sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Notícias (quase) frescas da matriz



O Professor Jorge Moreira (Jorge Vital de Brito Moreira), colaborador deste blogue nos EUA, envia de lá esta postagem com fatos atualizados no cenário central do império.

Mesmo recebendo noticias deformadas pela censura da grande mídia corporativa global (CNN, Fox, ABC, NBC, New York Times, Washington Post, TV Globo), ainda podemos saber (relativamente) o que anda se passando nos EUA e no mundo, graças à ajuda dos meios de informação alternativa (Wikileaks e Julian Assange, blogs, twitters, websites independentes, etc.). Eles nos informam de um conjunto de acontecimentos (que são essenciais para elaborar uma contra narrativa que contradiga a narrativa da nossa história oficial) que devemos tomar consciência sempre que nos seja possível. Assim, dada a importância, e urgência de desmitificar a hegemonia da história oficial, repassaremos alguns acontecimentos das últimas semanas que também servirão para atender a mente faminta dos leitores que sentem-se agredidos por serem enganados e manipulados diariamente pela ”mídia corporativa global”:

Pelo vigésimo ano consecutivo, a Assembléia Geral da ONU aprovou por esmagadora maioria uma nova resolução condenando o embargo dos EUA contra Cuba A votação final foi de 186 países a favor e dois contra: Estados Unidos e Israel. Estes dois países foram os únicos a votar contra a resolução. Assim, mais uma vez, os EUA e seu cúmplice Israel demonstram para a população mundial que seus governos são fundamentalmente o que são: antidemocráticos e fascistas.
Na oportunidade o chanceler cubano, Bruno Rodríguez informou que as sanções econômicas impostas pelos EUA por quase meio século (o embargo foi iniciado em sete de fevereiro de 1962) tem causado perdas econômicas diretas de um trilhão de dólares ao povo cubano.
Mais uma vez, fica comprovado que os dois países (EUA e Israel) se caracterizam fundamentalmente pelo discurso e comportamento repletos de hipocrisia e prepotência; mais uma vez eles mostram porque hoje milhões de indivíduos pensam que os EUA representam o “império do mal”.

Ao mencionar Cuba e a América Latina não podemos deixar de mencionar as eleições de 24 de outubro de 2011 que Cristina Fernandez de Kirchner foi reeleita para presidente da Argentina. Um dos aspectos relevantes das eleições liga-se ao fato de Cristina Kirchner ter sido reeleita com uma vitória quase esmagadora sobre os demais candidatos.
As principais razões da sua notável reeleição devem-se ao fato dos governos dos Kirchner (marido e mulher) terem implementado:
A) uma importante melhoria da distribuição de renda (direta e indireta) entre os argentinos, que foi resultante de uma política de crescimento econômico constante e equitativo.
B) ao atendimento da demanda dos argentinos vítimas das ditaduras militares implantada pelos EUA na América Latina.
Assim, a vitória de Cristina na Argentina simboliza a vitoria do seu povo na sua luta para fazer justiça, penalizando aos responsáveis pela prisão, tortura, assassinato e desaparecimento de dezenas de milhares de cidadãos argentinos.

No dia 31 de outubro de 2011, os membros da UNESCO (a agência da ONU para o desenvolvimento da educação, da ciência e da organização cultural) posicionando-se contra a política dos EUA e Israel, votaram a favor da aceitação da Autoridade Palestina como membro da instituição. O pedido da Palestina foi aprovada por 107 países a favor e 14 países contra, enquanto 52 se abstiveram.
Como esperávamos, depois da votação, os EUA anunciaram a retirada do apoio financeiro à UNESCO. De acordo com a informação que possuímos, os EUA forneciam cerca de 20% dos 70 milhões dólares que compõem o orçamento da agência.
Como diz a piada, os EUA se comportaram como o pai da donzela que disse: - Minha filha você pode casar com quem quiser contanto que seja com o filho do meu amigo sionista.
Mais uma vez, os EUA, mostram o seu caráter antidemocrático e chantagista no tratamento dos interesses de países e povos do terceiro mundo oprimidos pelo Império. Logo em seguida Israel e Canadá também anunciaram a retirada do seu apoio financeiro à UNESCO.

Por falar em apoio financeiro, as notícias financeiras da última semana nos informaram que as ações na Europa despencaram depois que o primeiro ministro grego anunciou que iria sujeitar o pacote de resgate de 179 bilhões de dólares a um referendo popular.
As pesquisas de opinião indicaram que a maioria dos eleitores gregos não aceitariam mais medidas de austeridade contra seu povo e rejeitariam o pacote. Os analistas, por seu lado, preveem que, se ganha “o não” no referendo, a Grécia seria forçada a declarar a falência sobre a sua dívida e o país seria forçado a abandonar o euro.
Tudo isso originou uma crise política entre a Grécia e a União Européia que os analistas ainda não podiam antecipar suas consequências porém as noticias recentes destacam que o primeiro ministro grego, pressionado pelas grandes potencias ocidentais, desistiu do “demagógico” referendo popular; Papandreou também anunciou a sua renúncia ao cargo de primeiro ministro para atender as demanda dos governos e dos grandes bancos europeus.

