domingo, 21 de julho de 2013

Pensatas de domingo. A esquerda pseudotrotskista e a reconstrução da IV Internacional – parte 2


Série “A Reconstrução da IV Internacional”, artigo extraído do Jornal Luta Operária (Maio-Junho/1995) LBI-QI(1). É a “pensataminha dos outros”(2) deste domingo.

A partir da crise do MAS, surgem as disputas internas aprofundadas com os acontecimentos Leste Europeu. A LIT se vê dividida em várias tendências distintas que levam à ruptura em 92. Surgem daí, além da própria LIT, duas caricaturas de organizações internacionais: o C.I.R. de Zamora, sendo hoje o maior representante do morenismo na Argentina e o CITO, formado pelo PST colombiano com todas as antigas seções da LIT na América Central. O revisionismo completo do trotskismo e sua adaptação à social democracia deram origem a agrupamentos declaradamente antimarxistas como a SR italiana, que arrastou para si uma parcela considerável das seções morenistas da Europa.

A completa falência da LIT, produto de sua orientação pseudotrotskista, faz com que esta organização tente sair da crise através de acordos antiprincipistas e diplomáticos com grupos sem nenhuma perspectiva política ou expressão operária, representantes da quebra teórica e militantes de pequenas organizações européias, como o ultra direitista The Militant ou os ex healistas do WRP inglês. A LIT se funde na França e Espanha com os dejetos políticos do lambertismo, trilhando a mesma estratégia do SU e do ACIT de Lambert, transformando-se num ajuntamento oportunista de grupos social democratas.

A carta de apresentação da Liga morenistas para uma ação conjunta com estes grupos satélites da social democracia é sua política frente à guerra na ex Iugoslávia. A LIT embarcou junto com a burocracia sindical social democrata e com os governos burgueses europeus na campanha de ajuda a Bósnia, que por informação entusiasmada do Workers Press (órgão do WRP Inglês ) está recebendo em seus "comboios operários" ajuda materiais e financeiras substanciais do imperialismo britânico. Quando o imperialismo incita o operariado dos Bálcãs ao massacre fratricida para abrir caminho à restauração capitalista sobre os escombros do antigo Estado operário Iugoslavo e descarrega pilhas de bombas sobre a Sérvia, a única campanha operária a ser levada a cabo é a de varrer a presença militar da ONU, da OTAN e do imperialismo em qualquer parte do território da ex Iugoslávia. A LIT contribui para a divisão do proletariado e dá um verniz humanitário à intervenção imperialista nos Bálcãs. Não é de estranhar que grupos em processo de fusão com a LIT na Europa, como o WRP, façam a absurda exigência de uma ação mais incisiva da ONU e da OTAN na guerra ao lado dos bósnios.

A orientação atual da LIT, de formar agrupamentos oportunistas com setores opostos ao trotskismo é o último suspiro desta corrente centrista que renegou por completo os princípios da independência de classe.

A expressão mais avançada desta orientação está no Brasil, onde a LIT concentra seus esforços para construir uma caricatura do antigo MAS argentino. O PSTU, formado por uma colcha de retalhos entre burocratas sindicais, ex stalinistas e a antiga organização Convergência Socialista, é um exemplo típico de um partido amplo, descentralizado, uma junção dos defensores do socialismo em geral, que rejeitam o trotskismo, a defesa dos estados operários e o internacionalismo proletário. A cópia do MAS ainda consegue ser muito pior do o original, o PSTU apontado como modelo para formação do novo e amplo agrupamento mundial, sequer faz parte da LIT, reservando-se apenas ao papel de simpatizante. Nas eleições presidenciais de 94, o partido foi integralmente orgânico da frente popular de Lula que mediante uma política de freio à resistência operária, garantiu a aplicação do Plano Real. Mais tarde, o PSTU, longe de denunciar a vitória de FHC como resultado da capitulação da frente popular a política de recolonização nacional do plano de FHC, justificou assim como toda a Frente Popular, que a derrota de Lula foi conseqüência do "êxito econômico do Plano Real" (Correio Internacional, nº 65, dez/94).

A política nacional-trotskista do morenismo e sua adaptação às frentes populares levam à liquidação mundial desta corrente. O objetivo central da LIT em formar um agrupamento internacional sem qualquer princípio político, longe de desviá-la do atual curso liquidacionista, a conduz diretamente à dissolução em meio ao oportunismo reformista.

1 Liga Bolchevique Internacionalista – Quarta Internacional

2 Inspirado em “poemeu dos outros” de Millôr Fernandes


9 comentários:

Nun'Alvares disse...

Já é o segundo de uma série que regista de facto um posicionamento Marxista/Leninista/Trotskista bastante coerente desta 'Liga Bolchevique Internacionalista - Quarta Internacional' (LBI-QI), que não tenho conhecimento da existência em Portugal.
Que eu saiba, cá temos a 'Liga Comunista Internacionalista', o 'Movimento Alternativa Socialista' e o 'Partido Revolucionário dos Trabalhadores'.
Portanto, é muito desanimador verificar que a 'IV Internacional' iniciada por Leon Trotsky seja tão dividida em seu todo.

