domingo, 15 de julho de 2012

Pensatas de domingo, o voto nulo e a consciência tranquila

Charge publicada na “Tribuna na Internet” mostra a desmoralização
da classe política brasileira

Alguns leitores devem ter notado que postei na terça feira um novo anúncio no cabeçalho deste blogue, desta feita referente ao voto nulo. Explico abaixo o meu raciocínio e porque defendo esta posição.

No Brasil de hoje os cidadãos têm medo do futuro. Os políticos têm medo do passado.
Millôr Fernandes

Desde 2002 anulo meus votos. E não me arrependo desta atitude. Com isso evitei eleger presidentes, governadores, prefeitos, senadores, deputados federais, estaduais e vereadores que só fazem agir em interesse próprio... Ou pior ainda, no interesse da burguesia, e, principalmente dos grupos econômicos que os elegeram.
  
Como publicitário, trabalhei em campanhas políticas nas eleições deste período, unicamente para atender a necessidades de prover minha família do necessário para viver. Mas doeu... E muito! Foi uma tarefa meramente profissional, no entanto, este ano, tive o prazer de recusar duas ofertas porque resolvi me aposentar de uma vez por todas dessas funções. E dormir com a consciência muito limpa.
   
Iniciei por conta própria esta campanha do voto nulo porque as eleições já se aproximam. No próximo mês (agosto) tem início a propaganda gratuita na TV e começa a massificação da mídia em nossas cabeças. Começam tambem as dúvidas de cada um sobre a necessidade do voto útil. Coisa que fiz durante muito tempo para barrar a direita. Ora, mas afinal o que é direita e esquerda nesta farsa eleitoral? Os partidos que estão no circuito da “democracia” existente estão aí porque não são perigosos ao status quo. Ou caso sejam considerados “perigosos”, são permitidos porque não oferecem o risco de obter muitos votos; até por serem partidos mais pobres e fracos, e consequentemente têm pouca verba e pouco tempo nos horários de publicidade gratuita...
  
No Brasil em particular, posições políticas se confundem com raras exceções. É possível um deputado sair do PSDB e migrar para o PSB sem o menor senso de autocrítica desta atitude. Não existe tradição ideológica na maioria dos partidos, embora essa maioria seja alinhada com a direita ou são “sacos de gatos” como o PMDB. E é comum encontrar publicidade de políticos que nem citam a agremiação à qual pertencem. Na semana passada li um anúncio na revista IstoÉ que se enquadra neste formato.
  
Tenho minhas simpatias pelo PSOL (Partido Socialismo e Liberdade). Os demais que poderíamos considerar de esquerda, o PCO (Partido da Causa Operária) e PSTU (Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado), insistem em uma linguagem ultrapassada que remonta aos tempos da guerra fria, o que os distancia de uma comunicação mais eficiente. Acho importante que se compreenda o tempo em que se vive. A vida é dialética e é necessário que a mensagem seja atual para ser aceita pelas massas.
  
É importante ressaltar que o PT não é (nem nunca foi) um partido de esquerda. Ele nasceu de uma sinistra estratégia articulada pelo tambem sinistro Golbery do Couto e Silva (eminência parda da ditadura) e o governo dos EUA, com apoio direto da CIA para neutralizar Leonel Brizola, um verdadeiro pavor para os imperialistas estadunidenses, que não o queriam ver de forma alguma alcançando a presidência do Brasil. Aliás, Lula deixou-se fotografar recentemente aos abraços com o notório direitista e corrupto (procurado pela Interpol) Paulo Salim Maluf quando da indicação de Haddad à prefeitura de São Paulo. Um político de esquerda jamais aceitaria, sequer imaginaria uma aliança dessas! Para início de conversa, este mesmo Lula, logo após a fundação do seu partido esteve nos Estados Unidos, onde foi orientado por dirigentes dos viciados e reacionários sindicatos AFL/CIO.
E quem votou no Lula? Como é que fica? Se tivesse anulado o voto não teria dores de consciência.
  
Ao longo do tempo, venho postando neste blogue matérias sobre a farsa democrática no “mundo ocidental”. E a essência de tudo está no fato de que os grupos econômicos, liderados pelas multinacionais e o imperialismo é que manipulam o voto com vultosas verbas destinadas às eleições. E é claro que isto tem um preço. O candidato eleito com doações de uma empresa ou um determinado conjunto de empresas tem que ser fiel a estas alianças nos momentos em que precisem de seu apoio para “negociatas” frente ao governo, como concessões em obras públicas e outros benefícios. Na realidade o que temos instituída é uma “Ditadura da Burguesia”.
  
Acabamos de viver o escândalo do bicheiro Carlinhos Cachoeira, que foi batizado de Cachoeiragate, e a inevitável cassação do senador Demóstenes Torres (ex DEM Goiás), um dos líderes da “bancada ética” do senado (1), por uma goleada de 56 a 19 votos. E quando digo inevitável é porque caso não acontecesse seria o que se pode classificar de “o fim da picada”. Outrossim, se todos os casos de corrupção fossem apurados, mais de dois terços do senado estaria no “olho da rua”, inclusive o seu presidente José Sarney. E, por incrível que possa parecer, anteriormente apenas o senador Luiz Estevão (PMDB DF) teve o seu mandato suspenso em 28 de junho de 2000.
  
Finalizando, Wilder Pedro de Morais, suplente de Demóstenes Torres tambem tem ligações comprovadas com Carlinhos Cachoeira. Entre outras, ele foi marido de Andressa, atual mulher do bicheiro.
E quem votou no Demóstenes? Como é que fica? Se tivesse anulado o voto não teria dores de consciência.
  
Nos últimos quatro meses o PSOL assumiu um papel de destaque nesta CPI que incluiu o Cachoeiragate, apenas uma pontinha no iceberg de toda a sua extensão.
  
