domingo, 21 de novembro de 2010

Pensatas para todos os dias

Um comentário da Professora Stela Borges de Almeida (1), uma constante e sempre enriquecedora leitora deste blogue, despertou-me a curiosidade em conhecer a obra de Zygmunt Bauman, citado por ela. Pus-me desde então a procurar dados que me façam conhecer melhor o pensamento deste filósofo.
Encontrei algum material, mas um que resume muitas de suas ideias está contido numa entrevista (2) concedida a Maria Lúcia Garcia Pallares-Burke (3), do qual trancrevo abaixo uma parte de uma introdução sobre ele. Sem dúvida este pensador é um elo de ligação do passado, segundo suas definições sobre o “medo sólido” e no presente, o “medo líquido” ... Todo o seu pensamento a vislumbrar um futuro melhor para a humanidade. Bauman tornou-se conhecido por suas análises das ligações entre a modernidade e o consumismo na sociedade neoliberal “pós moderna”.
“Nascido na Posnânia em 19 de novembro de 1925, Bauman escapou dos horrores do holocausto que aguardavam os judeus poloneses na Segunda Guerra Mundial ao fugir com sua família para a Rússia, em 1939. De lá voltou após a guerra, quando se filiou ao partido comunista (4), estudou na Universidade de Varsóvia e conheceu Janina, com quem teve três filhas: Anna (matemática), Lydia (pintora) e Irena (arquiteta).
Descrito certa vez como ‘profeta da pós-modernidade’ (com o que não concorda), por suas reflexões sobre as condições do mundo da ‘modernidade líquida’ (5), os temas abordados por Bauman tendem a ser amplos, variados e especialmente focalizados na vida cotidiana de homens e mulheres comuns. Holocausto, globalização, sociedade de consumo, amor, comunidade, individualidade são algumas das questões de que trata, sempre salientando a dimensão ética e humanitária que deve nortear tudo o que diz respeito à condição humana. Preocupado com a sina dos oprimidos, Bauman é uma das vozes a permanentemente questionar a ação dos governos neoliberais que promovem e estimulam as chamadas forças do mercado, ao mesmo tempo em que abdicam da responsabilidade de promover a justiça social. ‘Hoje em dia’, lamenta ele, ‘os maiores obstáculos para a justiça social não são as intenções... invasivas do Estado, mas sua crescente impotência, ajudada e apoiada todos os dias pelo credo que oficialmente adota: o de que 'não há alternativa’. É nesse quadro que se pode entender sua afirmação de que ‘esse nosso mundo’ precisa do socialismo como nunca antes. Mas o socialismo de que Bauman fala, como insiste em esclarecer, não se opõe ‘a nenhum modelo de sociedade, sob a condição de que essa sociedade teste permanentemente sua habilidade de corrigir as injustiças e de aliviar os sofrimentos que ela própria causou’. É nesse sentido que ele define o socialismo como ‘uma faca afiada prensada contra as flagrantes injustiças da sociedade’.”

(1) Stela formou-se em Sociologia. Professora Adjunta Sociologia da Educação/UFBa (até 2000). Professora Visitante UEFS (2000-2005) e UFSE (2005-2007). Atualmente dedica-se a Estudos e Pesquisas sobre Cultura, Política e Cinema e possui um blogue cujo link é: http://stelalmeida.blogspot.com/ que também está marcado ao lado.
(2) Se quiser saber mais, acesse e leia a entrevista completa em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-20702004000100015&script=sci_arttext
(3) Maria Lúcia Garcia Pallares-Burke é professora aposentada da Faculdade de Educação da USP e pesquisadora associada do Center of Latin American Studies, Universidade de Cambridge. É autora, entre outros, de Nísia Floresta, o Carapuceiro e outros ensaios de tradução cultural (Hucitec, 1996) e As muitas faces da história (Unesp, 2000), editado também em inglês, The new history: confessions and conversations (Polity Press, 2002).
(4) Desligando-se do PC polonês por óbvias discordância dos princípios da “momenkatura”, o filósofo e sociólogo deixou o seu país fixando-se na Inglaterra. No início da década de 1970 ele assumiu o cargo de professor titular da Universidade de Leeds, permanecendo neste posto por pelo menos vinte anos.
(5) Em outras palavras, a sociedade de consumo.

10 comentários:

André Setaro disse...

Stela Borges é uma grande estudiosa e pesquisadora. Sou leitor assíduo de seu blog.

Jonga Olivieri disse...

