Desenho de
autoria de Elsy Maria Vasquez (Rebelión.org)
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A Pensata deste domingo é de autoria de
meu amigo e colaborador deste blogue, Jorge Vital de Brito Moreira, o Professor Jorge Moreira.
Comandante Fidel Castro Ruz: !“Hasta la victoria siempre”!
Nesta manhã,
recém desperto, um amigo brasileiro me informou da transcendental notícia que,
horas depois, inundou todos os meios informativos do planeta: o falecimento de
Fidel Castro Ruz, o líder histórico da revolução cubana.
O histórico e
doloroso acontecimento foi originalmente comunicado pelo atual
presidente de Cuba, Raul Castro Ruz, seu irmão.
Numa mensagem transmitida pela televisão cubana, ele expressou:
"Com profunda dor compareço para informar ao nosso povo, aos amigos de
nossa América e do mundo que hoje, 25 de novembro do 2016 às 10 e 29 horas da
noite, faleceu o comandante em chefe da Revolução Cubana, Fidel Castro Ruz. Em
cumprimento da vontade expressa do colega Fidel, seus restos serão cremados nas
primeiras horas de amanhã sábado 26. A comissão organizadora dos funerais
brindará a nosso povo uma informação detalhada sobre a organização da homenagem
póstumo que se lhe tributará ao fundador da Revolução Cubana. Até a vitória!
Sempre!"
A tristeza despertou algumas
lembranças que estimularam a memória e apareceu o desejo de escrever algumas
linhas para registrar a importância que a existência histórica de Fidel Castro
tiveram para a minha história e a história da minha geração de companheiros.
Se a memória não me falha, me
encontrava na ilha de Itaparica, quando escutei pela primeira vez o nome de
Fidel Castro. Naquele momento, seu nome estava associado aos planos criminosos
dos EUA para assassinar o comandante Fidel. No meu livro Memorial da Ilha e Outras ficções,
tratei de representar aquele acontecimento, através de um dialogo entre os
amigos que estavam na Ilha: “Na semana
passada, fui informado por um amigo que realmente sabe das coisas, que o
governo americano quer derrubar Fidel Castro e que, secretamente, já ordenou a
CIA: fazer os planos para invadir Cuba e assassinar o líder cubano¹.”
A partir
daquele momento na Ilha, comecei a me interessar pelas figuras de Fidel Castro
e de Che Guevara. E sempre que possível, tratava de ver fotos dos dois líderes,
e de entender o que a revolução cubana significava para a América Latina. Compreendi, neste processo de conhecimento,
não só porque o governo dos Estados Unidos, utilizando pretextos diferentes,
invadiu e conquistou muitos países da América Central e do Caribe (tais como
Haiti, 1917; Nicarágua 1927; Cuba 1933; Guatemala 1954) mas sobretudo porque
Castro e Guevara lutaram em Sierra Maestra contra o governo dos EUA fazendo uma
revolução socialista para libertar a
ilha de Cuba da dominação, da exploração e da opressão do imperialismo
estadunidense.
Estimulados pelo exemplo revolucionário de Fidel Castro e Che Guevara, nós, os jovens estudantes universitários brasileiros, também desejávamos e sonhávamos com fazer uma revolução socialista no Brasil para nos libertar do imperialismo dos EUA. Era um tempo em que repetíamos frequentemente a frase de Ernesto Che Guevara: “Hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás.”
O golpe militar
de 1964 e a implantação da ditadura militar brasileira para servir ao governo
dos EUA golpeou duramente nossos sonhos e projetos revolucionários. Mas o sonho
não acabou. Apesar do golpes e das ditaduras militares implantadas na
Argentina, no Chile, no Uruguai, a partir do modelo ditatorial do Brasil,
nós, jovens estudantes brasileiros e
latinoamericanos, ainda tínhamos esperança e seguíamos lutando e sonhando com a
derrota das ditaduras, com a vitória final da revolução socialista num futuro
próximo. Naturalmente, a fonte exemplar para a continuação da nossa esperança
era tanto a revolução cubana como a presença da guerrilha de Che Guevara na
Bolívia. Quando Che Guevara foi brutalmente assassinado pelos soldados
bolivianos comandados pela CIA (Central de Inteligência dos EUA), nossa
esperança foi minguando.
Minha memória
ainda registra que apesar das importantes derrotas que sofríamos, nós, um grupo
(agora menor do que antes) de estudantes, continuávamos resistindo à dominação
ditatorial através de diferentes tipos de lutas: alguns através da guerrilha
urbana/rural, outros pelo engajamento com o movimento hippie/underground nacional/internacional, outros pela via do
consumo da maconha e outras drogas.