Por outro lado, o Cachoeiragate alcançou uma gama bem maior de políticos. A Delta, uma construtora repleta de ligações suspeitas em todo o Brasil, inclusive com o bicheiro, envolvem Sergio Cabral, o governador do Rio de Janeiro (2), muito ligado a seu proprietário (Fernando Cavendish), dono do helicóptero em que houve um acidente com sete vítimas fatais no sul da Bahia em 17 de junho de 2011, o qual o governador e sua família (3) estavam utilizando em viagem de recreio para comemorar o aniversário do empresário.
  
O caso foi devidamente “blindado”. Aliás, Cabral, com auxilio da grande mídia tambem conseguiu “blindar” suas ligações com Cavendish, saindo pela tangente.
Porem, nos bastidores dos institutos de pesquisa, corre que a queda de prestigio de Cabral foi vertiginosa. O prestígio caiu principalmente entre os chamados formadores de opinião, o que pode gerar consequências para a campanha do prefeito Eduardo Paes que disputará a reeleição deste ano com apoio do governador.
E quem votou no Cabral? Como é que fica? Se tivesse anulado o voto não teria dores de consciência.

Por essas e outras defendo e faço campanha pelo voto nulo!

1. Afinal, honestidade tem que ser pré-requisito, não plataforma política...

2. Muitas obras no Rio de Janeiro, inclusive a reforma do Maracanã, estavam a cargo da Delta. Apenas em 2011, portanto já no segundo governo de Cabral, a empresa faturou cerca de R$ 1.490 bilhão saídos dos cofres do Estado. Investigações chegaram ao envolvimento da Delta em esquema de financiamento de campanhas eleitorais junto com o bicheiro Carlinhos Cachoeira. Foi alem: esbarrou em esquema de superfaturamento de obras, através da assinatura de aditivos aos contratos iniciais firmados em valores subestimados, sempre mediante pagamento de propinas a servidores públicos.

3. O governador ia embarcar na viagem seguinte à do acidente no qual, entre outros, morreu Mariana Noleto, namorada de Marco Antônio, um dos filhos de Cabral. O acidente trouxe à tona suas ligações intimas com o empresário Fernando Cavendish.

13 comentários:

André Setaro disse...

Conta-se nos dedos os políticos portadores de princípios, ética, probidade (Pedro Simon, Jarbas Vasconcelos...). O vale tudo da política é terrível. Lula faz aliança com Maluf (o qual, se pisar em solo estrangeiro, será imediatamente preso pela Interpol)para vencer com o inexpressivo Haddad em São Paulo. Fica difícil se acreditar em alguém. Tudo é puro marketing, representação, jogo, disfarce.

Jonga Olivieri disse...

Curioso porque eu falei que caso levassem adiante os casos de corrupção cerca de dois terços do senado ia sambar.
Mas de fato ficariam apenas uma 1/2 dúzia que dá pra contar nos dedos...
O sr. da Silva (leia-se Lula) é um político sem escrúpulos. A
A merda é que o Brasil tem a característica de ter entre seus "ídolos" populares tipos como ele ou Getúalio Vargas;
Bom... Afinal são populistas por isso mesmo!

Joelma disse...

Uma campanha digna de ser divulgada.

Simey Lopes disse...

Concordo plenamente, desde de antes de eu começar a votar defendo aqui entre meus amigos o voto nulo, como demonstrado no passado, causa efeito.

Jonga Olivieri disse...

Joelma, Simey, entrem nesta luta.
Parece que há uma lei que diz que se mais de 50% dos votos forem nulos, a eleição é impugnada!

André Setaro disse...

Sim, se mais de 50% do universo de eleitores forem nulos, a eleição será impugnada. Está na lei, mas algo difícil de acontecer, considerando os votos de cabresto do interior.

Anônimo disse...

Você outro dia se quixou de que não há muitos comentários no seu blog.
Pois fique sabendo que eu, leitor habitual (embora não comentarista) faço questão de dar a maior força para esta campanha.

VAMOS VOTAR NULO! VAMOS VOTAR NULO! VAMOS VOTAR NULO! VAMOS VOTAR NULO!
VAMOS VOTAR NULO!

Daniel

Jonga Olivieri disse...

Pelo jeito muita gente está disposta a dormir com a consciência tranquila. E o garantido mesmo é anular o voto.
Podem crer!

Anônimo disse...

É muita ignorância misturar assuntos pessoais com assuntos políticos. Cabral nada tem a ver com as suspeitas sobre a Delta, tanto que nem existe prova disso. Ele ter amizade com o empresário não quer dizer que ele participa desses assuntos administrativos. Não vejo porque se arrepender de votar em Cabral. O Rio teve muitas melhorias e isso é visível, mas criticar é mais fácil, né? Reconhecer é que é difícil.

Jonga Olivieri disse...

O pior cego é aquele que não quer ver!

Jonga Olivieri disse...

Outra coisa, "Anônimo", diga o seu nome. Porque se esconder no anonimato é muito cômodo, certo?

Anônimo disse...

Como você explica o fato de ter se filiado ao PSOL?

Mara

Jonga Olivieri disse...

Houve um instante em que pensei ser o PSOL um partido mais integro, mais alinhado à esquerda do que vejo hoje...
O "poder" corrompe. Principalmente na "ditadura da burguesia", em que as forças econômicas pesam de forma assustadora.
Veja as alianças que o PSOL está a fazer pelo país afora. Na verdade este partido está entrando no jogo da política oficial.
Mas ainda considero-o, com o PSTU e o PCO um dos partidos mais à esquerda. Coisa que só podem ser enquanto não oferecerem o "perigo" de obter vitórias significativas.
A partir daí ou se vendem... Ou são deletados!