quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

As duas faces de um canalha

Rumsfeld tem uma dupla carreira: o político e o homem de negócios. Um exame à declaração de patrimônio entregue pelo Secretário da Defesa quando da sua posse, no ano 2000, permite comprovar que este multimilionário é pura e simplesmente o chefe de uma rede que navega entre os conselhos de administração das grandes empresas e os gabinetes governamentais. Arquivos da Bolsa de Nova Iorque e documentos do governo mostram que Rumsfeld é perito no manejo das portas que permitem efetuar lucrativas idas e vindas entre os poderes privado e o público.
Em 1981 foi autorizada a entrada no mercado do Aspartame, passando por cima da comissão científica que considerava que o produto não deveria ser comercializado, dados os casos de tumor cerebral em ratos, no decurso dos testes. No entanto, em julho de 1983, ampliaram a autorização às bebidas e refrigerantes.
Em Janeiro de 1997, Rumsfeld torna-se o administrador geral da Gilead, uma sociedade criada dez anos antes na perspectiva de produzir medicamentos contra doenças infecciosas. Desde julho de 1988, ele estava instalado no Conselho de Administração, onde figuram vários dos seus habituais associados (George Shultz entrou em 1996). Nesta época, a Gilead procura saída para o Cidofovir, uma molécula antiviral cujos primeiros testes não foram propriamente encorajadores: câncer e graves lesões renais apareceram em cobaias animais após a ingestão de algumas doses.
Contudo, um membro da equipe Bush, Donald Henderson, antigo diretor da Organização Mundial da Saúde (responsável, nos anos 70, pelo programa de vacinação contra a varíola), tinha levantado em março de 2002, na revista científica Nature, uma questão interessante: porquê este interesse em desenvolver o Cidofovir, quando é visivelmente tóxico e dispunha-se de um método comprovado, que era a vacinação? O doutor Henderson deixou bruscamente as suas funções, dois meses após a publicação dessas suas indagações. Donald Rumsfeld era, então, o todo-poderoso Secretário da Defesa. No seu gabinete do Pentágono, preparavam-se os argumentos sobre as pretensas armas de destruição em massa em posse de Sadam Hussein, que desembocaria na invasão e guerra do Iraque.
Assim Donald Rumsfeld tem construído toda a sua vida mediante a elaboração de uma teia de interesses e “trocas de favores”. Lembremos o papel que desempenhou (graças à sua rede de conhecimentos e influências na administração estadunidense) mais tarde num negócio envolvendo a definição do padrão futuro das emissões de TV, graças ao qual os patrões da empresa que dirigia quintuplicaram o seu investimento com a posterior venda, negócio no qual se estima que Rumsfeld tenha embolsado uns módicos 7 milhões de dólares.
Além de todos estes fatos, são ainda apontadas ligações altamente lucrativas entre Donald Rumsfeld e outros produtos da indústria farmacêutica: este antiviral (Cidofovir) que a FDA (Food and Drugs Administration, organismo oficial pela aprovação de medicamentos para consumo nos EUA) também autorizou, e o agora tão falado Tamiflu para o tratamento do vírus H5N1 (gripe das aves).
Paralelamente com esta rede muito lucrativa, Rumsfeld, mantém laços estreitos com outras importantes figuras do grupo dos neoconservadores que tem dado suporte à administração de George W Bush, entre os quais se contam Paul Wolfowitz (teórico neoconservador), Dick Cheney (vice-presidente e com ligações à indústria petrolífera, através da Halliburton, e de segurança, através da KBR) e para finalizar Frank Carlucci (com ligações ao Carlisle Group que detém interesses na construção civil e é gestor das carteiras de investimento das famílias Bush e Bin Laden).

7 comentários:

Ieda Schimidt disse...

O sujeitinho é um 'profissa' do oportunismo.
Ia se dar muito bem em Brasília.

Jonga Olivieri disse...

Ele? Poderia ser professor para aqueles amadores em Brasília. Rumsfeld é catedrático!
Aliás a classe política estadunidense (a mais corrupta do mundo) pode ensinar com maestria tudo o que é podre e que se imagine existir por aí!

Anônimo disse...

Professor é pouco. Ele é doutor como você disse em matéria anterior.

Anônimo disse...

Duas caras mesmo. E uma se aproveitando da outra numa engenhosidade extremamente hábil.
Otávio

Jonga Olivieri disse...

É isso aí, meus caros Dupont e Dupond.

Anônimo disse...

Essa matéria disseca o hômi.

Jonga Olivieri disse...

E a finalidade era exatamente esta!