domingo, 6 de novembro de 2016

Pensatas de Domingo. Luta de classes e barbárie, das origens à atualidade


A palavra “barbárie” é utilizada em diferentes situações e para contextos diferentes, podendo, inclusive ser um insulto, quando fazemos referência ao comportamento bárbaro de certos torcedores de futebol entusiasmados em demasia. Para os antigos gregos (os primeiros que cunharam a palavra) significava simplesmente “alguém que não fala o idioma” (o grego, naturalmente). No entanto, para nós marxistas, significa a etapa entre o comunismo primitivo e a primeira sociedade de classes, quando estas começaram a se formar, e com elas, a Propriedade e o Estado. A barbárie é uma fase de transição, quando a velha comuna se encontra em decadência e quando as classes e o estado estão em processo de formação.
 
Como as outras sociedades humanas (inclusive a selvagem, etapa das sociedades caçadoras e coletoras baseadas no comunismo primitivo e que realizaram maravilhosas obras de arte nas cavernas), os bárbaros certamente tinham cultura e foram capazes de produzir objetos de arte muito bonitos e sofisticados. Suas técnicas de guerra demonstram que também eram capazes de façanhas extraordinárias de organização e isto ficou demonstrado quando derrotaram às legiões romanas. Estes começaram a copiar as táticas militares dos bárbaros e introduziram o arco curto, aperfeiçoado pelos hunos e outras tribos, para disparar enquanto cavalgavam.
  
O período de barbárie representa uma parte muito longa da história humana e está dividido em várias etapas mais ou menos diferenciadas. Em geral, caracterizou-se pela transição do modo de produção baseado na caça e na coleta, ao pastoreio e à agricultura, isto é, da selvageria paleolítica, passando pela barbárie neolítica, à barbárie mais elevada da Idade do Bronze, que permanece como o umbral da civilização. O ponto de inflexão decisivo foi o que Gordon Childe¹ chamou de revolução neolítica, que representou um grande passo à frente no desenvolvimento da capacidade produtiva humana e, portanto, da cultura. Isto é o que diz Childe:
“É enorme nossa dívida para com estes bárbaros que não conheceram a escrita. Todas as plantas comestíveis cultivadas de certa importância foram descobertas por alguma sociedade bárbara anônima” (Gordon Childe. Que Aconteceu na História. Buenos Aires. Editorial La Pléyade. 1977. p. 69)
 
Aqui está o embrião de onde cresceram as aldeias e as cidades, a escrita, a indústria e tudo o mais que serve de base para o que chamamos “civilização”. As raízes desta civilização se encontram precisamente na barbárie e, ainda mais, na escravidão. O desenvolvimento da barbárie levou à escravidão, que Marx chamou “o modo asiático de produção”.
  
Seria incorreto negar a contribuição dos povos bárbaros ao desenvolvimento humano. Desempenharam um papel vital em determinada etapa. Possuíam cultura, e muito avançada para o tempo em que viveram. Mas a história não se detém aqui. O novo desenvolvimento das forças produtivas levou a novas formas socioeconômicas, que sustentaram um nível qualitativamente mais elevado. Nossa civilização moderna (tal como é) vem das conquistas colossais do Egito, da Mesopotâmia, do Vale do Indo e, com maior evidência, da Grécia e de Roma.
Apesar de não negarmos a existência da cultura bárbara, nós, marxistas não duvidamos ao afirmar que esta última foi historicamente substituída pelas culturas do Egito, Grécia e Roma, que cresceram a partir da barbárie, a superaram e a subsituíram. Negar isto seria impor-se claramente aos fatos.
Procedemos da escravidão, da barbárie e do feudalismo; cada uma dessas etapas representou uma fase definida do desenvolvimento das forças produtivas e da cultura. O botão desaparece quando a flor floresce, trata-se de uma negação, mas uma coisa não contradiz a outra. São etapas necessárias e devem ser consideradas em conjunto. É absurdo negar o papel histórico da barbárie ou de qualquer outra etapa do desenvolvimento humano. Mas a história continua.
 
Cada etapa do desenvolvimento humano tem suas raízes em todas as fases anteriores. Isto é verdade tanto na evolução humana como no desenvolvimento social. Temos evoluído das espécies mais baixas e estamos geneticamente relacionados inclusive com as formas mais primitivas de vida, isto tem sido demonstrado conclusivamente pela descrição do genoma humano. Estamos separados de nossos parentes vivos, os chimpanzés, por uma diferença genética inferior a dois por cento. Mas essa pequena percentagem representa um salto qualitativo tremendo.