Jonga Olivieri disse...

Caro Nuno, a “Quarta Internacional (pós-reunificação)” foi a organização surgida na reunificação no Congresso Mundial de 1963. A cisão ocorrera em 1953, em torno da tática apropriada para o período pós guerra.
No Congresso de 1951, a maioria dos delegados aprovou a proposta defendida por um de seus dirigentes (Michel Pablo), segundo a qual as sessões da IV Internacional deveriam realizar “entrismo” nos partidos Comunistas, Social-democratas e Nacionalistas anti-imperialistas. Essa tática foi defendida como uma forma de aproximar as sessões da IV, ao movimento real de massas, além de um prognóstico de que os “Estados Operários” burocratizados, constituídos pela URSS, as “Democracias Populares” do Leste Europeu, em suma o stalinismo, iriam "inevitávelmente" a uma guerra contra o imperialismo estadunidense, retomando assim o caráter revolucionário que haviam perdido a partir da política do "socialismo em um só país". Será que tinham razão?

No Brasil, eu mesmo militei no "POR(T) "Partido Operário Revolucionário (Trotsquista)" de corrente 'posadista' (de J. Posadas), mas confesso que tentava à época contactar a Quarta Européia , por discordar de muitas das teses de Posadas. No entanto, conclui anos depois que teria sido um equívoco posicionar-me ao lado dos "revisionistas" 'pablistas'...

O surgimento da LBI, deu-se após a ruptura de militantes (por quase uma década) na então “Organização Quarta Internacional”, atualmente o “Partido da Causa Operária (PCO).
É muito complexa uma escolha, mas, creio ser esta organização, que tenta retomar o “Bolchevismo” em sua bandeira de lutas, parece ser a mais coerente com as origens do trotsquismo. Porem, concordo com você que é muito desanimador constatar que o movimento iniciado por Trotsky seja tão dividida em todo o mundo.

Joelma disse...

Que série muito, mas muito b

Joelma disse...

Desculpe a falha, mas continuando: ".... mas muito boa mesmo!"

André Setaro disse...

Lendo e aprendendo.

André Setaro disse...

Completando o que tinha começado. Pois bem, Hulot, lendo e aprendendo. Parabéns pela coerência de pensamento e por não ter cedido na sua visão de mundo. O proletariado agradece.

Jonga Olivieri disse...

Assim como aprendo um pouco mais de cinema cada dia que leio o "Setaro's Blog", creio que você deve aprimorar o seu conhecimento da história do marxismo neste blogue.

Anônimo disse...

Trechos importantes do discurso de Trotsky por ocasião da fundação da Quarta Internacional:

“Espero que desta vez a minha voz chegue para poder assim participar desta dupla celebração de vocês. Ambos acontecimentos, o décimo aniversário de nossa organização norte-americana e o congresso de fundação da Quarta Internacional, são incomparavelmente mais dignos da atenção dos operários que as gesticulações belicosas dos chefes totalitários, as intrigas diplomáticas ou os congressos pacifistas. Os dois fatos passarão a ser importantes marcos históricos...

... Queridos amigos, não somos um partido igual aos outros. Nossa ambição não se limita a ter mais filiados, mais jornais, mais dinheiro, mais deputados. Tudo isso faz falta, mas não é mais que um meio. Nosso objetivo é a total libertação material e espiritual dos trabalhadores e dos explorados através da revolução socialista. Se nós não a fizermos, ninguém a preparará, nem a dirigirá...

... O partido, certamente, também pode se equivocar. Com o esforço comum corrigiremos os erros. Elementos poucos valiosos podem se infiltrar em suas fileiras. Com o esforço comum os eliminaremos. As milhares de pessoas que entrem amanhã em suas fileiras provavelmente careçam da educação necessária. Com o esforço comum, elevaremos seu nível revolucionário. Porém, nunca esqueçamos que nosso partido é agora a maior alavanca da história. Separados desta alavanca, cada um de nós não é nada. Com esta alavanca nas mãos, somos tudo. Não somos um partido como os outros. Não é à toa que a reação imperialista nos persegue furiosamente e a camarilha bonapartista de Moscou se previne com assassinos de aluguel...

... Amigos, repitamos novamente neste dia de celebração: não podem nos atemorizar. A camarilha do Kremlin precisou de dez anos para estrangular o Partido Bolchevique e transformar o primeiro Estado Operário em uma sinistra caricatura. A Terceira Internacional necessitou de dez anos para abandonar seu próprio programa, convertendo-se em um cadáver apodrecido. Dez anos! Só dez anos!
Permitam-me concluir com uma profecia: durante os próximos dez anos, o programa da Quarta Internacional se transformará no guia de milhões de pessoas, e estes milhões de revolucionários saberão como mover o céu e a terra...”

L.P.

Anônimo disse...

Putz! Como disse o André Setaro, realmente esses comentários são verdadeiras aulas..

Tavim