domingo, 18 de novembro de 2012

Pensatas de domingo e o cenário teatral


Publiquei esta postagem em “Casos” da Propaganda. Mas tambem acho ser um bom motivo para uma pensata...
 
Uma conhecida me chamou para criar e executar o cenário de uma peça de teatro amador. Confesso que fiquei muito feliz com isso. Afinal, aposentado, estou a deixar a publicidade, tendo apenas dois clientes que mantenho quase que por diletantismo e, no momento, dedico-me à pintura; ramo em que, aliás, venho obtendo bons resultados.
Arregacei as mangas, baseado em uma ideia, que, se não for inédita, pelo menos a considerei bastante original. E parti para as ruas atrás de materiais, lojas e fabricantes de produtos que se adequassem ao cenário por mim pensado.
Aproveitando para falar da ideia: pensei em um fundo de palco branco com os cenários (eram dois ambientes) desenhados em preto e posteriormente plotados. Passei em três gráficas rápidas até conseguir o melhor preço.
 

Exemplo (simplificado) para o cenário
Depois foram os blocos (tipo puf) que serviam de assentos e ao mesmo tempo, remanejados, formariam as mesas do ambiente. Inicialmente, pensara em madeira, porem nem cheguei a orçar porque sabia que é caríssima. Fiz os orçamentos em caixas de papelão que, segundo o fornecedor aguentariam o peso de um adulto sentado. Bom, pelo menos eu (92 quilos), sentei, mexi pra lá e pra cá, e me pareceram confiáveis. Alem do mais eram dobráveis e fáceis de guardar por ficarem planos.
Não conformado, cheguei a uma descoberta ao pesquisar no Google: blocos de Isopor. Fui na loja –na Praça Tiradentes–, e os achei muito resistentes ao peso, e, apesar de não serem quadrados eram possíveis de serem usados.
Havia ainda a pintura desses acessórios. Optei pelo “Pó Xadrez”, que misturado à água torna-se semelhante à tinta acrílica e eram bem mais em conta. Rolinhos para a pintura dos cubos completavam o material para a confecção do cenário.

Resumo da ópera, os custos ficaram em:
Total com caixas de papelão: R$ 3.344,40 (três mil, trezentos e quarenta e quatro reais e quarenta centavos).
Total com cubos de isopor: R$ 4.790,40 (três mil, trezentos e quarenta e quatro reais e quarenta centavos).


                                Os cubos coloridos
Em reunião com a cliente, ela achou muito caro e fora de seu budget. Como não havíamos falado (até então) em verba, parti para um novo levantamento de materiais tentando reduzir para os R$ 500,00 (quinhentos reais) que ela fixou como limite. Um desafio, mas a minha vida em publicidade sempre esteve marcada por clientes com pouca verba... E como ganhei prêmios com anúncios e campanhas com soluções criativas, porém baratas. Os anúncios Alltype (1) foram um exemplo disto!
  
Fui à luta! 
  
A primeira coisa que pensei foi em fazer os fundos de palco pintados com a mesma tinta “Pó Xadrez”, mas no caso apenas pretas. Ao custo de R$ 6,50 cada caixa, a coisa já ia ficar mais barata aí. Alem disso, orcei estes painéis em gorgurão e plástico. O plástico ganhou disparado. Os dois painéis pintados ficariam em R$ 226,80 (duzentos e vinte e seis reais e oitenta centavos), contra os R$ 3.120,00 (três mil, cento e vinte reais) da plotagem.
Rolinhos e tintas eram baratinhos e pouco mudaram no montante. Precisaria alugar um Retroprojetor para ampliar os desenhos, mas o aluguel tambem pouco somava no total. O resultado é que o preço caiu para R$ 340,90 (trezentos e quarenta reais e noventa centavos). Mamão com açúcar. O total ficou abaixo do budget...

Infelizmente a cliente resolveu não concretizar o trabalho. Por e-mail, comunicou-me a decisão de desistir do projeto. Fiquei a pensar se não gostou. Mas nas reuniões que fizemos ela não havia manifestado isto, somente se fixando na questão dos custos, não tendo em momento algum se oposto ou criticado a ideia. Quem sabe apareceu um outro cenógrafo com mais know how na área? Ou ainda como disse a Jackie em comentário no blogue “Casos” da Propaganda: “(...) Será que ela entendeu?”
  
De qualquer maneira registrei os cenários na 6ª feira, e aproveito esta postagem para anunciar que este projeto está à disposição de quem queira comprá-lo (2). Podemos negociar, certo?

1. Anúncios em que se usavam apenas letras, evitando as fotos, muito caras na época.

2. Detalhe: como era um grupo amador não estava a cobrar nada do meu trabalho...




7 comentários:

Joelma disse...

Eu hein! Atitude estranha e hesitante. Realmente um motivo para pensar (pensata) e refletir um pouco sobre sutilezas do comportamento humano.
E digo isto porque sou psicanalista!

Misael de Silva Costa disse...

Concordo com a dra. Joelma. Há "sutilezas" estranhíssimas e mal contadas por trás disso tudo!
Afinal de contas o cenário é muito bom!

Ana Paula Duarte disse...

Até parece que você esaqueceu os tempos de publicidade, amigo!
Quantas campanhas excelentes acabaram no lixo? Eu perdi a conta!
Neste caso, quem sabe, você consegue revender a idéia?

Jonga Olivieri disse...

Você me lembrou, que uma das melhores campanhas que fiz, acabou recusada pelo “Banco Nacional”; apesar de termos produzido três comerciais básicos como exemplo, peitados prela Produtora.
Tenho até isto contado numa postagem no blogue “Casos” da Propaganda.
A ideia era valorizar o banco (nos seus 35 anos de existência) como grande apoiador cultural, pois, afinal o “Nacional” apoiara muitos filmes – inclusive do Cinema Novo –, o esporte e inúmeras peças teatrais.
Resumo da ópera: filmamos depoimentos com Nelson Rodrigues, Grande Otelo e João Saldanha. Os filmes ficaram “ducacete”, mas o cliente preferiu fazer uma “colcha de retalhos” de velhos comerciais. Todos bons (como do impagável gerente “José”, intepretado pelo Zacarias, o do lançamento do cartão Nacional, o primeiro com “retrato do dono” e outros) mas virou um ‘mélange’ meio sem pé nem cabeça porque eram pedacinhos sem nexo.

Jonga Olivieri disse...

Alguns anos depois fiquei sabendo que foi por pura medida de economia. O "Banco Nacional" já começava a decair...
E poucos anos depois, incorporou-se à "União de Bancos Brasileiros", que posteriormente batizou-se de "Unibanco".

Mário disse...

Acontece, cara, acontece! O que importa é que o seu trabalho é muito bom. Sem dúvida nenhuma!

Anônimo disse...

Que absurdo!
Otávio (Tavim)