Contam que em certa ocasião Henry Ford teria afirmado que “a história é bunk”. Para aqueles que não estão familiarizados com a gíria estadunidense, a palavra “bunk” significa algo que não tem sentido. Não é uma frase muito elegante para exprimir adequadamente uma idéia que tem se fortalecido nos últimos anos. O fundador da Ford Motors aperfeiçoou mais sua definição da história ao descrevê-la como “somente uma maldição depois de outra”.
  
O desenvolvimento do capitalismo tem plantado as bases para uma nova etapa, qualitativamente superior do desenvolvimento humano, a que chamamos socialismo. A crise atual do mundo não é outra coisa senão o reflexo do fato de que o desenvolvimento das forças produtivas está entrando em conflito com a “camisa de força” da propriedade privada e do estado nacional. O capitalismo, que há muito deixou de desempenhar um papel progressista, convertendo-se num monstruoso obstáculo para um novo desenvolvimento. Há que se eliminar este obstáculo, se a humanidade quer seguir em frente. Se não é eliminado a tempo, uma terrível ameaça pende sobre a cabeça da raça humana.

O filósofo e linguista estadunidense Noam Chomsky  vem mostrando que a curiosidade em torno das eleições nos EUA segue válida, mas as questões deveriam ser outras. A “velha democracia” de Lincoln esvaziou-se, e nenhuma das questões que afetam o futuro da sociedade dos EUA esteve em pauta nos debates. Um sistema político fossilizado, e sequestrado pelas grandes corporações capitalistas que financiam as campanhas eleitorais, encarrega-se de evitar que cheguem aos eleitores temas que realmente importam: como estabelecer uma tributação mais justa, criar um sistema público de saúde... nada disso foi debatido, porque não interessa ao poder econômico. E o oligopólio da mídia é um cão de guarda muito eficiente. Chomsky revela como as chances de uma discussão cidadã profunda são substituídas pela mobilização do medo, inclusive o que move parte da população por temer ir “desarmada” a uma lanchonete.

1. Vere Gordon Childe (14/04/1892 – 19/10/1957) foi um filólogo australiano que se especializou em arqueologia, talvez mais conhecido por suas escavações no sítio neolítico de Skara Brae em Orkney, e por sua visão marxista sobre a pré-história . Foi ele quem cunhou os termos Revolução Neolítica e Revolução Urbana.

Esta é  uma peça para impressão que mede 30x11cm. Copie e cole
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5 comentários:

Tavim disse...

Este sim é o autêntico João Carlos "Jonga" Olivieri que eu conheço de longa data!
Uma análise baseada em seus pensamentos, sempre coerentes com o "Materialismo Histórico" desde aqueles "velhos tempos", em que jogavamos bons carteados, com o meu primo [seu colega no Ginásio Acadêmico] Antônio Carvalho, o "Toninho", nas noites da rua Conde de Irajá.
Mas não me esqueci não, estou aguardando [com certa ansiedade] evidências e provas sobre o depoimento do desconhecido Steve Pieczenik, porque achei muito estranha aquela postagem do tambem desconhecido "Blog do Alok".

Jonga Olivieri disse...

Também não esqueci, caro Otávio (Tavim). Segue o curriculo de Steve Pieczenik. Só que tenho que publicá-lo em partes por haver uma limitaçãp na extensão do texto.

Steve R. Pieczenik, MD, PhD [nascido em 7 de dezembro de 1943] é um psiquiatra estadunidense, ex-Departamento de Estado dos Estados Unidos oficial, autor e editor.
Pieczenik é um psiquiatra treinado pela Universidade de Harvard e tem doutorado em relações internacionais pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT).
Ao realizar sua residência de psiquiatria em Harvard, ele foi premiado com o prêmio Harry E. Solomon pelo seu artigo intitulado: "A hierarquia dos mecanismos de defesa do ego na tomada de decisões de política externa"
Pieczenik foi secretário adjunto de Estado sob Henry Kissinger, Cyrus Vance e James Baker. Sua especialização inclui política externa, gestão de crises internacionais e guerra psicológica.
Ele serviu as administrações presidenciais de Gerald Ford, Jimmy Carter, Ronald Reagan e George H. W. Bush na qualidade de vice-secretário adjunto.
Em 1974, Pieczenik ingressou no Departamento de Estado dos Estados Unidos como consultor para ajudar na reestruturação de seu Escritório para a Prevenção ao Terrorismo (continua)

Jonga Olivieri disse...