Mais uma noticia de grande importância foi a divulgação do estudo sobre a distribuição da riqueza entre as classes sociais dos EUA. Através desse estudo, tomamos conhecimento que a renda do 1% mais ricos do deste país triplicou nas últimas três décadas enquanto o nível de pobreza aumentou incluindo agora 49 milhões de estadunidenses.

Mas enquanto cresce o desemprego, a pobreza, a fome e a miséria nos EUA, o presidente Barack Obama continua promovendo eventos para angariar milhões de dólares para respaldar sua reeleição a presidente do país. De acordo com as noticias recentes, ele já recebeu nesta campanha eleitoral mais dinheiro de Wall Street que todos os candidatos republicanos juntos.

Em resposta a alienação do presidente Obama diante da cruel situação econômico social da população estadunidense, milhares de pessoas realizaram em São Francisco uma manifestação contra o evento de angariação de fundos para Barak Obama. A manifestação foi realizada para protestar contra a desfaçatez do presidente.

Enquanto isso, o processo de corrupção institucional nos EUA continua em ascensão. As últimas noticias deste desenvolvimento da corrupção envolvem, mais uma vez, a Deloitte Touche Tohmatsu, a maior companhia de consultoria e contabilidade do mundo e o Sr. Rajat Gupta, ex diretor do banco Goldman Sachs, uma das instituições financeiras mais poderosos do mundo capitalista

Recentemente, o “Wall Street Journal” informou que a Deloitte está sendo acusada e processada por falhar na detectação das fraudes e perdas financeiras no valor de 7.6 bilhões de dólares na Taylor, Bean & Whitaker Mortgage Corp (TBW, uma das maiores empresas de hipotecas privadas do planeta).
Como se sabe a TBW foi à falência durante o colapso do setor imobiliário dos EUA e desde fins de setembro de 2011, a Deloitte está sendo acusada de ter sido uma das grandes responsáveis pela bancarota da empresa. Para mais informação vejam o web site do Wall Street Journal:
Mas não é a primeira vez que a Deloitte está sendo acusada de cometer crimes contra companhias que a contratam confiando na sua eficiência e respeitabilidade, porem terminam fraudadas pela Deloitte.
No Brasil, o último escândalo financeiro em que a Deloitte tem estado envolvida relaciona-se com as falhas da sua consultoria para detectar as fraudes e os rombos pelo valor de 2.5 bilhões de reais no Banco Pan Americano (do grupo Silvio Santos).
No nosso país, a Deloitte tem tido uma história de recorrentes fraudes contábeis contra companhias brasileiras como podemos observar a seguir: Em 2003, a Parmalat descobriu uma fraude de R$ 3.0 bilhões de reais; em 2008, a Aracruz descobriu uma fraude de 1.95 bilhões de reais, alem de fraudes em outras companhias como a da empresa Bausch & Lomb. Vejam algo do histórico das fraudes da Deloite no Brasil no link:
http://www.istoedinheiro.com.br/noticias/41059_   POR+QUE+A+DELOITTE+ERRA+TANTO (1).

Dentro do processo de corrupção nos EUA, chegou a hora e a vez de destacar que Rajat Gupta, ex-diretor do banco Goldman Sachs e um dos executivos (CEO) de negócios mais destacados no pais, foi entregue ao FBI devido as acusações criminais pelo vazamento de informações secretas (insider trading) para encobrir o administrador de fundo Raj Rajaratnam.

E no entanto, para aqueles que assistiram o filme “Syriana”, a revelação anterior não significa muito (quase nada) pois o filme mostra as manobras do poder para promover a aparência de que o governo dos EUA vai punir os culpados pela corrupção na sociedade. Esta é a razão do porque de vez em quando um peixe grande é posto em evidencia e sacrificado pela mídia pois o objetivo fundamental é a de distrair a atenção do cidadão do processo de corrupção, colocando suficiente fumaça no ventilador para que as coisas continuem como sempre foram.

A propósito da incapacidade do governo e suas autoridades para promover a justiça nos EUA, o novo livro de Glenn Greenwald intitulado “With Liberty and Justice for Some: How the Law Is Used to Destroy Equality and Protect the Powerful" (Com liberdade e justiça para alguns: como a lei é usada para destruir a igualdade e proteger os poderosos) oferece uma crítica contundente ao que ele chama de duplo padrão de sistema de justiça que virtualmente garante a impunidade para a classe política e financeira nos Estados Unidos contra qualquer ação legal. Greenwald discute como a mídia, os dois principais partidos políticos e os tribunais foram cúmplices no processo que gerou a tortura, crimes de guerra, espionagem doméstica, fraudes financeiras e até assassinato de cidadãos dos EUA como se pode verificar quando Greenwald discute e denuncia o programa de assassinatos de Barack Obama que foi o responsável pela eliminação do engenheiro estadunidense Anwar al-Awlaki em 11 de setembro de 2011.

