segunda-feira, 15 de outubro de 2018

Nós não perdemos o trem da história


Quando a Constituinte ia começar eu morava em Belo Horizonte e era Diretor de Criação na Livre Propaganda Brasileira, uma agência, como dizia o seu nome, livre em sua essência, uma casa de fato vanguardista na propaganda mineira e brasileira. A Livre havia participado da campanha de Tancredo para presidente e tinha contas como a Camig, cuja linha criativa era realmente inovadora.
No post abaixo deste, publiquei uma peça de 10 segundos para a campanha criada para um dos poucos clientes não governamentais, o Jornal de Casa: VT de 10 segundos com base na logomarca da Campanha Constituinte 86. Direção de Arte/Direção de Criação: Jonga Olivieri; Redação: Tonico Mercador/Murilo Antunes; Direção do VT: Jaak Bosman.

Falando um pouco mais da Livre, suas principais contas eram do governo de Minas Gerais à época de Helio Garcia, o famoso Dojão (1), e o meu caso com a Livre estendeu-se por muitos meses de paquera, e depois... um curto casamento. Bom, isto porque, característica do mercado mineiro, conta de governo é um negócio que sustentava naquela época cerca de 70% do mercado. No caso da Livre, era mesmo 99,9%. E acontece que a agência, numa dessas desastrosas mudanças políticas (2), ficou apenas com seu 0,01% de contas privadas e ela obviamente naufragou. O que não quer dizer que os oito meses que lá passei não tenham sido realmente inesquecíveis.

Tudo começou quando eu estava em outra agência de Beagá, a ASA. Com a saída do Zuim (3), o pessoal da Livre precisava de um novo Diretor de Criação. E começaram a me sondar. Foram alguns meses de papo, algumas negativas e, finalmente, o famoso ditado "de uma boa cantada ninguém escapa". Arrumei minhas malas e lá fui eu para a Livre. Uma agência sui generis, que tinha um boxer perambulando pelas suas dependências, um papagaio e um pátio interno que mais parecia uma miniatura do paraíso. Tinha fogão de lenha ao ar livre, muitas plantas e uma frondosa mangueira. Uma equipe que eu achava perfeita: o Boca, o Alvinho, o Wanderley. Depois ainda veio o Tonico Mercador para reforçar esse time. No RTVC o Juninho e sua assistente, a Claudinha, que além de competente era um colírio para os olhos.

A Livre era uma agência tão dupirú, que todo mês tinha lá um regabofe sortido e fartamente mineiro, repleto de chope e cachaça da melhor em torno do seu fogão de lenha. E o melhor é que o pessoal que ia lá com frequência, além dos clientes era nada mais nada menos do que a turma do Clube da Esquina. Eles mesmos, Toninho Horta, Milton Nascimento e outros. Gente da pesada, porque a Livre tinha surgido como Quilombo, e depois desdobrou-se. O Marcinho, um dos seus sócios, continuava inclusive como produtor musical e a Quilombo também continuava a existir numa casa próxima a ela, e que também tinha papagaio, cachorro, e um ambiente que mais parecia um quadro da Djanira.

A propósito, os outros sócios eram o Murilo Antunes, um puta dum poeta, um performático, um intelectual mineiro de primeiro time e o Pardal, artista plástico, duas figuraças.

1. O Helio Garcia, segundo o ti-ti-ti da época, sentava numa mesa e bebia “demais da conta”. Daí o apelido de Dojão, o carro que consumia muito combustível.

2. Esta vale a pena contar! Newton Cardoso ganhou as eleições para governador de Minas, mas acontece que nas prévias Helio (Dojão) Garcia não o apoiou. Bem, as agências que fizeram sua campanha foram as três que atendiam o governo do Helio. Quando tomou posse, Newton retirou todas as contas de governo da Livre, da Setembro e da Conexão...

3. Jackson Drumond Zuim, um dos mais criativos publicitários que conheci em toda a minha vida era o Diretor de Criação da Livre antes de minha ida para lá.


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