Através da leitura de Pierre Lévy, um “infilósosfo”, ou filósofo da informática, tem-se aberto e/ou consolidado para mim uma nova dimensão do universo. É como se estivéssemos a viver uma ficção científica, sendo nós mesmos os seus personagens. Abaixo alguns trechos de textos (1) que provam esta realidade de ampliação da cultura com o advento do computador, e, mais ainda com a expansão da web.
“...Com o advento da escrita, o saber é carregado pelo livro. O livro, único, indefinidamente interpretável, transcendente, que contém supostamente tudo: a Bíblia, o Alcorão, os textos sacros, os clássicos, Confúcio, Aristóteles… No caso, o intérprete é que domina o conhecimento. Desde a prensa até esta manhã, um terceiro tipo de conhecimento vê-se assombrado pela figura do cientista, do científico...”
“... Quando Diderot e d’Alembert publicavam sua grande Enciclopédia. Até aquele momento, então, um pequeno grupo de homens podia ter a esperança de dominar a totalidade dos saberes (ou ao menos os principais) e propor aos outros o ideal desse domínio. O conhecimento ainda podia ser totalizado, somado. A partir do século XIX, com a ampliação do mundo, com a progressiva descoberta de sua diversidade, com o crescimento cada vez mais rápido dos conhecimentos científicos e técnicos, o projeto de domínio do saber por um indivíduo ou um pequeno grupo tornou-se cada vez mais ilusório. Tornou-se hoje evidente, tangível para todos, que o conhecimento passou definitivamente para o lado do não-totalizável, do indominável. Não podemos senão desistir...“
“... A partir do século XX, com a ampliação do mundo, a progressiva descoberta de sua diversidade, o crescimento cada vez mais rápido dos conhecimentos científicos e técnicos, o projeto de domínio do saber por um indivíduo ou por um pequeno grupo tornou-se cada vez mais ilusório...”
“... O saber-fluxo, o saber-transação de conhecimento, as novas tecnologias da inteligência individual e coletiva estão modificando profundamente os dados do problema da educação e da formação. O que deve ser aprendido não pode mais ser planejado, nem precisamente definido de maneira antecipada. Os percursos e os perfis de competência são, todos eles, singulares e está cada vez menos possível canalizar-se em programas ou currículos que sejam válidos para todo o mundo...”
“... O essencial, porém, reside num novo estilo de pedagogia que favoreça, ao mesmo tempo, os aprendizados personalizados e o aprendizado cooperativo em rede. Nesse quadro, o docente vê-se chamado a tornar-se um animador da inteligência coletiva de seus grupos de alunos, em vez de um dispensador direto de conhecimentos.
A segundo reforma envolve o reconhecimento do aprendido. Ainda que as pessoas aprendam em suas experiências profissionais e sociais, ainda que a escola e a universidade estejam perdendo progressivamente seu monopólio de criação e transmissão do conhecimento, os sistemas de ensino públicos podem ao menos dar-se por nova missão a de orientar os percursos individuais no saber e contribuir para o reconhecimento do conjunto de know-how das pessoas, inclusive os saberes não-acadêmicos...”
“... Na Web, tudo está no mesmo plano. Não obstante, tudo está diferenciado. Não há nenhuma hierarquia absoluta, e cada sítio é um agente de seleção, de encaminhamento ou de hierarquização parcial. Longe de ser uma massa amorfa, a Web articula uma multidão aberta de pontos de vista; porém, essa articulação opera-se transversalmente, em rizoma, sem ponto de vista de Deus, sem unificação superior. Que esse estado de coisas gera confusão, cada um o reconhece. Novos instrumentos de indexação e pesquisa precisam ser inventados, conforme atesta a riqueza dos trabalhos atuais sobre a cartografia dinâmica dos espaços de dados, os “agentes” inteligentes ou a filtragem cooperativa das informações. Ainda assim, quaisquer que sejam os progressos vindouros das técnicas de navegação, é muito provável que o ciberespaço conserve sempre seu caráter profuso, aberto, radicalmente heterogêneo e não-totalizável...“
“...Ouve-se às vezes, porém, o argumento de que certas pessoas passam horas ‘frente à tela’, isolando-se dos outros. Não resta dúvida de que não podemos encorajar os excessos. Mas será que dizemos de quem lê que ele ‘passa horas diante de papel’? Não. Porque a pessoa que lê não está se relacionando com uma folha de celulose, mas está em contato com um discurso, com vozes, com um universo de significado que ela contribui para construir, para habitar com sua leitura. Que o texto esteja numa tela não muda em nada o fundo da questão. Trata-se ainda de leitura, embora, conforme vimos, as modalidades da leitura tendam a transformar-se com os hipertextos e a interconexão geral...”