Para finalizar gostaria de observar que a articulação dos fatos, dos acontecimentos dentro do processo histórico atual (porém fora da narrativa oficial) demonstra “ad infinitun” que o império dos EUA não querem nem saber como construir uma vida melhor para os seres humanos na Terra. Assim o Estado e o sistema capitalistas preferem a produção de guerras em lugar da construção da paz; preferem promover um mundo em defesa dos ricos e em prejuízo dos mais pobres; preferem ampliar a guerra de classes, de raças, de gêneros e de nacionalidades, do que contribuir para solucionar as suas diferenças através da realização da justiça social para todos os seres humanos .
Os EUA, na defesa e na promoção do projeto para beneficiar exclusivamente os ricos do país, só pensam, só sabem e só querem destruir os povos e as nações do terceiro mundo que não estão dispostas a submeter-se ao seu projeto de dominação.
As guerras mais recentes do Império indicam concretamente que o projeto militarista do governo Barack Obama procura destruir a Líbia, destruir a Somália, destruir o Iêmen, destruir a Síria (sem esquecer de mencionar a destruição do Iraque, do Paquistão, do Afeganistão e da Palestina) para promover os interesses das corporações imperialistas.
Assim, estamos envolvidos na seguinte estratégia: para tratar de evitar (ou amortizar) a decadência sócioeconômico política dos EUA, o Pentágono procura expandir o processo de militarização sobre todas as regiões do planeta. (a criação do AFRICON para a África, é mais uma prova recente e contundente).
Para a legitimação e execução dessa estratégia, o Império estadunidense conta com os serviços da ONU e da OTAN (na nova função de ser o braço armado da ONU).
Assim, fica mais do que claro que o discurso das potências ocidentais ”de evitar a massacre do povo líbio” e a resolução da ONU para justificar a destruição da nação africana (permitindo o assassinato de Kadaffi) não passaram de uma grande farsa para, mais uma vez, enganar os indivíduos do ocidente e do oriente. Basta comparar os 1.000 líbios mortos pelas forças de Kadaffi com as 40.000 bombas que foram jogadas no país pela OTAN (que cálculos generosos estimam no assassinato de pelo menos 40.000 líbios) para que uma pessoa decente tome consciência do caráter extremamente manipulador dessa propaganda criminal.

Concluo este texto, citando duas excelentes sentenças do Prof. James Petras, o brilhante sociólogo estadunidense, que denunciam a degeneração moral das autoridades do governo dos EUA e da OTAN:
“É uma obscenidade a celebração e as risadas da Secretaria Hillary Clinton sobre o assassinato de Kadaffi. Neste sentido reflete a total degeneração da moral dos líderes da OTAN e, especialmente, dos EUA”. (2)

1) Geralmente, as auditorias dos bancos, empresas e corporações capitalistas tinham sido realizadas por companhias de auditoria e consultoria tributaria tais como Arthur Andersen, Deloitte Touche Tohmatsu, KPLM e outras que têm sido acusadas frequentemente de cometer crimes financeiros por apoiar técnicas contábeis e fiscais fraudulentas .
Em 2002, por exemplo, o governo dos EUA, abriu inúmeras investigações contra os executivos (CEOs) de Arthur Andersen por estarem envolvidos no escândalo e na bancarrota da Enron Corporation; escândalo conhecido como “a maior fraude financeira e empresarial da história” dos EUA. Devido a este escândalo, a companhia Arthur Anderson foi penalizada criminalmente, deixando de operar nos EUA.
No entanto seus ativos, seus clientes e seus funcionários foram adquiridos pela Deloitte que também tem sido acusada de incorrer nos mesmos tipos de crimes contáveis que a empresa Arthur Anderson.

2) Vejam o texto de Petras no link:

9 comentários:

Joelma disse...

Excelentes as informações do Professor. Parabéns!

Jonga Olivieri disse...

Tambem acho Joelma!

André Setaro disse...

Sobre ser os escritos do estimado Professor Moreira informativos e que remetem sempre à uma reflexão, a audácia fotográfica parece que é de autoria do blogueiro. Ou não? A imagem está em perfeita sintonia com o texto.

Jonga Olivieri disse...

Sim, a ideia do Professor em mandar várias notícias foi excelente.
Quanto à ilustração, a encontrei no 'Google Images' e procurei algo com a estátua da "Liberdade", porque me lembro de um filme do Chaplin em que o símbolo do "sonho" contrasta com o significado do pesadelo em que se transformaram os EUA...
Tive a sorte de encontrar esta, por sinal excelente!

Jonga Olivieri disse...

Aliás, no filme de Attenborough, quase em frente à tal estátua (que nunca pisou território ianque), Chaplin é notificado de sua expulsão dos EUA no auge do macartismo...

Mário disse...

Concordo com o Setaro. Tanto quanto ao nível do texto do Professor quanto a ilustração escolhida por você. Caiu muito bem e combinou inteiramente com o assunto.

Jonga Olivieri disse...

Obrigado.

Anônimo disse...

Jorge Moreira tem dado uma força a este seu blogue. E sempre bem documentado. gosto de suas postagens.
L.P.

Jonga Olivieri disse...

Concordo, Luis!