Cansados de
resistir impotentemente à ditadura, alguns, da nossa geração perdemos a
paciência (eu entre eles) e decidimos sair do Brasil, da Argentina, do Uruguai
e do Chile, enfim, dos países latinoamericanos
dominados pelos militares.
No meio do
transe e do impasse, para não perder a identidade pessoal e professional, sai
do Brasil para estudar uma pós-graduação em Sociologia na cidade do México.
Assim, poderia continuar resistindo, simbolicamente, à ditadura militar,
enquanto estudava para entender melhor porque a revolução tinha sido bem
sucedida em Cuba, porém não havia conseguido o mesmo resultado no Brasil e em
toda a América Latina.
Lembro-me. Foi durante aquele período,
em 1986 (quando o Brasil ainda não tinha restabelecido
as relações diplomáticas com Cuba) que eu, junto as colegas e amigos
brasileiros e latinoamericanos, obtivemos os vistos na cidade do México para
viajar à ilha cubana. Lembro que
estávamos nos últimos dias do mês de abril porque o dia do meu aniversário cai
no dia 28 daquele mês. E lembro que no
aeroporto da cidade de Mérida, na península de Iucatan, na saída do avião para
Cuba, quando o jato da Mexicana de
Aviación estava voando a quase mil metros sobre o nível do mar, uma turbina
do avião explodiu em pleno ar. Em chamas, o jato começou a descer em direção ao
oceano, aterrorizando os tripulantes e seus passageiros. Quando o piloto
conseguiu controlar a aeronave, expelindo quase toda a gasolina do veiculo;
quando ele conseguiu voltar e aterrissar no aeroporto de Mérida, alguns
passageiros já não quiseram continuar a viagem. Entre eles se encontrava uma assustada
amiga colombiana. Ela decidiu que não valia a pena arriscar a sua vida para
conhecer o que Fidel e a revolução tinham feito pelo povo cubano.
Naquela mesma noite, eu e o amigo baiano, o professor Israel
Pinheiro (enquanto esperávamos no hotel por um outro avião mexicano para
continuar a viagem para a ilha)
começamos a beber rum como dois desesperados. Assim, para esquecer o
horror daquela experiência aérea assustadora (e ganhar coragem para entrar no
próximo avião a fim de conhecer a Cuba revolucionaria de Fidel), eu e Israel,
subimos no outro jato mexicano completamente ébrios.
Ficamos
hospedados em Cuba durante sete dias. Durante este período, nos levaram para
visitar varias cidades históricas e a casa de Ernest Hemingway; fomos tomar
banho nas gostosas praias do Caribe cubano, participamos do excelente festival
de Varadero e estivemos no encantador Teatro Carlos Marx, onde assistimos ao
concerto de famosos artistas como Silvio Rodriguez, Pablo Milanês, Fito Paz...
e celebramos o meu aniversário no grande cais a beira mar da cidade de Havana.
A nossa visita culminou com nossa participação
no desfile do povo cubano na Plaza da Revolução onde pudemos ver Fidel Castro
em pessoa e escutar seu longo discurso sobre o futuro socialista do povo cubano.
O discurso terminou com a consigna: “Hasta
la victoria siempre”. Esta é a mesma consigna que expressou o presidente
Raul Castro Ruz no final da mensagem transmitida pela televisão
cubana sobre a morte de seu irmão Fidel Castro Ruz, um dos seres humanos mais
extraordinários que a história humana produziu.
Continua...
2 comentários:
No que se refere à narrativa do Prof, Jorge Moreira está (pra variar) excelente! Aguardo a continuação, que sem dúvida vai ser interessante porque certamente estará em Cuba....
Mas eu não entendi muito bem o porque do destaque no parágrafo: "Estimulados pelo exemplo revolucionário de Fidel Castro e Che Guevara, etc..." porque é importante o que ele diz, mas têm muitos parágrafos que tambem o são.
Tem toda razão Joelma... o Professor Jorge Moreira tem nos proporcionado textos consistentes, porque embasados.
Agora, o texto destacado não é intencional, mas um "bug" da 'Blogger', que de quando em vez nos dá algum susto deste tipo. E olha que eu me lasco pra corrigir, e, na maioria das vezes as tentativas de correção são infrutíferas. Foi o caso da postagem "A decadência do Império Romano e a situação do Brasil hoje. Um paralelo" em que metade do texto saiu em preto... e eu tentei de todas as formas imagináveis corrigir e nada consegui! Acabei excluindo a parte do texto preto sobre fundo marrom e ficar apenas com o texto branco
Da continuação, estou esperando a remessa do texto ainda hoje. E assim que vier estarei publicando, ok?
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