(1) Os textos acima, foram compilados de “Cibercultura”, de Pierre Lévy.
“...Com o advento da escrita, o saber é carregado pelo livro. O livro, único, indefinidamente interpretável, transcendente, que contém supostamente tudo: a Bíblia, o Alcorão, os textos sacros, os clássicos, Confúcio, Aristóteles… No caso, o intérprete é que domina o conhecimento. Desde a prensa até esta manhã, um terceiro tipo de conhecimento vê-se assombrado pela figura do cientista, do científico...”
“... Quando Diderot e d’Alembert publicavam sua grande Enciclopédia. Até aquele momento, então, um pequeno grupo de homens podia ter a esperança de dominar a totalidade dos saberes (ou ao menos os principais) e propor aos outros o ideal desse domínio. O conhecimento ainda podia ser totalizado, somado. A partir do século XIX, com a ampliação do mundo, com a progressiva descoberta de sua diversidade, com o crescimento cada vez mais rápido dos conhecimentos científicos e técnicos, o projeto de domínio do saber por um indivíduo ou um pequeno grupo tornou-se cada vez mais ilusório. Tornou-se hoje evidente, tangível para todos, que o conhecimento passou definitivamente para o lado do não-totalizável, do indominável. Não podemos senão desistir...“
“... A partir do século XX, com a ampliação do mundo, a progressiva descoberta de sua diversidade, o crescimento cada vez mais rápido dos conhecimentos científicos e técnicos, o projeto de domínio do saber por um indivíduo ou por um pequeno grupo tornou-se cada vez mais ilusório...”
“... O saber-fluxo, o saber-transação de conhecimento, as novas tecnologias da inteligência individual e coletiva estão modificando profundamente os dados do problema da educação e da formação. O que deve ser aprendido não pode mais ser planejado, nem precisamente definido de maneira antecipada. Os percursos e os perfis de competência são, todos eles, singulares e está cada vez menos possível canalizar-se em programas ou currículos que sejam válidos para todo o mundo...”
“... O essencial, porém, reside num novo estilo de pedagogia que favoreça, ao mesmo tempo, os aprendizados personalizados e o aprendizado cooperativo em rede. Nesse quadro, o docente vê-se chamado a tornar-se um animador da inteligência coletiva de seus grupos de alunos, em vez de um dispensador direto de conhecimentos.
A segundo reforma envolve o reconhecimento do aprendido. Ainda que as pessoas aprendam em suas experiências profissionais e sociais, ainda que a escola e a universidade estejam perdendo progressivamente seu monopólio de criação e transmissão do conhecimento, os sistemas de ensino públicos podem ao menos dar-se por nova missão a de orientar os percursos individuais no saber e contribuir para o reconhecimento do conjunto de know-how das pessoas, inclusive os saberes não-acadêmicos...”
“... Na Web, tudo está no mesmo plano. Não obstante, tudo está diferenciado. Não há nenhuma hierarquia absoluta, e cada sítio é um agente de seleção, de encaminhamento ou de hierarquização parcial. Longe de ser uma massa amorfa, a Web articula uma multidão aberta de pontos de vista; porém, essa articulação opera-se transversalmente, em rizoma, sem ponto de vista de Deus, sem unificação superior. Que esse estado de coisas gera confusão, cada um o reconhece. Novos instrumentos de indexação e pesquisa precisam ser inventados, conforme atesta a riqueza dos trabalhos atuais sobre a cartografia dinâmica dos espaços de dados, os “agentes” inteligentes ou a filtragem cooperativa das informações. Ainda assim, quaisquer que sejam os progressos vindouros das técnicas de navegação, é muito provável que o ciberespaço conserve sempre seu caráter profuso, aberto, radicalmente heterogêneo e não-totalizável...“
“...Ouve-se às vezes, porém, o argumento de que certas pessoas passam horas ‘frente à tela’, isolando-se dos outros. Não resta dúvida de que não podemos encorajar os excessos. Mas será que dizemos de quem lê que ele ‘passa horas diante de papel’? Não. Porque a pessoa que lê não está se relacionando com uma folha de celulose, mas está em contato com um discurso, com vozes, com um universo de significado que ela contribui para construir, para habitar com sua leitura. Que o texto esteja numa tela não muda em nada o fundo da questão. Trata-se ainda de leitura, embora, conforme vimos, as modalidades da leitura tendam a transformar-se com os hipertextos e a interconexão geral...”
