sexta-feira, 6 de maio de 2011

Pausa para a contemplação


Uma cidade linda, linda, linda mesmo!
Publiquei esta postagem em junho de 2009, e hoje lembrei-me tanto de Vigo na Galícia, uma das baías mais bonitas que jamais conheci, de um azul indescritível... Um lugar que se deve conhecer porque vale a pena!

Conheci bem a Galícia (que os lusos chamam de Galiza). Sua proximidade com a cidade do Porto nos empurrava atrás de um modo de vida más caliente bem pertinho de nós. Gostava muito de Portugal, mas, sem dúvida nenhuma, para nós brasileiros, a Espanha tem um “agito” com o qual nos identificamos; que nos agrada e encanta.
De todas as cidades galegas, a que mais vezes fomos foi Vigo. Primeiro porque sua beleza natural é inconfundível. E em seguida porque íamos ao Consulado português onde corriam os nossos processos de legalização da permanência em terras de Portugal. Ficávamos sempre no Hotel Compostela – bem próximo ao centro da cidade –, ao lado do ancoradouro de barcos e iates. Algumas vezes ficamos em um quarto no último andar (uma água furtada), e, pela manhã, as gaivotas nos acordavam com sua agitação matinal. Lindo... de ver e ouvir!
Mas, Vigo tem também uma baía muy hermosa. Quando se atravessa a exuberante ponte pênsil na autorota, o visual é de um azul profundo, e o mar repleto de barcaças, também repletas de frutos do mar. Vigo é um dos maiores centros produtores dos crustáceos e moluscos de toda a Espanha. Surpreendentemente a melhor paella à valenciana que eu comi foi lá, e não em Valencia.
No entanto, não é somente a baía de Vigo que é tão bela assim. Todo o litoral galego é esplendoroso. Sua costa é um privilégio dos que a habitam e dos que a conhecem. E o interior? O verde, tão raro em outras regiões de uma Espanha semi-árida, compensa-se por inteiro na Galicia. Aliás, uma característica de todo o norte daquele país, o que inclui tambem a região Basca e o Principado de Astúrias.
Santiago de Compostela e La Coruña também são cidades imperdíveis. Apesar do “fanatismo” e do “esoterismo” (1) religiosos, Santiago, como contraponto é um importante centro universitário e suas ruelas antigas respiram cultura e saber. O mais impressionante é que você pisa em um solo onde tantas gerações pisaram, estudaram, aprenderam, ensinaram. Amadureceram conhecimento humano e lógico, filosófico e matemático... A outra, em galego “A Coruña”, é também uma cidade abençoada pelos deuses. Somente a Torre de Hércules, monumento romano do século I, inteirinha até hoje, prova sua importância histórica.
A música é outra característica marcante da Galicia. Seu ritmo lembra a melodia irlandesa, característica, sem dúvida, da presença céltica em ambos os países. A gaita de fole, muito semelhante à usada pelos escoceses tem um som que nos envolve por completo. E, finalizando, a Fala (2), o que mais nos aproxima do galego. A Fala é muito mais próxima do português que do castelhano. Mujer é mulher. E, curiosamente trocam o “J” pelo “X” . Como Ximenes, ao invés de Jimenes. Ou Xunta de Galicia, ao invés de Junta de Galicia.
Assim é a Galícia. Um pedaço da Espanha que nós tivemos a oportunidade de conhecer muito bem. E deixou saudades; numa verdadeira paixão pelo calor do seu povo amável, que nos marcou o coração, ou pelas paisagens que ficaram gravadas em nossas retinas. Para sempre.

(1) É bom lembrar que Paulo Coelho (o picareta que deu certo) escreveu sobre o conhecido caminho de Santiago e começou a sua grande decolagem como “fenômeno literário” a partir daí.