Sim, André, vocês dois são muito importantes neste blogue.

Stela Borges de Almeida disse...

O mais interessante neste momento é descobrir que Jonga Olivieri e André Setaro estão do lado esquerdo do peito, provocam interesse pelo que escrevem, pelo que dizem, nos faz querer aprender sempre mais, inventam e acrescentam. Obrigada pelo gesto, vocês merecem mais.

Jonga Olivieri disse...

É isso aí!

Ieda Schimidt disse...

Surpreendente o pensamento de Bauman de quem já conhecia embora muito pouco.
Mas para mim é difícil que um marxista se deslumbre tanto com o seu raciocínio tão pouco marxista.

Jonga Olivieri disse...

Marx pensou o seu tempo. Mas Marx teve a sua filosofia política muito distorcida no século XX. Houve uma tendência ao mecanicismo e a conclusões muito distantes de seu pensamento. Outra coisa: por isso mesmo o Materialismo Histórico não evoluiu. Fora a Escola de Frankfurt, a que pertenceram Adorno, Marcuse e outros.
Hoje, procuram-se novos caminhos, nos quais Bauman, pelo que li dele, mostra perspectivas.
É bom lembrar que este filósofo/sociólogo recebeu o Prêmio Adorno...

Simey Lopes disse...

achei interessante o conceito de socialismo que ele utiliza, uma coisa se mostra boa, e talvez um remédio, mas como quase todas as coisas, se não todas, que caem nas mãos do ser humano, quando utilizado foi por outro caminho que, talvez infelizmente, não deu tão certo.

Gosto de filosofia, e seu texto me fez querer pesquisar sobre tal. rsrs

Parabbens pelo texto, muito bom!

Jonga Olivieri disse...

Sim Simey. O ser humano, com seue erros e acertos sempre a tentar alcançar uma solução que não seja utópica.
Um dia (se o tempo permitir) cheguemos lá!
Torço por isto!

Stela Borges de Almeida disse...

Jonga, apesar do seu interesse e empenho em trazer uma notícia através da entrevista da Professora Maria Lúcia Garcia Pallares-Burke sobre as idéias de Zigmunt Bauman, publicada no Scielo, considero ainda de difícil contento. Para conhecer as idéias de um autor preciso ler seus livros e dos seus adversários. De modo que acho temerário tecer comentários parciais sobre fragmentos isolados do seu pensamento, muito menos ainda baseada em trechos de entrevista. Nas condições de espaços restritos de comentários ( um quadrado que o cursor delimita, neste PC que digito) então, fica tudo por ser dito. Detesto parecer "grande". Considero que a obra de Zigmunt Bauman está a ser discutida e conhecida no Brasil. Vale a sua inquietação em trazê-o, mas não vale nossos pequenos e breves comentários ainda por conhecer suas idéias com maior intensidade.

Jonga Olivieri disse...

Stela, postei parte da entrevista da professora Maria Lúcia Pallares-Burke por encontrar nela um resumo da obra de Bauman. Quanto ao todo da obra do sociólogo/filósofo levará algum tempo. Existem mais de uma dezena de obras publicadas pela Jorge Zahar. Acredito que somente nos livros poderemos avaliar, como você bem ressaltou, “corretamente”, o seu pensamento.
Mas, de fato, o que tive oportunidade de ler na web, como aquela entrevista e alguns trechos de seus livros me impressionou. Principalmente quanto ao faro de a modernidade imediata ser "leve", "líquida", "fluida" e infinitamente mais dinâmica que a modernidade "sólida" que suplantou, que veio a se instalar no seio do neoliberalismo E ele se refere aos governos “totalitários” que abundaram no século XX, como a modernidade “sólida”.
Pareceu-me bem palpável compreender este princípio. Sei que, por não ter um raciocínio acadêmico (como o seu), isto pode ser uma falha, mas... Talvez eu seja um pouco impulsivo quanto a isto. Como você disse: “(...) Vale a sua inquietação em trazê-lo, mas não vale nossos pequenos e breves comentários ainda por conhecer suas idéias com maior intensidade...” Você tem toda razão neste aspecto. Agradeço (mais uma vez) a sua contribuição critica e construtiva...
Acrescentando, procuro --no momento-- saídas para a esquerda na luta por uma sociedade mais justa e creio ter encontrado boas perspectivas no posicionamento nada ortodoxo e/ou totalitário das ideias de Bauman. Mas, com o tempo vamos aprofundar. Vale a pena!