(...) Em 1976, Pieczenik foi nomeado Secretário Adjunto de Estado para a gestão.
No Departamento de Estado, ele serviu como "especialista em tomada de reféns". Ele foi creditado com a criação de estratégias bem sucedidas de negociação e táticas usadas em várias situações de reféns de alto perfil, incluindo a situação de refém de vôo TWA Flight 355 de 1976 e o seqüestro de 1977 do filho do presidente do Chipre. Ele estava envolvido nas negociações para a libertação de Aldo Moro depois que Moro foi sequestrado. Como um renomado psiquiatra, ele foi utilizado como fonte de imprensa para informações precoces sobre o estado mental dos reféns envolvidos na crise de reféns no Irã depois que eles foram libertados. Em 1977, a jornalista vencedora do Prêmio Pulitzer Mary McGrory descreveu Stephen Pieczenik como "um dos homens mais" brilhantemente competentes "no campo do terrorismo" Ele trabalhou "lado a lado com o chefe de polícia Maurice J. Cullinane no comando de Washington, DC Centro do Mayor Walter Washington durante o cerco de 1977 Hanafi. Em 1978, Pieczenik era conhecido como "um psiquiatra e cientista político no Departamento de Estado dos EUA cujas credenciais e experiências são provavelmente únicas entre os funcionários lidando com situações terroristas".
Em 17 de setembro de 1978, os Acordos de Camp David foram assinados. Pieczenik estava nas negociações secretas de Camp David que levaram à assinatura dos Acordos. Ele desenvolveu estratégias e táticas baseadas em dinâmicas psicopolíticas. Ele corretamente previu que, dadas suas origens comuns, o presidente egípcio Anwar Sadat eo primeiro-ministro israelense Menachem Begin iriam se dar bem.
Em 1979, ele se demitiu como Secretário Adjunto de Estado Adjunto sobre o tratamento da crise dos reféns iranianos. (continua)

Jonga Olivieri disse...

(...) No início dos anos 80, Pieczenik escreveu um artigo para The Washington Post, no qual afirmou ter ouvido um alto funcionário dos Estados Unidos no Departamento de Operações do Estado dar permissão para o ataque que levou à morte do embaixador dos Estados Unidos Adolph Dubs em Cabul , No Afeganistão, em 1979.
Pieczenik conheceu bem o presidente sírio Hafez al-Assad durante seus 20 anos no Departamento de Estado.
Em 1982, Pieczenik foi mencionado em um artigo no The New York Times como "um psiquiatra que tratou funcionários da C.I.A."
Em 2001, Pieczenik operou como diretor executivo da Strategic Intelligence Associates, uma empresa de consultoria.
Pieczenik tem sido afiliado em uma capacidade profissional como um psiquiatra com o Instituto Nacional de Saúde Mental.
Pieczenik consultou com o Instituto de Paz dos Estados Unidos ea Corporação RAND. [20]
Ainda em 6 de outubro de 2012, Pieczenik foi listado como membro do Conselho de Relações Exteriores (CFR). De acordo com o Arquivo da Internet, seu nome foi removido da lista CFR em algum momento entre 06 de outubro e 18 de novembro de 2012. [22] Público, Pieczenik já não aparece como um membro do CFR. [23]
Pieczenik é fluente em cinco línguas, incluindo russo, espanhol e francês.
Pieczenik tem lecionado na Universidade de Defesa Nacional. (FIM)

Joelma disse...

Ai Tavinho, como você é chato. Só gostei porque o Jonga, ignorando a sua postura prepotentente, respondeu com sabedoria e humildade dando-lhe uma lição de vida.
Em resumo, considero sua atitude como uma verdadeira 'barbárie', no pior de todos os seus sentidos.
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No tocante à postagem, realmente a 'barbárie' foi uma etapa de transição, quando as Classes, a Propriedade e o Estado estavam se formando. E, ao contrário das sociedades mais primitivas que a antecederam, composta de nômades errantes que viviam basicamente da caça, da pesca e de vegetais colhidos 'in natura' surgiu a necessidade de se fixarem em algum local, consequência de todos esses fatores.
A Luta de Classes começa no momento em que, fixados, nos agrupamentos humanos alguns ocupam terras para plantar e colher, passando a exercer o poder da propriedade . E paassam então a utilizar a mão-de-obra de seus semelhantes, sejam os escravos aprisionados ou os mais pobres e necessitados que não lograram obter e possuir terras.
Neste instante, surge também a religião, antes apenas instintiva, mas então como organização hierárquica e punitiva. Para tal, criaram-se os Sumo-Sacerdotes, os Sacerdotes, em outras palavras, o clero (nobreza) existente nas religiões, com o objetivo muito claro de proteger os interesses dos "poderosos".