), é exemplar: indignado pela demagogia e manipulação do atual presidente, ele rompeu as relações com o ocupante da Casa Branca e se transformou num dos mais ferozes críticos do presidente.
Desde o rompimento, o professor Cornel West vem dando entrevistas em jornais e canais de TVs estadunidenses contra o governo do presidente. Nelas, ele tem exposto as razões porque abandonou a equipe de Barak Obama e tem denunciado reiteradamente a aliança de Obama com os plutocratas de Wall Street, chegando a dizer que “Obama is a black mascot of Wall Street oligarchs and a black puppet of corporate plutocrats” (“Obama é a mascote negra dos oligarcas de Wall Street e a negra marionete dos plutocratas corporativos”).
Cornel West, Noam Chomsky e James Petras, também vêm denunciando as guerras criminosas dos EUA no Oriente Médio, devido à submissão do governo Obama aos interesses geopolíticos do governo de Israel e da AIPAC (o lobby sionista de maior poder nos EUA), que está bem acostumada a subornar quase toda a classe política estadunidense. Se os leitores estiverem interessados em obter mais informação sobre o poderoso papel da AIPAC na determinação da política externa americana, vejam o link do vídeo que se encontra no Youtube, intitulado “AIPAC-What Every American Should Know” (AIPAC- O que todo americano deve saber”):

Se dispõem de tempo, leiam também o livro, The Israel Lobby and U.S. Foreign Policy de John Mearsheimer e Stephen Walt que é atualmente uma das fontes de informação mais autorizadas sobre o papel da AIPAC nos governos dos EUA.
Atualmente (novembro de 2012), na transição do primeiro para o segundo período presidencial do governo Barack Obama, o estado de Israel e suas forças armadas estão executando, mais uma vez, uma brutal e criminosa ofensiva contra os Palestinos, com a cumplicidade dos EUA.
Não podemos esquecer que o próximo 27 de dezembro de 2012, marcará o quarto ano da “Operação Chumbo Fundido”, a ofensiva genocida de Israel contra a Faixa de Gaza. Durante 22 dias de ataques implacáveis por terra e por ar, mais de 1.400 moradores de Gaza, a maioria civis, foram assassinadas pelo estado de Israel. O "Relatório de Goldstone" das Nações Unidas, descreveu os assassinatos de palestinos, como crimes de guerra e crimes contra a humanidade por parte de Israel. E não podemos esquecer que estes crimes de Israel se iniciaram em 2008, entre 27 de dezembro  a 18 de janeiro, dois dias antes do início oficial do primeiro governo de Barack Obama.
Quase quatro anos depois, nada mudou: graças a cumplicidade dos EUA, o estado e governo de Israel continuam impunes. E a região de Gaza permanece em ruínas. Por que? Porque a comunidade internacional tem medo de enfrentar e punir os crimes de guerra do Estado de Israel.
Israel em contrapartida, apoia incondicionalmente, as políticas genocidas dos EUA contra os povos do terceiro mundo. Recentemente, pela 16ª vez, a comunidade internacional condenou na Assembléia Geral da ONU, o bloqueio dos Estados Unidos contra Cuba: 184 países votaram a favor de colocar um final nessa política criminosa dos EUA. Logicamente, os Estados Unidos e Israel, votaram contra suspender o bloqueio. Pela vontade política unilateral e extremista destas duas nações anti-democráticas e imperialistas, nada muda, nem mudará.

Apesar dos seus poderosos recursos e da suposta autoridade moral, as Nações Unidas e várias organizações humanitárias internacionais não oferecem tão pouco mais do que retórica aos palestinos.
Desta forma, a impunidade de Israel, a cumplicidade dos EUA (e dos países europeus), e a passividade das Nações Unidas, são as três realidades ético políticas responsáveis por Israel continuar matando Palestinos em Gaza.
E neste segundo período do governo de Barack Obama, existe pouquíssima esperança que alguma coisa mudará na política da Casa Branca para os pobres estadunidenses ou para os países pobres do terceiro mundo.

Assim, o título deste texto, descreve, na opinião da esquerda estadunidense, o julgamento do passado, do presente e do provável futuro político dos EUA: “A boa notícia é que Romney perdeu, a má notícia é que Obama ganhou”.


4 comentários:

Joelma disse...

O Professor Jorge Moreira sempre nos trazendo revelações surpreendentes.
Continue, Professor, você tem escrito pouco e sempre acrescenta muito!

Mário disse...

Muito boa matéria!

Misael de Silva Costa disse...

Realmente esta matéria do Professor Moreira resume a opinião da esquerda dos EUA no julgamento do passado, do presente e de um provável futuro político naquele país.

Anônimo disse...

O que nós vemos, em relatórios como o do Committee for a Responsible Federal Budget (Comitê por um Orçamento Federal Responsável), é um espetáculo de contorcionismo.
Bom, há uma maneira muito simples de sustentar que um déficit fiscal gigantesco é ruim, mas sua redução no longo prazo é boa – a saber, argumentando que não se deve cortar o déficit quando a economia está em crise e o país se encontra numa armadilha de liquidez, impedindo que a expansão monetária sirva de contrapeso à contração fiscal.
Tavim