quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Mais uma do Groucho

Continuando a falar de Marx, o Groucho, republico este artigo que foi anteriormente postado em 3 de agosto de 2007 no antigo “Pensatas”.

Lembrei-me de um livro chamado “Memórias de um pinga-amor”. Um título bem lusitano para um livro também muito engraçado, com ótimas ilustrações a traço em p&b do conceituado cartunista Leo Hershfield. Trata-se de uma publicação da Assírio e Alvim. O original é “Memoirs of a mangy lover”, que em português brasileiro seria algo no gênero de “Memórias de um galinha”.
São cerca de trinta casos curtos, e tem uma nota de introdução bem no espírito sarcástico de Groucho: “Este livro foi escrito durante as horas em que esperei que a minha mulher se vestisse para sairmos. E se ela nunca se tivesse vestido, este livro não teria sido escrito”.Groucho era um individualista ferrenho. Fruto da cultura estadunidense e capitalista, o “bem sucedido” noveau riche, desenvolveu uma filosofia de vida típica de seu tempo. É perdoável, porque a sua contribuição ao lado galhofeiro da vida suplanta tudo isso. O referido livro é composto de cinco partes, mais o prefácio e o epílogo. Os capítulos são: “L’amour, esse folião”, “A história não natural do amor”, “Notas sociais de um pária social”, “Aconteceu a outros oito rapazes” e “A filosofia marxista, segundo Groucho”. É difícil saber qual a melhor.
Eu particularmente gosto demais da terceira em que tece comentários sobre “visitas” e suas conseqüências. Dentro deste capítulo há um que fez-me rir às pamparras. Trata-se do “de como as visitas se despedem”. Groucho, e seu sarcasmo intrínseco tece uma boa dose de tipos que se despedem em festas que é digno de nota. Por exemplo: “a bruxa de meia-idade”, “os visitantes de fim de semana”, “o convidado solitário” ou “o chato que sempre chega muito antes da hora marcada”.
Mas, o melhor de todos é mesmo o tal casal que chegando lá pelas tantas, o marido olha o relógio, dá um salto da poltrona, vira-se para mulher e exclama: “Meia noite! Vamos mulher, tenho uma entrevista logo de manhã cedo...” Naturalmente os anfitriões vão até à porta levá-los para se despedir. Mas aí é que começa o papo. A mulher do sujeito começa a falar sobre um novo método de fazer permanente no cabelo. O visitante começa a contar sobre um plano em que vão construir um lago em sua propriedade para poder pescar à vontade. Resumo da ópera. Na porta de saída a conversa se estende por infindáveis trinta minutos, o vento frio batendo, enquanto lá dentro os demais convidados ficam sem a presença deles. E isso tudo, sem um bom charuto, uma dose de uísque nova, e por aí afora.
Vale a pena procurar por este livro sui generis. Eu o comprei há muitos anos atrás na Livraria Camões, no Edifício Avenida Central. A edição era de 1980. Não sei se houve outras de lá para cá. Mas, num bom sebo deve se encontrar. Vale o sacrifício. Pelas risadas. E pela análise hilariante de uma sociedade do ponto de vista de um Marx. Mesmo que seja o “menos marxista deles” (sic).

10 comentários:

Ieda Schimidt disse...

Sabes se não teria uma outra tradução de "Memórias de um Pinga Amor"? Ou pelo menos uma nova edição. Vou procurar porque fiquei muito curiosa de conhecer este livro.

Jonga Olivieri disse...

Lendo sua pergunta acessei a Livraria da Travessa (aqui do Rio) e vi que existe uma outra edição (portuguesa) da mesma Editora Assírio e Alvim, datada de 2000
Quanto a edições brasileiras não vi nada a respeito.

Eliana BR disse...

Tai um livro que me fara muito bem. Vou procura-lo correndo, em qualquer ediçao. Merci pela dica.
Bises,
Eliana

Jonga Olivieri disse...

Vale a pena, Eliana.
Você(s) vai(ão) amar porque o Groucho tem cada tirada.
Não sei como é a tradução em francês, mas pelo original --“Memoirs of a mangy lover”-- fica mais fácil.

Anônimo disse...

Ele tem um outro livro famoso, não tem?

Anônimo disse...

Como disse no seu outro post, pouco vi de filmes dele. Livro então nem se fala. Desculpe a ignorância do macaco (essa é velhja) mas não conheço mesmo. Mas sempre é tempo de começar.
Otávio

Jonga Olivieri disse...

"Groucho e eu" (Groucho and me) é o nome do outro livro dele. Que, apesar de ser mais conhecido do que este eu não li.

Jonga Olivieri disse...

Então comece, caro amigo...

Anônimo disse...

Genial! Genial mesmo este Groucho Marx!

Jonga Olivieri disse...

Na minha opinião uma das figuras mais geniais do cinema. E porque não dizer: do século vinte...