O Aurura |
O furacão que assola Brasília, e
porque não dizer, todo o Brasil, e está nos enojando a todos, pelo cinismo e
calhordice levou-me a outro prisma e enfoque nesta pensata de hoje. Resolvi
esquecer um pouco o comentário político sobre o pesadelo real por que passa o
país e recordar-me de passagens do passado que valham a pena serem contadas.
Sem cair na alienação, preferi este comportamento e postura escapista. E tenho
dito!
Corria o ano de 1958... ou seria
1957? Não importa, era por ali. Aliás, os anos daquela década foram marcantes
para mim e trazem boas recordações. Nestes anos, ia muito à casa de minha
madrinha, tia Celina(1), que morava perto de onde morávamos. Com a vantagem de
ser bem maior. Era uma casa de pedras e dois andares. Lá, tinha dois primos e
uma prima mais velhos. Alem disso, uma ampla área em torno e o Corcovado bem em
cima. Uma passagem do quarto de empregadas (que ficava acima da garagem) para a
casa através de uma ponte... e aquilo eu achava um barato!
O fato é que a casa de tia Celina
sempre me traz muitas boas recordações. Havia uma enciclopédia, que não me
recordo qual, mas na qual lia e via imagens da história como Henrique VIII e
Napoleão Bonaparte, as pirâmides do Egito ou a Muralha da China num tempo em
que era difícil conseguir tudo isto.
E o elevador para roupa suja? Uma
vez entrei e desci nele e levei um “carão” daqueles... no quarto do casal,
havia um jacaré empalhado que tinha sido caçado por tio Heitor, o marido dela. Era
mesmo uma viagem! E saindo daquele quarto, me deparava com uma larga varanda em
“ele” que ia até o quarto da minha prima. Nela, eu e minha irmã corríamos e deslizávamos
em seu chão. E adorávamos fazer isso.
Quando podia, chegava na hora do
almoço só pra filar a boia, que era muito boa! Bem, na pior das hipóteses, pelo
menos a sobremesa eu pegava. Hmmm!
E numa dessas
vezes ainda presenciei o tio Heitor sair do escritório a tocar seu violino
afinadamente, executando um trecho de algum clássico que, infelizmente não me
lembro mais qual. Porque aquele tio era de uma cultura sem par, falando,
escrevendo e lendo oito línguas. Nos 30 anos seguintes, em que ainda convivi
com ele tinha grande prazer em conversar (e aprender) com sua vasta cultura. Autor
de muitos livros, me orgulho de ter sido autor de duas capas de seus escritos.
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Dez anos
depois fui trabalhar em São Paulo, numa época conturbada em que corria meu processo
na 2ª Auditoria da Aeronáutica e eu precisava me resguardar um pouquinho longe
dos milicos e do Rio de Janeiro.
Fui de carro com
tio Fernando, irmão caçula de minha mãe e uma figura divertida de se conviver. Quando
chegamos em Sampa, ainda me lembro muito bem, fomos lanchar no “Salada Paulista”,
um bar que existia na avenida Ipiranga, quase em frente à praça da República, e
que era muito curioso porque constituía-se num grande balcão alto em formato de
“U”. e tambem não esqueço que nele comi dois saborosos salsichões com chucrutes
muito bem acompanhados de um chope geladão. Eita São Paulo de boas lembranças!
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Agora, quando
me lembro de bar, me vem à cabeça o Aurora --dos bons tempos(2)—, que existe
até hoje, mas eu garanto que o antigo, apesar de mais bagunçado era muito
melhor.
Quando trabalhava
na saudosa L&M, a turma toda religiosamente estava lá às sextas feiras. Era
uma farra só. O Favilla, redator que era meu dupla e eu sempre levávamos um joguinho
de xadrez para passar o tempo enquanto esperávamos os demais. Como o Aurora não
tinha horário para fechar a turma saia tarde... tudo bebum, claro.
Entretanto, o
Rio de Janeiro tem bares inesquecíveis em todos os níveis. Desde a Adega Pérola
ao Bar Luís passando pelo Lamas e a Pizzaria Guanabara todos teem o seu lugar
na memória de todos que os conheceram.
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1. Na verdade, minha tia avó, mas sempre a
chamei de tia.
2. Lá pelos ido de 1977...
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