terça-feira, 29 de novembro de 2011

Criatividade com simplicidade. Capítulo / Olivetto



A postagem abaixo foi publicada ontem no meu blogue “Casos” da Propaganda (http://jongaoliva.blogspot.com/), mais antigo do que este (ver lista ao lado), e que surgiu de uma trajetória de mais 40 anos de trabalho em publicidade, no qual conto “casos” –na maioria das vezes engraçados– acontecidos em mais de 20 agências em que trabalhei.

A publicidade brasileira no final dos anos 1960 e início dos 70 despontou como uma das mais criativas do mundo. E quando digo “despontou” é porque até então, por exemplo, los Hermanos, aqui ao nosso lado tinham uma qualidade muito superior à nossa, tanto que havia uma grande quantidade de criativos argentinos em nossas agências nos ensinando o “caminho das pedras”. No meu caso quando comecei a fazer estágio em propaganda (1964) havia o diretor de criação e um diretor de arte portenhos na equipe.
Antes de mais nada fundaram-se na ocasião agências nacionais de qualidade como por exemplo a DPZ (1), a Denison, a Norton e a JMM (2), num mercado até então dominado pelas multinacionais como a Thompson , a McCann e a Lintas. Surgiu tambem uma geração composta de redatores e diretores de arte do nível de Washington Olivetto, Neil Ferreira, Mauro Matos, Jarbas de Souza, Celso Japiassú, Carlos Pedrosa, Francesc Petit, somente para citar os que me vieram à cabeça (3) de imediato e não ficar aqui fazendo uma relação interminável.

Mas principalmente na mídia eletrônica o salto foi ainda maior. Lembro que quando entrei na McCann-Erickson o comentário geral dos gringos era de que precisávamos aprimorar a nossa produção neste particular. Em poucos anos demos um verdadeiro salto. Talvez fruto de nossa cultura multiracial (4), alcançamos em muito pouco tempo um patamar mais elevado.

Tanto que o comercial da Seagram com o garoto sorrindo (vídeo acima), foi criado em 1973. Computador nesta época? Nem pensar! Computadores eram aquelas máquinas esquisitas e enormes com rolos e cartões perfurados que serviam para outras finalidades que não fossem publicidade. As “trucas” eram na câmera (slow e fast motions) ou no retoque quadro a quadro.
A criação foi de Washington Olivetto, ainda nos seus tempos de DPZ. E este filme é um outro exemplo de “criatividade + simplicidade = genialidade”.

1. A DPZ, começou como um estúdio, quase uma butique de criação chamado “Metro 3”, já composto por Duailibi, Petit e Zaragoza.
2. A JMM que vêm a ser as iniciais de João Moacir de Medeiros, seu fundador, iniciou suas atividades em 1950 e foi uma das agências mais criativas do país. Criou campanhas inovadors e inesquecíveis para o Banco Nacional e também atendeu outra das maiores contas nacionais, a Lopes Sá, à época a principal concorrente da Souza Cruz no mercado de cigarros.
3. Fico até emocionado, quando me lembro dos profissionais que conheci e me ensinaram tanto, numa época em que um diretor de arte tinha muita coisa a aprender. Prometo a eles, os vivos e os mortos, que um dia vou fazer uma lista e publicar neste blogue...
4. Sempre defendo que isto é um fator que nos eleva, porque sou de uma geração em que havia um “racismo” oculto e hipócrita que afirmava o contrário. Outrossim, neste mesmo período surgiram intelectuais tupiniquins a defender esta miscigenação como o Dr. Antônio da Silva Melo que publicou –entre outros o livro– “A superioridade do homem tropical” (1967) ou Celso Furtado, economista e um dos destacados pensadores brasileiros do século 20.

6 comentários:

Joelma disse...

Este comercial é muito bom mesmo!
Infelizmente nos tempos que se passam temos que mudar o canal quando chegam os intervalos. Cada merda que passa!
Sinal dos tempos!

Jonga Olivieri disse...

Tem toda razão, Joelma. E hoje tenho batido muito nessa mesma tecla no blogue "Casos" da Propaganda.
É culpa do computador, que facilitou as coisas, mas prejudicou o resultado final.
Este filme foi realizado em 'quadro a quadro". Dava um trabalhão que só vendo!
Por trás de tudo tem que existir uma "ideia", a base de toda criatividade,
O resto é RESTO mesmo!

Mário disse...

Não sei como você agüentou tsnto tempo trabslhar em publicidade, convivendo com pequeno-burgueses esnobes e metidos a gênios.
Como esse Washington Olivetto. J´s vi uma entrevista dele e o cara é muito metido a besta.

Anônimo disse...

Esse comercial é muito bom!
Lembro da época em que foi lançado como esse comercial foi comentado e emocionou a todos.
"As “trucas” eram na câmera (slow e fast motions) ou no retoque quadro a quadro...", como tu escreveu.
Eu não entendo disso pois nunca trabalheinna área. Mas parabéns por ter um domínio dessas coisas!

L.P.

Jonga Olivieri disse...

Não é bem assim, Mário...
Quando comecei em publicidade, lá pelos anos 1960/70 havia muita gente de esquerda. Tinha até uma brincadeira sobre os "barbudinhos da criação".
Claro que a profissão está ligada ao consumo, ao capitalismo. Mas me diga o que não está numa sociedade burguesa?
Que seu saiba, ninguem está livre disto! Até os filósofos, ou os professores da Rede Pública são envolvidos pela infraestrutura econômica que nos rodeia.

Jonga Olivieri disse...

No cinema era assim tambem, Luis (moviola, cortes, retoques manuais, etc), tanto que as críticas do Professor Setaro dirigem-se muito ao computador e à vulgarização "video clipistica" que a ferramenta trouxe àquela arte.