quinta-feira, 16 de julho de 2009

O alvo do golpe foi Chávez

O golpe em Honduras foi dado em função – primordialmente – da tentativa de esvaziamento de Hugo Chávez em sua cruzada contra o império. Tanto que uma das cinco exigências dos golpistas para o retorno de Zelaya ao cargo é que este “seria obrigado a se distanciar do presidente venezuelano Hugo Chávez”. A bem da verdade, Chávez é a maior liderança anti-ianque do momento. E propõe uma saída de fato para a América contra os estadunidenses.
Para reforçar este ponto de vista, Evo Morales (presidente da Bolívia), reiterou nesta segunda-feira acusações contra os Estados Unidos pelo golpe de Estado em Honduras e disse ter informação sobre a participação da potência na derrubada de Zelaya. Morales é um dos chefes de Estado que mais se aproxima das posições chavistas. Depois de uma reunião, o mandatário boliviano e o presidente do Uruguai, Tabaré Vázquez, firmaram um documento conjunto em que apoiaram Zelaya e disseram não reconhecer nenhuma outra autoridade em Honduras.
Segundo Argemiro Ferreira em seu blogue: “ (...) Bastaria um mínimo de atenção às fotos da situação em Honduras (...) para qualquer um concluir que o golpe militar em nada difere de outros da tradição imposta ao continente para servir aos EUA – desde os tempos da United Fruit (1), que deu origem à expressão “república de banana” e nas últimas décadas tem mudado de nome (foi também United Brands, agora virou Chiquita Brands...
E mais adiante continua:
“ (...) Será? Na verdade até o truque de fingir que nada tem a ver com o golpe foi repetido pelos EUA, como no passado (em 1964 o cínico embaixador Lincoln Gordon jurou que o golpe tinha sido “100% brasileiro”). Em Honduras outra semelhança foi a ação precipitada de grupelhos: um general e dois coroneis invadiram a casa de Zelaya de madrugada, arrancaram-no da cama e tornaram o golpe fato consumado ao enfiá-lo de pijama no avião militar...”
Quanto a Chávez, mais de uma vez neste blogue (e no “velho” Pensatas), não somente defendi (e contnuo defendendo) suas posições, como afirmei (e continuo afirmando) categoricamente que o presidente venezuelano sofre uma onda de difamações e tentativas de desmoralização por parte da grande mídia, toda ela atrelada aos interesses dos Estados Unidos e das multinacionais. O problema é que Chávez aceita certas provocações o que agrava esta situação, facilitando seus inimigos, profundos conhecedores das artimanhas políticas e professores de marketing.
Leonel Brizola passou por um processo semelhante no Brasil. Primeiro ao perder a sigla PTB, tendo que criar uma nova (PDT). Em seguida com a criação do PT, e finalmente com a massificação de uma forte anti-propaganda, por parte, principalmente da poderosa Rede Globo. O resultado foi que a sua imagem ficou denegrida com fatos até hoje não provados, mas que o alijaram das possibilidades de chegar ao cargo máximo de presidente do país. Fator que apavorava os ianques, em função de durante seu mandato de governador do Rio Grande do Sul (1958/62), ter encampado muitas multinacionais (2), e se empenhado no processo educacional (3), ação que repetiu quando governador do Rio de Janeiro com as famosas CIEP’s.

(1) Coincidentemente Honduras foi o primeiro país que levou a denominação de “República de Banana” (Banana Republic, no original).
(2) Brizola nacionalizou a Bond and Share e a ITT, o que na ocasião criou uma crise nas relações Brasil-EUA.
(3) Quanto maior o nível educacional de uma nação, mais surgem críticas e oposições que incomodam por seu embasamento e consistência. Para os estadunidenses, se os americanos abaixo do rio Bravo forem menos informados, melhor.

6 comentários:

Ieda Schimidt disse...

Bastante interessante esta tua análise sobre as reais intemções do golpe, nestas bandas sempre com o dedo dos EUA por trás.
Chavez é uma pedra no calcanhar dos americanos do norte.
Principalmente agora que Cuba (Territorio libre de America) enfraqueceu o seu poder de fogo. Rauk Castro sempre foi um burocrata sem um posicionamento definido como o do irmão.
Justa a a recordação do caso Brizola". Não por ser meu conterrâneo, mas pelo valor que teve na luta anti-imperialista no Brasil.
E por que não dizer em toda América Latina.

Jonga Olivieri disse...

Raul castro é realmente um cara fraco. Como caráter, como personalidade.
Quando Fidel (que também é um burocrata*) morrer a coisa vai degringolar rapidinho na ilha.

(*) "Che" saiu de Cuba por desavenças com Fidel devido á excessiva aproximação da "Momenklatura". Ele tinha noções de que aquilo não era um socialismo de fato e acabou TENDO que se retirar de Cuba.

maria disse...

O seu raciocínio é envolvente Jonga.
Mas eu ainda acho que os norte-americanos fizeram isto sem o conhecimento de Obama.
Não acredito mesmo que ele participe de tudo isto!

Jonga Olivieri disse...

Mary, você quer dizer que Obama está na mesma onda do sr. da Silva? Talvez por isto ele tenha dito: “Este é o cara!”. Porque ele também não sabe o que acontece na sala ao lado.
Não podemos nos esquecer que Kennedy invadiu Cuba e jogou definitivamente os ianques no banho de sangue que foi a guerra do Vietnam.
E ele era tido como o “bonzinho” o mais democrático presidente dos EUA...
Obama fez a fitinha dele, o "marketing pessoal" ao declarar-se contra o golpe. Só demonstrou com isso o quanto é cínico e hipócrita.
A pior direita é a que se faz passar por não ser direita.
Neste caso o Bush pelo menos é um fascista declarado e fim de papo.

André Setaro disse...

O 'post' está ótimo para quem quiser compreender o que se encontra por trás do golpe hondurenho. Parabéns!

Jonga Olivieri disse...

Obrigado Professor Setaro.
Todavia as bases de Argemiro Ferreira (sei que também lê aprecia seus artigos) e outros canais nos ajudam bastante a conclusões importantes neste sentido.