(1) Os textos acima, foram compilados de “Cibercultura”, de Pierre Lévy.
10 comentários:
“...Ouve-se às vezes, porém, o argumento de que certas pessoas passam horas ‘frente à tela’, isolando-se dos outros. Não resta dúvida de que não podemos encorajar os excessos. Mas será que dizemos de quem lê que ele ‘passa horas diante de papel’? Não. Porque a pessoa que lê não está se relacionando com uma folha de celulose, mas está em contato com um discurso, com vozes, com um universo de significado que ela contribui para construir, para habitar com sua leitura. Que o texto esteja numa tela não muda em nada o fundo da questão. Trata-se ainda de leitura, embora, conforme vimos, as modalidades da leitura tendam a transformar-se com os hipertextos e a interconexão geral...”
Acontece, porém, que aquele que lê geralmente, exceção se faça aos 'leitores dinâmicos', se encontra em total conexão com o que está escrito, enquanto o internauta passa horas na internet em 'zapping', se assim se pode dizer, mais preocupado em conversar através de engenhocas como o MSN, Orkut e assemelhados.
Ou, como é de praxe, em sites de 'putaria', que abundam no espaço virtual.
Se há uma possibilidade de o mundo se transformar, a internet nos trouxe...
As grandes modificações por que passará a nossa sociedade nos planos de conservação da espécie e redistribuição da renda estão hoje em pleno nesta forma de comunicação pessoal/coletiva em que liberdade de comunicação torna-se mais e mais evidente em pequenos núcleos que podem enfrentar de 'facto' a grande mídia massificadora e mentirosa.
As classes dominantes estão em pânico. Uma sombra se deita sobre os seus poderes... Porque "Seres humanos de todo o mundo, uni-vos" é uma evidência cada vez mais real, mais palpável neste mundo virtual.
A Infilosofia tem de fato se tornado um aprofundamento da reliade do quotidiano do ser humano neste novo milênio.
E o autor que tu escolheu para citar nesta postagem é o top dos tops entre eles.
Parabéns guri... siga me frente.
É um campo novo nos estudos do comportamento humano.
Mas sem dúvida vivemos isto no dia a dia. Nem sequer precisamos fazer força para saber o por que!
Basta estar diante do computador para se entender.
Esses profetas do ciberespaço merecem atenção, este livro que você menciona ainda não lí, os trechos que você seleciona me alertam para vários aspectos, entre eles: o aprendizado cooperativo em rede, a multidão de pontos de vista na web, as leituras de internet etc. etc. São pontos a serem vistos com vagar.
Mas, esta semana recebi um caixa com a trilogia de Matrix. Jamais teria contemplado essa trilogia não fosse a busca de entender as "infilosofias" que estão subsumidas no "deserto real". Pierre Lévy que o diga.
Achei um pouquinho de exagero centrar na internet a complexa e paradoxal Torre de Babel.. sei não...e ainda tem os "sites de putaria" que André Setaro menciona, êle só não disse a fonte, está também lendo Pierre Lévy? (rs)
Gostei da imagem selecionada no post, tem o mesmo verde de Matrix. Ando procurando uma crítica de base sobre essa trilogia.
Stela, há uma mudança/revolução na comunicação da humanidade.
E o que mais me impressiona em tudo isto? A ossibilidade cada vez maior de se romper o monopólio da mídia burguesa... Principalmente a grande mídia, aquela que, alegando estar a informar, nos (des)orienta.
A comunicação interpessoal, principalmente a partir das chamadas redes sociais abre novas perspectivas e horizontes.
Mas será que isto vai durar quanto tempo? Haverá liberdade alem do tempo necessário a que as classes dominantes tomem suas providências? Sim, porque na "democracia" ocidental-cristã a liberdade somente é possível enquanto não ameaça (realmente) o sistema, ameaçando-o.
Que universo amplo, gente! Parece coisa de ficção científica. É como Matrix. Você assistiu?
Que coisa fantastica esse Lévy. Eu não conhecia nada dele e fiquei curiosa de ler algum livro seu. Vou procurar ainda hoje no Google.
O pior é que até hoje não assisti 'Matrix', eu caro 'sailor man'.
É como 'Avatar'. Só que este, não tenho a intenção de ver jamais... 'Matrix' eu juro que vou pegar da próxima vez que for à locadora. E não precisa ser na Estação, pois, creio eu, ele é encontrado em qualquer boteco!
Pois vá menina. O próprio 'Cibercultura' encontrarás, e se não conseguir, mando-lhe o link...
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