A presidente
Dilma Rousseff usou a tribuna da 68ª Assembleia-geral da ONU para protestar
abertamente contra a política de espionagem americana contra países amigos,
como foi o caso do Brasil. Para ela, a denúncia de que o alto escalão do
governo brasileiro era monitorado pela Agência de Segurança Nacional estadunidense
(CIA) é “inadmissível” e reflete “um caso grave de violação de direitos humanos
e das liberdades civis”.
A presidente
foi a primeira chefe de Estado a tomar a palavra no púlpito da ONU, em Nova Iorque,
na abertura da Assembléia Geral da organização. Após pouco mais de um minuto de
introdução, Dilma iniciou uma dura condenação às denúncias de espionagem
realizada pelo governo dos EUA. “O argumento segundo o qual as escutas ilegais
visam a proteger os países do terrorismo não se sustenta”, declarou.
"Imiscuir-se dessa forma na vida de outros países fere o direito
internacional e afronta os princípios que devem reger as relações entre elas,
sobretudo entre nações amigas".
Dilma
destacou que o monitoramento das conversas do governo e das empresas
brasileiras é um “desrespeito à soberania nacional”, e observou que o Brasil
“sabe de proteger”. "Jamais pode uma soberania firmar-se em detrimento de
outra. Jamais pode o direito à segurança dos cidadãos de um país ser garantido
mediante a violação de direitos humanos fundamentais dos cidadãos de outro
país", afirmou, sempre em tom sério, sobre o tema que ocupou quase a
metade dos seus 22 minutos de discurso. “O Brasil, senhor presidente (da Assembléia
Geral), sabe se proteger. Repudia, combate e não dá abrigo a grupos
terroristas", destacou.
A presidente
lembrou que pediu explicações e desculpas das autoridades estadunidenses sobre
o caso. O presidente Barack Obama, que sucedeu Dilma no púlpito, não estava
presente no momento do discurso da brasileira. Em sua fala, durante cerca de 40
minutos, Obama comentou todos os grandes conflitos mundiais, porém não
mencionou diretamente o assunto da espionagem. Ele apenas reafirmou que, devido
às medidas de segurança adotadas pelos Estados Unidos, “o mundo está mais
estável atualmente do que cinco anos atrás”.
Em
consequência às denúncias, o governo brasileiro anulou, na semana passada, a
visita de Estado que Dilma faria a Washington em outubro, ao não receber
satisfações consideradas suficientes sobre o tema. Em Nova York, a presidente
ainda declarou que o Brasil vai intensificar os mecanismos e a legislação de
proteção contra a espionagem e propor à ONU um “marco civil multilateral para a
governança na internet”, para evitar que “o espaço cibernético seja instrumento
de guerra”.
No restante
do seu discurso, a presidente abordou o conflito sírio, defendendo mais uma vez
uma solução diplomática, e não militar, ao confronto entre o regime do
presidente Bashar al-Assad e a oposição. Ela saudou o acordo obtido entre os
Estados Unidos e a Rússia para que o presidente sírio entregue o seu arsenal
químico, considerado “decisivo” para o fim do conflito.
Dilma
criticou, entretanto, a iniciativa dos Estados Unidos e da França de planejar
uma intervenção militar no país, sem o aval do Conselho de Segurança da ONU.
"O abandono do multilateralismo é o prenúncio de guerras", afirmou.
A presidente
ainda clamou pela criação de um Estado “independente e soberano” para os
palestinos, pela reforma do Fundo Monetário Internacional e do Conselho de
Segurança da ONU, que segundo ela sofrem de “déficit de representatividade e
legitimidade” diante da emergência de novos países na governança global.
2 comentários:
Tem que partir 'pro pau' mesmo!
Valeu!
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