quinta-feira, 7 de maio de 2009

Profeta da História

Leon Trotsky foi o maior opositor a Stalin, e à teoria do “socialismo em um só país”. Foi assassinado no México, país em que estava exilado, após ter rompido com o regime soviético liderado pelo ditador, que o mandou matar. A sua visão sobre as distorções na revolução russa, levaram Isaac Deutscher, seu maior biógrafo a denominá-lo profeta. Mas não foi apenas da URSS que fez análises. A seguir, trechos também proféticos extraídos do livro “Os Estados Unidos e a crise de 1929” escrito em julho de 1936.

“Dotados de grandes riquezas e de um aparelho produtivo altamente desenvolvido, os Estados Unidos elevaram-se no curso da guerra (1) ao nível de potência imperialista dirigente do mundo.
(...)
O imperialismo norte-americano não pode estender mais, nem sequer manter sua posição atual no mundo, sem fazer um grande corte na parte do poder mundial atualmente entre as mãos de outras potências imperialistas, sem atacar o nível de vida das massas da América Latina, da Europa e da Ásia (2), os quais explora direta ou tira proveito indiretamente.
(...)
A economia e a política dos Estados Unidos dependem das crises, das guerras e das revoluções em todas as partes do mundo. A própria dimensão do capitalismo americano e seus recursos, seu relativamente tardio aparecimento na cena mundial, o declínio geral e as perturbações características desta época do capitalismo mundial combinam-se para assegurar um ritmo rápido à evolução econômica dos Estados Unidos e, conseqüentemente também, ao desenvolvimento político da burguesia e da classe operária nos Estados Unidos.
(...)
A questão básica não se resolve calculando a produção, mas por meio de uma análise dos antagonismos econômicos. O nó da questão é este: Os Estados Unidos e, em parte o Japão, estão empurrando a Europa a um beco sem saída, não estão deixando nenhum mercado para suas forças produtivas (...) ao empurrar os europeus mais e mais para uma franja estreita do mercado, os Estados Unidos estão preparando atualmente um nova deterioração sem precedentes das relações internacionais, tanto entre os Estados Unidos e Europa como dentro da mesma Europa.”
E o de uma entrevista concedida ao jornal inglês “Manchester Guardian” na mesma ocasião, na qual citou:
“... As bases materiais dos EUA não têm precedentes. Sua preponderância potencial no mercado mundial é superior à preponderância real da Inglaterra no período de apogeu de sua hegemonia mundial... Esta energia potencial se transformará inevitavelmente em energia cinética, e algum dia o mundo será testemunha de uma grande explosão da agressividade ianque em todos os cantos do planeta."

(1) Trotsky refere-se aqui à I Guerra Mundial.
(2) É importante lembrar, mais uma vez, que este texto foi escrito em 1936.

4 comentários:

Ieda Schimidt disse...

Impressionante certas análises dele sobre os EUA, principalmente para a época.

Jonga Olivieri disse...

Aliás fiquei sabendo que a Editora Sundermann está relançando este livro no Brasil com vendas online. Vale a pena procurar.

Stela Borges de Almeida disse...

Isaac Deutsche, reconstruindo a biografia e o Joseph Losey com o marcante O assassinato de Trótsky, nos oferece importantes dados, em tempos que vale a pena não esquecer da memória.

Jonga Olivieri disse...

O filme de Losey, com Richard Burton é uma excelente reconstrução dos últimos dias de Trotsky.
Quanto a Deutscher, os três livros sobre Trotsky e a biogtafia de seu maior rival Stalin (em um volume) são excelentes.
É importante que ele batizou o ditador de "Grão-Czar de todas as Rússias", o que tem a ver com Ivan e toda uma tradição do totalitarismo naquele país.