sábado, 18 de julho de 2009

A IV Internacional na América

Entre 1923 a 1928, Leon Trotsky com a Oposição de Esquerda, lutou dentro da URSS por uma política mundial para a III Internacional. Já exilado, em 1930, organizou a Oposição de Esquerda Internacional. Em 1933, a política stalinista levou à derrocada da esquerda alemã e à ascensão do nazismo. Trotsky concluiu que era necessário construir uma nova Internacional. A IV Internacional foi fundada em 1938.
O primeiro brasileiro que teria conhecido Trotsky foi Rodolpho Coutinho, dirigente do PCB, que debateu com o revolucionário russo alguns estudos seus em meados dos anos 1920. Mas foi com Mario Pedrosa, que muitas das rupturas do partido avançaram para o trotskismo, rompendo com o stalinismo e fundando a IV Internacional no Brasil.
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Militei no POR–T (1), Seção Latino-Americana da IV Internacional – posadista (2) entre 1965/70. De lá para cá, desde que me afastei da militância política em partidos, perdi o fio da meada. O que constatei, principalmente após o advento da internet, que muito facilitou as pesquisas, é que existem várias correntes trotskistas em nosso continente. Antes deste instrumento, estava completamente desorientado.
No movimento trotskista brasileiro, atualmente vamos constatar três tendências. As mandelista, lambertista e morenista (vamos vê-las adiante), em frações despedaçadas por algumas divergências estratégicas, mas não completamente antagônicas. Em 1963, houve uma tentativa de unificação em torno do Secretariado Unificado, que não conseguiu reunir todos os trotskistas. Os posadistas, o Comitê Internacional e a Organização Comunista Internacionalista, ambos liderados por Pierre Lambert ficaram de fora, frustrando todo e qualquer esforço de unificação.
Desde a década de 1970, diversas organizações que reivindicaram as posições da corrente trotskista identificada internacionalmente com o PTS argentino e depois com o MAS, cujo fundador e principal dirigente foi Nahuel Moreno, corrente internacional que hoje se organiza na Liga Internacional dos Trabalhadores – Quarta Internacional (LIT-QI). No Brasil o PSTU (Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado) está ligado a esta tendência.
Nos anos 1960/70 a onda “foquista” (3) também atingiu a IV Internacional (Secretariado Unificado), a organização mais forte do movimento trotskista naquele período. Orientados pela direção majoritária de Ernest Mandel, que capitulava à orientação “foquista” (guevarista), muitas seções nacionais do SU – especialmente o ERP na Argentina e o POR na Bolívia – aderiram à luta armada e foram dizimadas.
E hoje? Vamos tentar (4) decupar como estão aqui na América as facções no movimento que surgiu com a Oposição de Esquerda liderada por Trotsky contra os caminhos tomados por Stalin em sua teoria (antítese aos pensamentos de Marx) da construção do “socialismo em um só país”?.
Existem a LIT– QI (Liga Internacional dos Trabalhadores – Quarta Internacional), o PTS (Partido de los Trabajadores Socialistas) argentino, cisão do MAS (Movimento al Socialismo) tambem argentino e da LIT– QI, o PO (Partido Obrero) argentino, o POR (Partido Obrero Revolucionário) boliviano, a FT– QI (Fração Trotskista – Quarta Internacional) e a LER– QI (Liga Estratégica Revolucionária – Quarta Internacional), isto para citar as mais representativas. Nos Estados Unidos o SWP (Socialist Works Party) separou-se do pensamento trotskista em 1985, mas foi fundado em 1938 por apoiar Trotsky numa cisão da Liga Comunista da América.
Fica deste resumo uma realidade bastante clara: a falta de unidade do movimento. Um fator muito comum às esquerdas de um modo geral (5). A direita sempre pensa de forma uníssona por defender a propriedade e o poder constituído. Desde a Revolução Francesa (1789) isto ficou bastante evidente. Pouco mais de um ano depois, a divisão das esquerdas facilitou o golpe de 18 de Brumário. E o início do império Napoleônico.

(1) Partido Operário Revolucionário – Trotskista.
(2) No começo dos anos 60, um novo grupo destacou-se da IV Internacional, a facção liderada pelo argentino J. Posadas (pseudônimo de Homero Cristali), que desenvolveu uma concepção terceiro-mundista da revolução mundial.
(3) O “foquismo" foi uma tendência de vários setores da esquerda que achavam a guerrilha a única solução para a América e todo o Terceiro Mundo.
(4) Quando digo tentar, quero me referir às fontes bastante incompletas e cada uma tentando reivindicar para si uma posição autêntica; o que até é compreensível.
(5) Existe uma tentativa intitulada “Refundação da IV Internacional”cujo primeiro encontro foi em Buenos Aires no ano de 1997, mas nem todas as tendência se integraram a ela.

