terça-feira, 2 de outubro de 2012

O capitalismo já faliu? (Parte 2)


Agradeço a Reinaldo Carcanholo (1) sem o qual este artigo não teria sido possível...

Os grandes capitais privilegiaram o setor financeiro, fugindo da baixa rentabilidade. O consequente processo especulativo que se acentuou no final dos anos 1970 foi favorecido pela política de endividamento externo, seguida por alguns países. Fortaleceu esse processo a elevação das taxas de juros internacionais determinada pela política estadunidense no início dos anos 1980.

A partir dos 1980, a taxa de lucro nos países capitalistas mais importantes começou a se recuperar e o fez de maneira expressiva. Como se explica esse fato se, como consideramos, o capital especulativo tendeu a crescer mais rapidamente que o produtivo? A verdade é que esse maior crescimento deveria ter reduzido ainda mais a rentabilidade do capital, ao privilegiar a expansão dos capitais que em nada contribuem para a produção de mais-valia.

O fato é que os lucros (fictícios) crescentes pesaram muito neste contexto. Com eles, a contradição da produção/apropriação do excedente-valor podia ser solucionada a cada instante. Os lucros fictícios eram bastante elevados para, somados ao aumento da exploração do trabalho, garantir rentabilidade satisfatória para o capital. Mas esse mecanismo apresentava um grave problema: resolvia o problema, mas, no momento seguinte, o crescimento adicional e consequente do capital fictício agravaria a contradição e a dificuldade de hoje, a de amanhã, e por aí em diante numa bola de neve. Em algum momento haveria uma explosão... E ela aconteceu com a crise imobiliária nos Estados Unidos.

É essa a razão porque a etapa especulativa e parasitária do capitalismo mundial, liderada por esse país, inevitavelmente tem data para desaparecer, embora não saibamos quando será e nem como dar-se-á. A crise dos subprime e todos os seus desdobramentos em todo o mundo, que assustou a todos, não constituiu senão o início do processo de colapso dessa etapa, que provavelmente será mais prolongada do que parece. A atual crise está apenas em suas manifestações iniciais.

O mais provável é que, depois de alguns anos de profunda recessão, vamos presenciar um longo período de estagnação econômica, com crescimento que ora se recupera, ora se reduz drástica. Ao mesmo tempo, iremos assistir crises financeiras recorrentes, com quebra de empresas de todos os tipos, inclusive e particularmente de empresas produtivas. O crescimento do desemprego é uma inevitável consequência.

Nos nossos dias o capitalismo teoricamente está morto. Mas é necessário matá-lo historicamente. E isso será muito difícil, mas não impossível. Uma revolução socialista é a única saída.

1. Reinaldo Carcanholo é Professor do Mestrado em Política Social e do Departamento de Economia da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES); Tutor do PET-Economia / UFES (Programa de Ensino Tutorial- SESU/MEC). Graduado e Mestre em Economia pela Universidad de Chile, doutorado em Economia pela Universidade Nacional Autónoma do Mexico (1982), foi professor regular nas universidades de Chile, de Costa Rica, Benemérita de Puebla (México), Nacional Autónoma de Honduras e visitante na Universidad Nacional Autónoma de Nicarágua. É colaborador do Movimento Sem Terra (MST) e diretor executivo da Sociedad Latinoamericana de Economia Politica y Pensamiento Crítico (SEPLA).

5 comentários:

Joelma disse...

Concordo em pleno que o capitalismo teoricamente está morto e que também é necessário enterrá-lo do ponto-de-vista histórico.
E mais ainda quanto à Revolução Socialista ser a única saída.
E tem um detalhe importantíssimo: após 'Occupy Wall Street' há uma discussão muito ampla (de setores que, infelizmente, se haviam, calado) sobre os novos caminhos do Socialismo e da Democracia no presente com vistas ao futuro.

Mário disse...

Sem a menor dúvida um Gran Finale!

Anônimo disse...

Não entendi muito bem. Esclareça: qual foi a participação de Reinaldo Carcanholo nestas duas postagens?

Porque pelo jeito foi grande.
O que fica evidente quando você diz que sem ele esses artigos não teriam sido possíveis.

L.F.

Jonga Olivieri disse...

Luiz, a base para estas minhas duas postagens foi um artigo de Reinaldo Carcanholo publicado na revista “O Comuneiro” com o título de “A atual crise capitalista”, o qual me orientou muito quanto a seu conteúdo.
O autor é um pensador marxista de grande conhecimento na área da economia e me impressionou de tal maneira por exprimir de forma tão clara o assunto que eu queria abordar neste ensaio, que o considero uma autêntica fonte.
Daí os agradecimentos...
Mas achei tão agressiva a sua intervenção que, juro, quase não a respondi.

Misael de Silva Costa disse...

Também achei que o L.F. (não sabia que era Luis) foi meio inquisitório; ou seria inquisitivo?
Em suma, você tem toda razão em se queixar dele.
Mas indo de um polo ao outro, a postagem é muito boa e uma análise profunda do capitalismo na fase em que se encontra.
Parabéns a você e a Reinaldo Carcanholo!