Este carnaval estimulou transgressão à ordem estabelecida e
combate à opressão, com blocos que traziam temas importantes da agenda social,
como sexismo, racismo, LGBTfobia e
outras lutas populares como há muito não se via. No meio da folia carnavalesca,
que já encenava seus
primeiros atos em 2017, quando a discussão política ganhou espaço nos blocos de rua. Com o lema
"Carnaval, folia e luta", blocos não autorizados pela
Prefeitura do Rio ocuparam as ruas do centro da cidade já no primeiro
domingo do ano (dia 8 de janeiro), em um ato festivo contra as
imposições dos governos federal, estadual e municipal.
O evento
promovido pela Liga “Desliga dos Blocos” foi apenas um dos exemplos
da festa como espaço de protestos. Durante os dias momescos, referências políticas apareceram
em letras de samba de blocos de enredo, blocos temáticos, fantasias
e, até mesmo, na realização de uma prática cultural sem aceitação do poder
público, os blocos sem autorização para desfilar. Isso que se observou
tanto no Rio de Janeiro quanto em outras cidades do país, como as
tradicionais Recife e Salvador ou as novatas São Paulo e Belo Horizonte. "O
Carnaval sempre foi um ato político. Na Primeira República, a população negra
utilizou o Carnaval para afirmar sua autonomia. Hoje, é um grande espaço de
crítica política e social. No Carnaval, o humor e o sarcasmo funcionam como
arma de transgressão política. A brincadeira é uma forma de manifestação",
explica Eric Brasil em seu livro "A corte em festa: experiências
negras em carnavais do Rio de Janeiro".
O caráter
transgressor do Carnaval começa na ocupação da rua pelo folião em regiões como o
centro da cidade e as praias, onde tradicionalmente ocorrem os desfiles, nem
sempre acessíveis a todas as camadas da população. A rua é um espaço de disputa
e a forma que você se coloca nela é uma forma de fazer política, como acontece
com o “Cordão do Boi Tolo”, bloco que desfila no Rio, sem autorização, sem
trajeto definido e sem músicos fixos, assumindo essa postura independente como um
posicionamento político.
A festa é
vista como uma válvula de escape, um espaço de alienação ao cotidiano. No
entanto, pelo perfil democrático da rua, a grande circulação cultural e o encontro
de diferentes classes sociais, existe a construção de um discurso que
ultrapassa os dias de folia. As pessoas entendem o carnaval como uma
performance pública que atinge muita gente ao mesmo tempo. É um caminho de
comunicação muito eficaz. Uma linguagem mais eficiente do que muito texto
formal, que não é só de harmonia e expõe conflitos. Dentro deste contexto, é
possível encontrar blocos que apresentam temáticas do universo LGBT, debatem o sexismo e expõem as lutas periféricas. O Carnaval acaba se tornando
um espaço contra diferentes tipos de opressão. E possui as qualidades de um
verdadeiro levante popular.
O Carnaval é
assim um espaço político, porém não como um espaço de política partidária, mas
sim como uma forma de mobilização popular para se discutir determinadas pautas
de baixo para cima. Desta maneira, o Carnaval acaba ganhando um caráter de
resistência através da negação da ordem do cotidiano. É uma resistência à rotina
e o folião resiste social, econômica e culturalmente.
3 comentários:
Distinto texto, meu caro Jonga
E distinto comentário amigo Zé! Você é, e sempre será bem vindo!
E sem dúvida uma distinta conclusão desta série histórica sobre o Carnaval no "País do Carnaval"!
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