quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Corrientes, 348...

Publicado em abril de 2008 no Pensatas...

Estivemos em Buenos Aires no ano de 1985. Até então, eu nunca saíra do Brasil (1). E o contato com uma cidade “quase” européia foi simplesmente deslumbrante, apesar de termos chegado durante a implantação do “Plano Austral”, coisa que bagunçou todo o câmbio e deixava a gente “mais perdido do que cego em tiroteio”.
Buenos Aires é uma cidade fantástica. Andar pela Calle Florida, descobrir as Confiterias e suas delícias na hora do chá. Percorrer os bares da Ricoleta, devorar um bife de chorizo numa casa de Parrillas, passear pela maravilhosa “Feira de Santelmo”, ou pegar a “Linha 1” do metrô com seus “bondes” velhos mas poéticos (2), são programas que não se podem deixar de fazer. Isto sem contar a “visita obrigatória” à casa de tango.
Como em Madri ou Barcelona, é comum verem-se casais adentrar a madrugada, com seus bebês dormindo a tiracolo, catando lugares em algum barzinho da vida para saborear um bom vinho. Aliás, também como na maioria das cidades espanholas, Buenos Aires parece que morre entre as seis e nove da noite. Aí então começa o burburinho, a grande invasão dos amantes da noite. Acho isso fora de série. Costumo dizer que se não fosse a violência, o Rio de janeiro seria sempre assim. E até, em certo sentido, já é. Está aí a Lapa que não me deixa mentir.
Cinco anos depois eu estava morando na Europa. E me lembrava que Buenos Aires fora uma espécie de estágio para aqueles momentos. A emoção que tive quando percorrí a avenida dos Champs Elisées com o “Arco do Triunfo” ao fundo não foi muito diferente daquela na noite em que cheguei na avenida Corrientes (3), cheia de gente alegre, e lembrei daquele número 348, que a imortalizou.

(1) Minha mulher já havia saído do Brasil, pois, trabalhara em turismo. Em determinada ocasião a PanAm, financiou uma verdadeira volta ao mundo para ela e outros agentes de viagem. No início de 1972, ela simplesmente conheceu Caracas, Nova Iorque, Tóquio, Hong Kong, Honolulu e Los Angeles, numa viagem de quase um mês de duração.

(2) O metrô de Buenos Aires, conhecido como “el subte” foi um dos primeiros do mundo. Inaugurada em 1913, a “Linha 1”, até hoje conserva seus carros originais. Por acaso, a estação dela ficava ao lado do nosso hotel, na esquina de Florida com 9 de Julho, quase em frente ao Teatro Colón.

(3) Este endereço da Avenida Corrientes foi imortalizado pelo tango “A media luz”, cuja letra narra os encontros amorosos entre jovens de classe alta e as mulheres da noite, “La Cumparsita” e outros.

8 comentários:

Anônimo disse...

Você é o poeta das recordações. O seu post sobre o D'ouro já foi de um lirismo. Agora este de Buenos Aires, que merece todos estes elogios. Corrientes é linda, a Feira de Santelmo é uma das mais singelas coisas do mundo. E a rivalidade com los hermanos é uma coisa que um dia teria de acabar.

Anônimo disse...

Gostei da expressão mais perdido do que cego em tiroteio no referente ao plano Austral. Estive lá também pouco depois da implantação dele e era uma baderna. Ninguém se entendia porque tinham notas de 1.000.000 de pesos que valimam poucos Austrais. Foi um verdadeiro sufoco. Mas Buenos Aires é linda e cheia de coisas pra fazer.
Otávio

Jonga Olivieri disse...

Obrigadaço JR. Não sabia ser tão poético. Em todo o caso, pensarei no assunto.
Os nossos 'hermanos'. Bom, hoje já existe uma outra relação. Não que não sejamos 'los macaquitos', mas existe mais respeito.
A Argentina caiu num buraco desde os anos 1950. Hoje sua economia não chega a ser comparável com Minas, ou talvez até o estado do Rio.
Buenos Aires está cheia de favelas... Talvez estejam caindo na real.

Jonga Olivieri disse...

Foi uma verdadeira "zorra" aquele negócio de Plano Austral, ufa!

Anônimo disse...

Buenos Aires deve ser mesmo muito bonita. Tenho muita vontade de conhecer a Argentina e o Chile. E acho que vou lá um dia.

Jonga Olivieri disse...

Vale a pena conhecer Buenos Aires. Também tenho vontade de voltar lá e rever tudo aquilo.

Ieda Schimidt disse...

Eu sou até suspeita para falar de Buenos Aires.
Garanto que com toda a decadência ainda é uma cidade que todos devem conhecer.

Jonga Olivieri disse...

Pelo jeito, 'su Buenos Aires querida'...