sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Castelos

Morei por três anos em Portugal. Lembro-me muito das viagens de fins de semana, quando pegava o carro, a família e virava um turista errante pelas estradas bucólicas do interior, a buscar castelos por paragens nunca d’antes navegadas. Pelo menos por mim...

Castelos. Nesse particular, Portugal é um país de uma riqueza incalculável. Não sei o número exato, mas passam dos duzentos. A cada nova cidade ou aldeia a gente esbarra com um desses fantásticos monumentos medievos. O país, com suas fronteiras sempre ameaçadas ao longo do tempo, seja pelos mouros ao sul, seja pelos espanhóis a leste, é um dos países com maior número e concentração de castelos/fortificações em todo o mundo.
Morando na cidade do Porto, o mais próximo e o primeiro que descobri foi o de Santa Maria da Feira, no Distrito de Aveiro. Pegando a auto-estrada que liga o Porto a Lisboa, chega-se lá em pouco mais de meia hora. Um castelo, cujos primórdios, a Torre de Menagem (hoje em ruínas), estima-se ter sido construída no ano de 1045. Mas uma construção grande e imponente, com muitas partes ainda inteiras. Foi emocionante a primeira vez que estive ali. Depois, voltamos algumas outras, inclusive com amigos e parentes que nos visitavam.
Mas foi também uma grande emoção conhecer o Castelo de Guimarães, cujas primeiras fundações datam de algo em torno de 950. Neste Dom Afonso Henriques fundou o Condado Portucalense em 1143, que viria a ser posteriormente o Reino de Portugal. Fica na bela cidade de Guimarães, e além do mais tem ao lado o Paço dos Duques de Bragança, uma construção mais recente (cerca de 1420), mas de uma importância histórica muito grande e que hoje é um museu com coleções de mobiliário, tapeçaria e porcelanas “Companhia das Índias”. O segundo piso do Paço é destinado ao uso do presidente da República Portuguesa, que tem ali hospedado autoridades do mundo inteiro, inclusive brasileiras.
Ainda no norte de Portugal encontram-se uma infinidade de castelos e construções similares como torres de igrejas ou mesmo igrejas (1) em estilo Românico ou gótico em profusão. É uma região muito habitada, e, nas estradas sucedem-se aldeias e cidades, cada uma delas exibindo os seus exemplares. Alguns maiores, outros menores. Alguns mais conservados, outros mais acabados. Mas, antes de tudo construções de uma beleza digna de ser exibida. Podem-se destacar os de Barcelos, Braga, Lanhoso, Celorico de Bastos, Melgaço, Vila Nova de Cerveira, Lindoso, Viseu ou o de Freixo-de-Espada-à-Cinta, que é exatamente o nome desta povoação. Isto só para citar alguns.
Não conheci todos os citados in loco. Por alguns, passei apenas ao largo. Em outros, tentei entrar e não consegui. Houve o caso de um deles em que brasileiros haviam roubado a chave que ficava com um casal responsável pelas visitas. E a vergonha que dá num momento desses? Lembro-me também de um, particularmente bonito e imponente, em Celorico da Beira, no distrito de Guarda em que batemos à grande porta e ninguém atendia. Já entediado de fazê-lo comecei a gritar: “Abram em nome d’El Rei!... Abram em nome d’El Rei!”.
Mais ao sul, encontramos o castelo de Leiria, famoso, bem ao alto, dominando a cidade do mesmo nome, que recebe mais de setenta mil visitantes por ano. Este castelo é muito antigo tendo feito parte de um plano para que o Condado Portucalense se expandisse para o sul, levando os Mouros a abandonarem a região. O de Óbidos, o de Pombal, o de Montemor-o-Velho. Ou o dos Mouros, em Sintra, onde também encontramos o Palácio da Pena, uma expressiva construção da arquitetura Romântica em Portugal. Ou o de São Jorge, dominando uma das colinas de Lisboa. Sem contar a monumental Catedral da Batalha, a meio do caminho para a capital. Ou o Mosteiro dos Jerônimos, em Belém, Lisboa, onde também encontra-se a Torre de Belém obra-prima do estilo Manoelino. Ah! O castelo de Tomar é imperdível! Cenário de vários estilos e épocas, foi também, segundo consta, uma fortaleza dos Templários.
Não posso deixar de me lembrar de Évora. A cidade alentejana, toda cercada por muralhas é impressionante. Naquela cidade, tomamos a melhor sangria que já tive a oportunidade de saborear. No seu distrito encontram-se também numerosos castelos como o de Valongo. Mas impressionante são as ruínas romanas do Templo de Diana, as mais conservadas de toda a Península Ibérica. Uma visão inesquecível. Ou como dizem os portugueses: “a não esquecer”.

(1) Se formos computar igrejas e torres, vamos ampliar o número de construções para alguns milhares.

8 comentários:

Ieda Schimidt disse...

Li uma vez que Portugal tem o maior número de castelos no mundo.

Anônimo disse...

Não conheci tantos castelos como você que morou em Portugal 3 anos. Mas os que conheci achei muito interessantes. Uma riqueza daquele país.

Jonga Olivieri disse...

Se não for o maior, pelo menos está perto...

Jonga Olivieri disse...

Sem dúvida nenhuma uma grande riqueza histórica e arquitetônica.

Anônimo disse...

Juro que me deu uma vontade louca de conhecer tudo isso.

Jonga Olivieri disse...

Você tem muito tempo para conhecer tudo isso.
Vale a pena um dia ir lá e conferir.

Stela Borges de Almeida disse...

Texto leve e informativo que me fez reler outro texto, desta vez do Peter Burke, que com outro propósito trata de estudos e relatos incluindo referências aos castelos, florestas e tesouros seculares. Mas neste seu texto memória, gostei das informações sobre o gosto dos vinhos tão apropriadamente lembrado nas suas notas. Procurei lembrar um filme que tratasse do tema ou que fosse ambientado nos locais citados por você, só me recordei do filme do Manoel de Oliveira, mas não se ambienta em castelos, trata-se de O convento, 1995.

Sobre as alusões políticas do tema, bem...isso fica noutro departamento.

Jonga Olivieri disse...

Gosto de rememorar fatos e locais que conheci por aquelas paragens.
Manoel de Oliveira é um fenômeno. Mais de 100 anos e em plena atividade. Algo surpreendente. Vi “Non, ou a vanglória de mandar” ainda em Portugal. Um filme em que a epopéia de D. Sebastião é marcante. Aliás, aquela batalha em que Camões perdeu um dos seus olhos e o desaparecimento do rei (e a espera de sua volta) é um fato importante na história daquele país.
Assisti “O convento” (passado em um belo prédio situado na serra da Arrábida) e penso que essas construções têm muito em comum com castelos. Algumas são até fortificadas, fruto de uma época de invasões e guerras por terras lusas, quando os mouros estavam na península e a coisa era séria.