(2) O galego é uma forma evoluída do galego-português (cujas origens remontam ao século IX). Com algumas influências do castelhano e umas poucas formas e traços próprios não existentes em português, alguns da língua original que desapareceram do português contemporâneo, outros fruto da evolução do próprio galego. Existem todos os anos encontros e comemorações da “Fala”, em que se apresentam intelectuais, poetas, cantores e compositores brasileiros, portugueses e de outros povos que teem o português como língua oficial.

10 comentários:

Joelma disse...

Passei por Vigo uma única vez e fiquei deslumbrada com a paisagem da ponte em que se contemplam aquleas centenas de barcaças com frutos do mar.
E sua referencia a isso é fato. Comi frutos do mar deliciosos e que jamais havia visto na minha vida. E o pior, nunca voltei a ve-los aqui no Brasil. Um dia eu volto lá só para saber os nomes deles.

Jonga Olivieri disse...

Sem a menor sombra de dúvida, Joelma. Os frutos do mar naquela cidade são em grande e farta quantidade.
Mas em Portugal eu os comprava nos supermercados do Porto que indicavam a sua procedência. E grande parte vinha da Galícia-Espanha, o que demonstra que provavelmente eram procedentes de Vigo.
Quanto aos nomes não me lembro também. Devia tê-los anotado pois seriam úteis hoje para mim. Mas não os fiz. Lembro-me que tinham uns compridos, finos, esféricos que eram simplesmante sensacionais. Fora os "vôngoles" e outros mais comuns...
Mas você tem razão em um aspecto em particular: a Baía daquela cidade é das mais lindas de se contemplar. Principalmente pelo seu azul maravilhoso e intenso!

Aurora disse...

Que lugar maravilhoso a julgar pela foto e pelo que você narrou. Um verdadeiro paraíso! E uma pausa de tragédias internacionais para uma contemplação mesmo! E estámos precisando disso mesmo!

Jonga Olivieri disse...

E então, Aurora. Além de nunca ter comentado aqui, vejo que gosta das coisas belas da vida. E escolheste bem porque Vigo é de fato uma delícia de cidade, que, apesar de menor do que outras, tem um "Praça Maior" e uma 'Gran via', como tantas outras grandes cidades espanholas. Ah, e claro, uma boa loja de 'El Corte Ingléz'.

Mário disse...

Excelente postagem. Embora a série sobre Osama estivesse ótima pois me levou a reflexões sobre o assunto, uma pausa para refrescar é sempre bom. Vou refletir sobre isso tambem. Quem sabe ir um dia a Galícia e conhecer Vigo, pois da Espanha conheci apenas Madrí, Toledo e Valencia.

Jonga Olivieri disse...

Pois reflita amigo. É também muito importante contemplar belos lugares deste mundo tão pequeno quanto grande ele é...

André Setaro disse...

Creio que José Luiz Mendez, proprietário do mitológico 'santuário' do Armazém Espanha em Salvador, é originário da Galícia. A colônia galega soteropolitana é muito grande, a ponto de, décadas atrás, ter sido formado um time de futebol de nome Galícia.

Mas os galegos nunca se demonstraram no Brasil tão operosos quanto os japoneses e os italianos, além de outras nacionalidades. Sempre gostaram mesmo é de ficar com a barriga encostada nos balcões de seus armazéns, dando a impressão de que os imigrantes galegos se constituíram de indivíduos incultos, pobres, que vieram tentar uma vida melhor no nosso território.

Por outro lado, a beleza da Galícia, e, também, de outras cidades espanholas, é um fato. Uma pausa para contemplação.

Jonga Olivieri disse...

Aqui no Rio costuma se confundir português com galego. Quando se refere a um portuga diz-se "Aí o galego...". Bom, as origens são paarecidas e há a "Fala" como se diz por lá.
Mas, como os portugueses "trasmontanos", vieram de lá os desclassificados, enfim o "lumpesinato" cujas habilidades não suportavam muito mais do que estar atrás do balcão de um boteco ou mesmo de um armazém.

Cantídio disse...

Uma cidade muy bela, numa das mais bonitas regiões da Espanha.

Jonga Olivieri disse...

'Sin duda'!