6 comentários:

Ieda Schimidt disse...

Esta tua postagem arrazou, guri! Tu sabe que eu também sou de formação trotskista. E tem mais: sou anti-leninista, porque creio que o golpe de Estado na Rússia foi uma porraloquice total.
Um marxista não pode pensar como ele pensou. Lenine, e não somente Stalin foram os culpados de tudo que se desdobrou na URSS. A burocratização do socialismo começou com ele.
Não é por acaso que Trotsky era Menchevique. Os Mencheviques tinham uma uma interpretação histórica muito mais alinhada com as idéias de Marx. Veja-se Plekanov. Suas análises obre o papel do indivíduo na historia é fantástico e acrescenta o pensamento Marxista.
De qualquer forma a situação da IV é braba. Acho que já é tempo de se pensar numa V Internacional.

Jonga Olivieri disse...

Essa questão de Lênin é polêmica ao extremo.
Mas eu concordo que ele teve um posicionamento que favoreceu bastante o golpe que Stalin desfechou pouco tempo depois de sua morte.
No tocante às posições de Trotsky, este tinha um grande conhecimento do Materialismo Histórico. Muitos Mencheviques (como o citado Plekhanov) tambem tinham um embasamento teórico de respeito.
Na corrente Bolchevique havia militantes mais "rasteiros", como Stalin, que era um politiqueiro barato e fraco em sua formação e conhecimento das ideias de Marx.
Mas o momento histórico facilitou seu caminho rumo ao poder, e, em apenas dez anos ele se estabeleceu como o "Grão-Czar de todas as Rússias" como lhe chamou Isaac Deutscher na sua biografia.

Anônimo disse...

Você se esforçou para tentar resumir a atual situação da IV na América Latina. Mas faltou alguma coisa importante.
O POR da Bolívia foi uma das mais, senão a mais importante organização trotskista do período após a II Guerra Mundial, com decisiva participação no movimento revolucionário da classe operária do seu próprio país.
A Bolívia conheceu o mais importante processo revolucionário da América do Sul após os anos 30 com a Revolução Boliviana de 1952, onde a classe operária, dirigida pelos trabalhadores mineiros, desempenhou o papel de principal protagonista.
A importância e o desenvolvimento do POR estão intimamente ligados a este processo político. No final dos anos 40, o POR, fundado por José Aguirre Gainsborg nos anos 30 e que havia tido importante participação na situação revolucionária que se seguiu à Guerra do Chaco, havia caído em um completo marasmo após a morte acidental do seu fundador e principal inspirador.
Guillermo Lora, dirigente histórico do Partido Operário Revolucionário boliviano faleceu no dia 17 de maio com 87 anos em La Paz. Foi o personagem mais importante do século XX na Bolívia. Dedicou sua vida à militância política, desde a juventude, nos anos 40, quando levou o programa da IV Internacional ao proletariado mineiro. Autor das famosas Teses de Pulacayo, Lora fincou seu legado político na luta da classe operária do país. Foi um dos últimos velhos dirigentes trotskistas da geração de Cannon, Moreno, Mandel e Lambert a falecer.
P. Quiroga

Jonga Olivieri disse...

Você esclareceu alguns pontos importantes para mim, Quiroga.
Eu havia lido sobre a morte de Guillermo Lora.
Mas não sabia de sua importância frente ao importante movimento boliviano, que de fato foi uma ação de massas e operária com a liderança dos trabalhadores em minas.
Consequência das divisões do movimento no continente, pois uma facção acaba não divulgando o que as outras fazem.

maria disse...

Fico deslumbrada com o seu conhecimento e a vivencia nessa área, mas confesso que a única coisa que faço ao ler uma postagem dessas é aprender.

Jonga Olivieri disse...

Obrigado Maria.
É bom saber que a gente está passando um pouco de conhecimento aos outros.
Mas, como disse na matéria (e o Quiroga complementou), apesar de ter sido um militante, pouco conheço da IV Internacional desde que me afastei de seus quadros.
A verdade é que às classes dominantes não interessa divulgar notícias sobre setores da esquerda, a não ser que estejam comprometidos com atos violentos, como os que eles chamam de "terrorismo".
Daí fica difícil se obter novas informações. Até porque trotskistas tendem a apostar mais no movimento de massas do que em atos imediatistas e inconsequentes.
O meu partido era contra o “foquismo”, a que até alguns setores da IV aderiram, mas garanto que foram poucos.