Quarenta e quatro bilhões. É o quanto vale o Brasil para este
governo golpista e ilegítimo. Seu pacote de privatizações tem coragem de prever
a venda até da Casa da Moeda. Uma das instituições mais antigas e respeitadas
do país, criada ainda no Império, e hoje uma das únicas empresas do mundo a
dominar a tecnologia para a confecção não só de dinheiro, mas de passaportes e
selos fiscais. Um símbolo da soberania nacional. E isso não é tudo. O governo
pretende vender ainda o controle dos nossos recursos hídricos, com a
privatização da Eletrobras.
Apesar do
absurdo que esses dois fatos representam, o pacote de Michel Temer não para por
aí. A intenção é vender 57 empresas e serviços hoje sob controle do Estado,
muitos deles estratégicos para o Brasil. Com a privatização da Eletrobras, o governo pretende arrecadar 20 bilhões de
reais. Um troco para uma empresa que conta com 114 termelétricas, 47
hidrelétricas, 69 usinas eólicas e gera mais de 47 mil megawatts de energia.
Mais
importante do que esse serviço prestado, é o papel estratégico de regular a
geração de energia elétrica no país, principalmente se considerarmos que
praticamente toda a energia brasileira tem geração hídrica, de baixo custo de
geração e com pouco impacto ambiental.
Todos sabem
que a nova fronteira do desenvolvimento, e mesmo da manutenção do padrão
civilizatório atual, depende da geração de energia renovável, exatamente o caso
da produção brasileira. Por isso a ânsia da iniciativa privada em controlar
esse mercado. E esse governo, claro, está muito disposto a, mais uma vez,
prestar seus serviços a quem controla o capital.
A cada dia fica mais claro que não foi por acaso que se perpetrou
um golpe de Estado. O que estava em jogo naquele momento, e continua em disputa
agora, era a soberania do Brasil. É claro que o “deus mercado” não poderia
permitir que um país periférico no capitalismo continuasse a deter o controle
absoluto de suas reservas naturais – como água e petróleo – e, desta forma, fazer
frente a interesses privados poderosos.
Não por
acaso, a primeira medida aprovada após a chegada de Temer ao poder foi a
mudança do regime de exploração do pré-sal. Pelo regime de partilha, quem
decide quando e como explorar as reservas é o Estado. Claro que não poderia
continuar assim. Por isso alteraram novamente a legislação para transferir essa
decisão ao mercado. Com o regime de concessão, o governo até arrecada uma parte
do lucro, mas fica fora das decisões estratégicas a respeito da gestão de uma
de suas maiores fontes de riqueza.
E agora o
governo pretende entregar o outro bem que hoje é o mais disputado no mundo,
inclusive em guerras, o controle das nossas águas. Sim, pois a privatização da
Eletrobras nada mais significa do que entregar ao mercado a gestão dos nossos
recursos hídricos, uma vez que, como foi dito, a quase totalidade da energia consumida
no Brasil vem dos rios.
O servilismo
não tem limites. E o governo quer repassar também o controle do nosso espaço
aéreo. Parece inacreditável. O pacote de privatizações prevê a concessão à
inciativa privada do Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea). Em
qualquer lugar do mundo, o controle do espaço aéreo é considerado item sagrado
da soberania. Por isso, não basta vender os aeroportos, inclusive os mais
lucrativos, até porque está claro que não é disso que se trata, é preciso
vender tudo que resta da nossa soberania.
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