quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

O pensamento de esquerda no paraíso da direita


Quando iniciei minha formação marxista (em 1964), o primeiro livro que me caiu às mãos foi “A História da Riqueza do Homem” de autoria de Leo Huberman (1903/1968), um respeitável pensador Materialista Histórico de origem estadunidense.
Publicado no Brasil pela excelente Editora Zahar transformou-se, naqueles duros e tenebrosos anos 1960, em um dos livros mais vendidos do tema “história econômico-social” neste país.
Para alem deste, Huberman tambem teve o seu “Nós o Povo. O Drama da América” igualmente lançado pela mesma Zahar. Este contando a história dos EUA a partir de um ponto de vista marxista.
Para alem disso, Leo Huberman em sociedade com Paul Sweezy e Paul Baran, foram os responsáveis pelo lançamento (em 1949) da mais importante publicação nos EUA, de orientação marxista, a Monthly Review. Como a publicação continuou mesmo após as suas mortes, foi considerada a revista socialista por mais tempo publicada nos Estados Unidos.
Desde a sua primeira edição, Monthly Review atacou a premissa de que o capitalismo seria capaz de um crescimento infinito, através da visão keynesiana. Ao invéz disso, os editores da revista e os principais escritores permaneceram fieis à tradicional perspectiva marxista de que as economias capitalistas continham contradições internas que acabariam por levar ao deu colapso e a uma nova fase socialista.
Temas de interesse editorial incluíam a pobreza, o racismo, o imperialismo nas relações entre países economicamente desenvolvidos e menos desenvolvidos, e ineficiências na produção e distribuição, consideradas endêmicas ao sistema capitalista.
Huberman e Sweezy argumentaram, já em 1952, que os gastos militares maciços e em expansão eram parte integrante do processo de estabilização capitalista, gerando lucros corporativos, aumentando os níveis de emprego e absorvendo a produção excedente. A ilusão de uma ameaça militar externa era necessária para sustentar esse sistema de prioridades nos gastos do governo, argumentaram eles; em consequência, os editores tentaram desafiar o paradigma dominante da Guerra Fria de "Democracia versus Comunismo" no material publicado na revista..
Em sua linha editorial Monthly Review ofereceu apoio crítico à URSS durante seus primeiros anos, embora ao longo do tempo a revista tenha se tornado cada vez mais crítica da proposta Soviética para a construção do “socialismo em um só país” e a “coexistência pacífica” vendo o país como desempenhando um papel mais ou menos conservador em um Mundo marcado por movimentos revolucionários nacionais.
Resenha mensal, manteve-se fiel a uma orientação independente ao longo de sua história e nunca alinhou-se com qualquer movimento  ou organização política específica. Muitos de seus artigos foram escritos por acadêmicos, jornalistas e intelectuais independentes, entre outros: Isabel Allede, Jean-Paul Sartre, Eric Hobsbawn, Daniel Singer, Raymond Williams, Tariq Ali, Marilyn Buck, Samir Amin, Andre Gunder Frank, Eduardo Galean, Che Guevara, Barbara Ehrenreich, Michael Klare, Julian Bond, Saul Landau, Michael Parenti e Adrianne Rich.
Além da revista com sede em Nova Iorque, há outras sete edições irmã da Monthly Review, publicados na Grécia; Peru; Espanha; Coreia do Sul; Bem como edições separadas em inglês, hindi e bengali na Índia.
A Editora Monthly Review Press, foi lançada em 1951 em resposta à incapacidade do dissidente de esquerda (jornalista I. F. Stone) encontrar uma editora para seu livro “A História Secreta da Guerra da Coréia”. O trabalho argumentava que aquela guerra, então em curso, não era um caso de uma simples agressão militar, mas o produto do isolamento político, escalada militar sul-coreana, e provocações de fronteira, tornando-se o primeiro título oferecido pela editora, em 1952.
Títulos publicados pela imprensa em seus anos de formação incluem: “O Império do Óleo” de Harvey O’Connor (1955), “A Economia Política do Crescimento” de Paul Baran (1957), “Os Estados Unidos, Cuba e Castro” do historiador William Appleman Williams  (1963), “O Capital Monopolista”  de Paul Baran e Paul Sweezy  (1966), a tradução em Inglês de “Veias Abertas da América Latina” de Eduaro Galeano (1973),  “Desenvolvimento Desigual” (1976) e “Eurocentrismo” (1989) de Samir Amin.
Harry Braverman (autor de “Trabalho e Capital Monopolista”) tornou-se diretor da Monthly Review Press em 1967. O atual diretor da Press é Michael D. Yates (autor de “Nomear o Sistema”).
Nos anos posteriores, Monthly Review Press publicou títulos como: “Ecologia de Marx” de John Bellamy Foster; “Discurso Sobre o Colonialismo” de Aimé Césaire; “A grande crise financeira"  de Fred Magdoff e John Bellamy Foster/. M.R. Press é também a editora estadunidense associada à The Socialist Register, uma série anual de ensaios tópicos escritos por acadêmicos e ativistas de esquerda.


Um comentário:

Joelma disse...

Desculpe querido. perdoa esta sua amiga enlouquecida pelo "cio" e pela total falta de tempo físico neste mundo doidamente consumista.
Mas, agora falando sério: está excepcionalmente bom este seu ensaio sobre o melhor do pensamento de esquerda naquele "shit country"
PA-RA-BÉNS....