domingo, 27 de junho de 2010

Cenas de domingo

Cena 1
Estava outro dia a assistir “A grande família”, certamente o único programa da Rede “Grobo” que me permito ver. Um pelo seu texto primoroso, cujos diálogos conseguem ser inteligentes. Dois porque as situações são de fato engraçadas. Não é à toa que o original e a inspiração do programa foi do Vianinha.
Mas estava eu a falar sobre o fato de assistir ao referido “teatrinho televisivo” quando comecei a pensar que aquele subúrbio era meio que idealizado... Que não existe uma periferia daquele tipo e qualidade, quando me lembrei que há muito tempo atrás –quase 40 anos – esteve aqui no Rio o meu primo Alberto; e veio com um amigo.
Pois bem, o tal amigo tinha uma parenta que morava num subúrbio da vida, longe pra dedéu. Ele me perguntou e eu não sabia onde seria o tal do bairro que não me recordo o nome. Mas prontamente peguei um Guia Rex (na época era este) e nos pusemos a pesquisar. Até que eu saquei o caminho e combinamos lá ir, no dia seguinte.
Acordamos cedinho. Fomos para o carro e pusemo-nos a caminho. Foi uma longa jornada.
Mas o choque foi à chegada. O tal subúrbio era um bairrozinho gostoso, arborizado, cujos nomes de ruas eram todos de pedras, como Rua Rubi, Turmalina, etc. Limpo e organizado era uma utopia real! A gente o via, a gente o sentia, estávamos lá, naquele cena maravilhosa que eu nunca pensei que existisse! Mas pelo menos “existiu” algures...

Cena 2
Tenho sempre referido neste blogue à questão de que o “politicamente correto” cortou o lado mais engraçado das piadas. Sim. Aquele negócio de dizer que a “bicha” entrou no recinto e deu um gritinho já não é permitida. Assim como outras designações que definiam de cara uma cena hilariante. Tinha a velha piada do“negão” por exemplo. Pois bem, esta palavra tambem caiu na lista das proibidas. Daí você dizer que o afro descendente ia andando pela rua, etc, não tem lá muita graça. Mas pelo menos para esta eu arranjei uma expressão que, creio eu a substitui à altura. É o “afrão” descendente. Pelo menos aí acho que pode ficar mais próxima do original...

Cena 3
Tem um casal amigo nosso que mora em São Paulo desde os anos 1970. O Gustavo ainda menino ia conosco e amava o fato de ter seus “priminhos” postiços para brincar era ótimo. E durante muitos anos nós fomos, em torno de duas vezes por ano em Sampa porque era bom para nós e para ele. Com essa história fizemos passeios memoráveis ao Simba Safari, ao Parque da Água Branca e tantos outros, até difíceis de enumerá-los em sua totalidade.
Mas eles que moravam na Alameda Joaquim Eugênio de Lima, ali, pertinho da Avenida Paulista de onde a gente ia para qualquer lugar resolveram comprar um apartamento e saíram daquela região privilegiada, cheia de cinemas, restaurantes e fast-foods da vida; e o compraram num bairro mais distante, perto do Morumbi. Um ótimo apartamento, mas daqueles que a gente tem que pegar o carro para chegar à civilização.
Porem, uma Universal dessas resolveu instalar uma grande igreja num terreno baldio que ficava ao lado do condomínio em que moravam. E, cúmulo da falta de sorte, no muro colado ao lado deles. Aí começaram as noitadas de rezas e ruídos. Daqueles que não deixavam as pessoas dormirem, que tinha até que se chamar a polícia. Enfim, um verdadeiro transtorno na vida de quem tem mais o que fazer na manhã seguinte.
Numa noite daquelas, o nosso amigo, que é alto e barbudo, pegou uma manta vermelha e chegou na varanda do seu apê, levantou os braços e gritou. Gritou para valer e mais de uma vez: “Eu sou o diaaabooo! Nós não estávamos lá, mas pelo que ele contou, foi uma verdadeira polvorosa entre os “crentes” lá embaixo. A coisa deu tanto o que falar que ele repetiu a cena por várias noites alternadamente.
Bom, hoje eles saíram de lá e compraram um outro no Brooklin... Pelo menos lá não há “igrejotas” do bispo Macedo! Ou qualquer outra...

