quarta-feira, 22 de julho de 2009

Um convidado especial numa foto inolvidável

Anteriormente este “causo” foi publicado em uma edição do Jornal do CCRJ (Clube de Criação do Rio de Janeiro) em 1998, depois no meu blogue "Casos" da Propaganda (link ao lado). Mas acho que vale a pena posta-lo aqui no Novas Pensatas.

Foi quando a gente ia publicar o Jornal do Clube, lá pelos idos de 89. Mauro Mattos era o presidente. O Cristóvão e eu tínhamos peitado a parte gráfica, junto com a Maria Célia. Era um corre-corre danado. Reuniões de pauta. Reuniões para diagramação. Naquele tempo ainda não tinha Macintosh aqui pelas bandas do Rio. Toninho Lima, o Zé Gui, e tantos outros (se eu fosse citar um por um ia encher a página só com eles) todos envolvidos naquele desafio. “Vamos botar o jornal na rua. Ele tem que sair, ele tem que sair!” Bom, ele saiu. Aliás, pra quem não conheceu, um senhor número! Tamanhão “Meio & Mensagem” (1), muita matéria, entrevistas polêmicas. E um trabalho do cão... ou do leão.
Um belo dia, me liga o Henrique Meyer. “Jonga. Pra fechar o jornal... Tá quase tudo pronto... só falta fazer uma foto com o pessoal que foi a Cannes.” Resumindo, a foto ia ser no Handam na noite daquele dia mesmo.
Lá pelas oito eu cheguei no estúdio do Handam. Aquela animação. “O jornal tá quase pronto, - era o comentário geral - vamos ver se na semana que vem a gente está estourando com ele nas agências.” Um puta dum clima.
Começou a chegar o pessoal pra foto. Era a turma carioca que tinha ido a Cannes. Eduardo Martins, João Bosco, Fábio Fernandes. No meio, como figuração, a Luciana Vendramini. De repente o Henrique solta aquela: “Tá faltando o convidado mais importante da foto.” Quem será o convidado mais importante? Pensei eu com meus botões. Mas, papo vai, papo vem a gente esqueceu isso. Comecei a conjeturar com o Handam, qual seria a melhor maneira para fazer o Anuário do Clube. Como viabilizar essa tarefa hercúlea e até então inédita. Foi um papo longo.
De repente o Henrique anuncia com um sorriso de um lado ao outro do rosto que o convidado mais importante acabara de chegar. Olhei na direção da porta e eis que vejo surgir um leão. Mas olha "gentem", não era aquele leão brocha dos comerciais do Imposto de renda não! Não era aquele leão velho, pulguento, sonolento que a gente estava acostumado a ver por aí. Era um leão de verdade, em carne, osso e mandíbulas. Um leão jovem, cheio de tesão e babante. Olhar fixo, persistente. Um leão de arrepiar.
- Não se apavorem. Tudo bem - disse o Henrique firmemente - o leão tem um domador ao seu lado. Ele é obediente. Fiquem calmos.
A essa altura, sentia minhas pernas bambearem e pensava o que eu, que tinha medo de cachorro grande estava fazendo por aquelas bandas. É a mesma sensação de quando a gente está subindo na montanha russa, antes daquela primeira queda brusca.
Fiquei atrás do bar. Pelo menos tinha a ilusão de que ali havia uma parede divisória entre mim e aquela fera assassina. E olha que ela, a fera, no seu instinto realmente selvagem chegou a morder a calça de couro de uma jornalista que também fora ao Festival. Segundo o seu domador porque ela era de couro de animal africano ou coisa que o valha. Fato que não aconteceu com a Karin que estava com uma de couro artificial.
- E quando começarem os flashes? Fiz esta pergunta ao Handam num determinado momento de lucidez. Meu medo era aquele bicho enlouquecer, desbundar numa overdose de luzes pipocantes.
No final da fita, entre mortos e feridos salvaram-se todos, suados, descabelados. Só respirei quando o leão finalmente cruzou a porta e eu ainda esperei um bom tempo pra colocar o pé no elevador e me mandar, para acabar uma história que, literalmente, foi dose pra leão.

(1) Pra quem não conhece, Meio & Mensagem é um semanário que circula no meio publicitário.

8 comentários:

Ieda Schimidt disse...

Bueno, a cada dia que passa fico meis admirada da tua versatilidade.
Amei este teu "causo".
Vai em frente, escreve mais. Está excelente mesmo.

Jonga Olivieri disse...

Gosto muito de escrever casos (ou causos) engraçados.
Teem muitos assim no "Casos da Propaganda.

André Setaro disse...

Seu "background" em publicidade, caro Jonga, é imenso pelo que se pode perceber de tantos 'causos' interessantes e bem humorados.

Jonga Olivieri disse...

Caro André. Afinal são mais de quarenta anos de profissão, sendo que (até por razões de força maior) nunca trabalhei em outra coisa na vida!
Mas este "caso" leão é mesmo dose pra leão nenhum botar qualquer defeito.

maria disse...

Deve ter sido pavoroso, apavorante mesmo estar frente a frente com um leão da pesada como esse.

Jonga Olivieri disse...

Se foi?
Acho que foram poucas as vezes em que senti tanto medo.

Geraldo Antunes disse...

E põe versátil nisso!
É uma característica do Olivieri tecer centários os mais variados possíveis desde o seu extinto blog, o PENSATAS.
Que continue assim!

Jonga Olivieri disse...

Obrigado, Geraldo.
Aliás como diz o lide do meu blogue eu digo justamente que o meu intento é este.