segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

Combater a barbárie é encontrar a história real da raça humana


A sociedade está em constante mudança. A história tenta catalogar e explicar estas mudanças. Mas, quais são as leis que comandam a mudança histórica? Existem estas leis? Se não existissem, a história humana seria completamente incompreensível. Contudo, os marxistas não veem a história desta maneira. Da mesma forma que a evolução da vida tem leis inerentes explicáveis, e que foram explicadas, primeiro por Darwin e, mais recentemente, pelos rápidos avanços no estudo da genética, também a evolução da sociedade humana tem suas leis inerentes e estas foram explicadas por Marx e Engels.

O marxismo sustenta que o desenvolvimento da sociedade humana ao longo de milhões de anos representa o progresso, mas este nunca seguiu uma linha reta, como equivocadamente acreditavam os vitorianos (que tinham uma visão vulgar e antidialética da evolução). A premissa básica do materialismo histórico é que a fonte decisiva do desenvolvimento humano é o desenvolvimento das forças produtivas. Esta é a conclusão mais importante, porque é a única que nos pode permitir chegar a uma concepção científica da história.

Antes de Marx e Engels, a história para a maioria das pessoas era uma série de acontecimentos desconectados ou, para usar um termo filosófico, “acidentes”. Não havia uma explicação geral para este processo porque supostamente a história não tinha leis internas. Uma vez que se aceite este ponto de vista, a única força motriz dos acontecimentos históricos é o papel do indivíduo, os “grandes homens” (ou mulheres). Em outras palavras, caímos numa visão idealista e subjetiva do processo histórico. Este era o ponto de vista dos socialistas utópicos, os quais, apesar de sua grande perspicácia e penetrante crítica da ordem social existente, não conseguiram compreender as leis fundamentais do desenvolvimento histórico. Para eles, o socialismo era somente uma “boa ideia”, uma ideia atemporal, válida tanto há mil anos quanto amanhã pela manhã. Se tivesse sido inventado há mil anos, a humanidade teria economizado muitos problemas!

Foram Marx e Engels os primeiros que explicaram que, basicamente, todo o desenvolvimento humano depende do desenvolvimento das forças produtivas e, deste modo, proporcionaram bases científicas ao estudo da história. A primeira condição da ciência é que sejamos capazes de ver além do particular para chegar às leis gerais. Por exemplo, os primeiros cristãos eram comunistas (ainda que seu comunismo fosse utópico, baseado no consumo e não na produção). Suas primeiras experiências com o comunismo não os levaram a nenhuma lugar, e tampouco era possível, porque o desenvolvimento das forças produtivas naquele momento não permitia o desenvolvimento de um verdadeiro comunismo.

A história humana não é uma linha ininterrupta rumo ao progresso. Ao longo da linha ascendente, existe outra linha descendente. Na história teem ocorrido períodos em que, por diferentes razões, a sociedade retrocedeu, o progresso foi detido e a civilização e a cultura foram minadas. Este foi o caso da Europa depois da queda do Império Romano, durante o período conhecido, pelo menos em inglês, como a Idade das Trevas. Recentemente, tem surgido uma tendência da parte de alguns acadêmicos de reescrever a história e apresentar os bárbaros a partir de um ponto de vista mais favorável. Isto não é “mais científico” ou “mais objetivo”, simplesmente é pueril.

Foi Marx que assinalou que havia duas possibilidades para a espécie humana: socialismo ou barbárie. A democracia formal, que os trabalhadores europeus e estadunidenses consideram como algo normal, na realidade é uma estrutura muito frágil que não duvidará de empreender o caminho à ditadura no futuro. E sob a fina camada de cultura e civilização modernas, há forças que se assemelham à pior das barbáries. Os acontecimentos nos Bálcãs nos anos 1990 são uma lembrança disto. As normas civilizadas podem-se romper facilmente e os demônios do passado podem ressurgir inclusive nas nações mais civilizadas. Sim, a história conhece uma linha ascendente e outra descendente!

A questão, portanto, coloca-se em termos absolutos. No próximo período, ou o funcionamento da sociedade, substitui o decrépito sistema capitalista por uma nova ordem social baseada na planificação harmoniosa e racional das forças produtivas e no controle consciente de homens e mulheres de sua própria vida e destino, ou enfrentaremos o espantoso espetáculo do colapso social, econômico e cultural.

Durante milhares de anos a cultura tem sido monopólio de uma minoria privilegiada, enquanto que a grande maioria da humanidade tem ficado excluída do conhecimento, da ciência, da arte e do governo. Inclusive agora isto é assim. Apesar de todas as nossas pretensões, não somos realmente civilizados. Nosso mundo não merece esse nome. É um mundo bárbaro, habitado por pessoas que não superaram ainda seu passado bárbaro. A vida ainda é uma luta cruel e implacável pela existência para a maioria do planeta, e não somente no mundo subdesenvolvido, como também nos países capitalistas desenvolvidos.

Contudo, o materialismo histórico não nos permite tirar conclusões pessimistas, pelo contrário. A tendência geral da história humana tem sido na direção de um maior desenvolvimento de nosso potencial produtivo e cultural. Os grandes acontecimentos dos últimos cem anos pela primeira vez criaram uma situação em que todos os problemas enfrentados pela humanidade podem ser resolvidos facilmente. O potencial para uma sociedade sem classes já existe em escala mundial. É necessário produzir um plano racional e harmonioso das forças produtivas para que este imenso potencial, praticamente infinito, possa ser realizado.

Sobre a base de uma revolução real da produção, seria possível conseguir tal nível de abundância que homens e mulheres já não teriam de se preocupar por suas necessidades cotidianas. As preocupações humilhantes e os temores que afligem a todos os homens e mulheres desaparecerão. Pela primeira vez, os seres humanos livres serão os donos de seu destino. Pela primeira vez, serão realmente humanos. Somente então começará a história real da raça humana.


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