Cena 4
Uma cena patética, mas tal e qual já havia acontecido com o (des)governador Sérgio Cabral aqui no Estado do Rio, agora os tambem picaretas e governadores de Pernambuco, Eduardo Campos, e de Alagoas, Teotônio Vilela Filho, afirmaram na quarta-feira passada, em visita às áreas atingidas por enchentes nos dois Estados, que comprovaram que as fortes chuvas da semana passada “superaram qualquer previsão meteorológica”. As referidas enchentes já contabilizam 51 mortos em consequência da tragédia. E nenhum deles fala em responsabilidades (ou seriam irresponsabilidades?) do governo quanto a medidas prévias. É como se as administrações nunca tivessem culpa alguma do ocorrido. É tudo culpa única e exclusivamente da natureza...

11 comentários:

André Setaro disse...

Mudando o lugar geográfico, lembro-me, aqui na Bahia, cidade íngreme por excelência, dividida em Cidade Alta e Cidade Baixa, morador da primeira, de ir, quando jovem, semanalmente, à Ribeira, que ficava na segunda. Que lugar aprazível! Cheio de árvores com suas sombras, uma fileira de casas antigas, as ruas calçadas com aquelas pedras - sem asfalto, uma sorveteria famosa etc. Parecia que estava numa cidade interiorana. Mas, atualmente, por incrível que pareça, não se encontra paz e sossego nem nas cidades do interior baiano. A violência impera por tudo e em qualquer vila.
Aliás, a velha província da Bahia, nos anos 60, era deliciosa. Cheguei a pegar, nos 50, os bondes, com seus motorneiros fardados. Andava-se pela cidade, transitava-se na 'urbis', o que, hoje, é praticamente impossível. O baiano (e os brasileiros - de um modo geral)vive dentro de sua jaula doméstica.

O amigo a que você se refere (de Bebeto) é "G?"

André Setaro disse...

"A Grande Família" é, sem dúvida, o melhor 'seriado' da Globo. Há, nele, um certo humor ingênuo que pode fazer lembrar os programas de outros tempos, ainda que, evidentemente, com a sua contextualização nos nossos tempos.

Em outra 'cena', você se refere ao politicamente correto. Detesto tudo que seja politicamente correto. Sou, em essência e por natureza, politicamente incorreto. Adoro piadas de judeus, de gays, de português etc.

Bata-me, por favor, um abacate!

Jonga Olivieri disse...

Tambem odeio tudo que se refira a "politicamente correto". Não somente em piadas, mas sem dúvida que neste particular puxaram o tapete às palavras mais engraçadas, como aliás me refiro especificamente na nota sobre o assunto neste domingo.

Ieda Schimidt disse...

As condições e a qualidade de vida no Brasil pioraram demasiado. Cidades cresceram sem nenhum controle, pessimamente administradas. Bairros da burguesia se transformaram em alvos para assaltantes gerando uma violência gigantesca.
A periferia deteriorou-se de forma mais acentuada. Bairros como este citado por você não têm mais espaço para sobreviver me meio a quadrilhas de traficantes.
Ainda mais com governadores que só querem encher os bolsos e culpam a natureza por tudo que a população venha a sofrer.

Jonga Olivieri disse...

Houve aí um probleminha e os comentários se inverteram. Como tambem só volteri agora, inverteram-se tambem as respostas. Esta vai para a primeira, André.
A sua recordação da velha Bahia (Slavaodr) dos bons tempos dos 50/60 do século passado, lá se vai mais de meio século são bucólicos.
E de um mundo que não existe mais neste império de violência em que vivemos neste mundo pós-histórico...
Quanto ao amigo de Bebeto, não me lembro do nome. Mas é um que tinha mania de enrolar o acelerador e manter o "carrinho" limpissimo. Mas o nome? Só o vi desta vez!

Jonga Olivieri disse...

É isso aí Ieda. Como comentei na resposta anterior, aquele mundo acabou!

Em tempo e corrigindo: na resposta acima a cidade entre parênteses é "Salvador"... Putz saíu uma palavra inelegível!

Anônimo disse...

A grande Família é um grande programa cômico.
Mas penso a mesma coisa. Aquilo é um bairro de Zona Sul ou um Grajaú da vida. Jamais um subúrbio. Como você disse é Utopia. Pura Utopia!
Agora o caso do seu amigo assustando os "biblias" é demais. Devem ter achado que era o Diabo mesmo. Deus me livre!

Jonga Olivieri disse...

Gosto demais disso tambem. Imagino os caras olhando pra cima apavorados...

maria disse...

Mas este suburbio existiu mesmo? Ou é uma obra de ficção das suas?
Porque mesmo no passado isso é difícil de acreditar.

Jonga Olivieri disse...

Existir, existiu... Beleive, or not!

Jonga Olivieri disse...

Postei um comentário ontem e não assinei.
Tomáz