terça-feira, 27 de novembro de 2012

Tempo de cinemas



O cine Palácio sobreviveu até uns cinco anos atrás...

Meu primo, o Professor André Setaro (1), para além de ser um dos maiores conhecedores de cinema deste país, tem opiniões e comentários interessantes sobre o tema. Ou melhor dizendo, sobre os temas... Pode parecer confuso, mas refiro-me a cinema como expressão da chamada 7ª Arte, como tambem cinema: a sala de exibição.
André tem por hábito comentar o quanto os cinemarks da vida são parecidos. No que ele tem toda razão. Os cinemas do Shopping Leblon são iguaizinhos aos seus similares na Tijuca. Apesar de serem de redes diferentes, mas a verdade é que são muito semelhantes. Daí fica difícil memorizar onde se viu um determinado filme.
  
Porem, houve um tempo em que os cinemas eram muito diferentes um do outro. Não se confundia o Roxy com o São Luis, apesar de serem ambos de Luis Severiano Ribeiro. Ou os Brunis... Por exemplo, o Bruni Flamengo era totalmente diferente do Bruni Ipanema, que por seu lado não tinha nada a ver com o Bruni Copacabana.
Daí, ficava mais fácil lembrar onde se viu um determinado filme. E isto, em nossas memórias, perdura através dos tempos. Lembro que assisti “Os 10 Mandamentos” no Ópera. E isso quando eu tinha uns 13 pra 14 anos. E “A Volta ao Mundo em 80 Dias”? Vi no Vitória; “Cinzas e Diamantes” no Paissandú... “2001, Uma Odisséia no Espaço”, claro que no Roxy. Todos os filmes do Elvis Presley e Tarzan no Metro Copacabana, ou “A Doce Vida” no Art-Palácio, tambem Copacabana.
  
Se fosse continuar enumerando aqui encheria duas laudas com essas recordações. Todas de minha infância (“Pinóquio” no Astória), préadolescência, adolescência ou início da fase adulta, admito, já bem longínquas.
De alguns anos pra cá, já ficou meio difícil lembrar onde vi este ou aquele filme. Pelo simples fato que as salas de exibição são clones umas da outras. E o pior, dos cinemas de rua, sobram apenas o Odeon, o Roxy e o Leblon. Bom, pode até haver algum em local mais distante, mas esse eu nem conheço...
  
Concluindo: houve um “tempo de cinemas” marcantes e diferenciados. Salas gigantescas como o São Luis, no Largo do Machado e o Olinda na Tijuca. Ou muito pequenas, como o Alvorada, no Posto Seis. Elas faziam a diferença.

1. André é professor de cinema na UFBa, crítico da Tribuna da Bahia e escreve semanalmente sobre cinema no Terra Magazine e em outras publicações na web, tendo tambem um blogue, o "Setaro's Blog" (link ao lado).

 

6 comentários:

André Setaro disse...

Obrigado pela referência. O cinema, hoje, como casa-de-espétáculo, não existe mais. Repito sempre o que 'ir ao cinema' atualmente é uma extensão do 'shoppear'. Vai-se não ao cinema, mas ao shopping. Cada cinema tinha a sua arquitetura, a sua atmosfera, o seu clima específico, que influiam na psicologia da recepção da obra cinematográfica. A 'ladeira' do Capri em Salvador que conduzia à plateia, por exemplo, é exemplar, que se assemelhava a uma coreografia caligaresca. O cheiro do ar condicionado do Guarany era específico como uma 'madeleine' proustiana. Tudo isso acabou. Boa, esta postagem, muito pertinente.

Joelma disse...

Cinemas tiveram o seu tempo. Sem pipocas e outras modas importadas!
E você por falar nisso, já reparou como aqueles orifícios nas poltronas para colocar baldes (e baldões) de popcorns incomodam e prejudicam o nosso conforto?

Mário disse...

Ai que saudade dos amplos cinemas do Rio de Janeiro. Ia muito ao Rian porque morava pertinho.
E era um privilégio um cinema em frente à praia de Copacabana!

Misael de Silva Costa disse...

São mesmo muito parecidas (embora confortáveis) as novas salas da era cine-shopping.

Castelar disse...

As teorias do André Setaro são interessantes;

Manuel Pinto disse...

Infelizmente o cinema hoje é um bom "Home Teather" em casa.
Qual a diferença? As exibições são cada vez mais digitalizadas.
E o cinema (sala de exibição) perdeu aquele seu glamour!