Em 10 de Setembro de 2001, um dia antes da maioria dos estadunidenses (e do mundo) ter ouvido falar da Al Qaeda ou sequer imaginado a possibilidade de uma “guerra contra o terrorismo”, Donald Rumsfeld subiu à tribuna no Pentágono para pronunciar o seu mais importante discurso como secretario da Defesa sob o mandato do presidente George W. Bush. De pé, perante os executivos que ele próprio nomeara para altos cargos de supervisão dos saborosos negócios dos contratos militares, Rumsfeld proclamou uma declaração de guerra.
“A questão que nos ocupa hoje é um adversário que coloca uma ameaça, uma séria ameaça, à segurança dos EUA”, disse. “Esse adversário fragiliza a defesa dos EUA e põe em perigo a vida dos militares, homens e mulheres deste país”. Disse à sua nova equipe, “pensarão certamente que me refiro a um dos últimos decrépitos ditadores mundiais... mas o adversário encontra-se muito mais perto de casa, trata-se da burocracia do Pentágono”. Rumsfeld pediu uma mudança drástica na administração do Pentágono, suplantando a velha burocracia do Departamento de Defesa com um novo modelo baseado no setor privado. Ao anunciar esta reforma, Rumsfeld comentou à sua audiência que “não tinha a intenção de atacar o Pentágono, apenas de o salvar de si mesmo”, segundo suas próprias palavras.
Apesar de Rumsfeld ter sido posteriormente afastado da administração com a intenção de acalmar os críticos da guerra no Iraque, a sua “revolução militar” havia chegado. Na sua despedida em novembro de 2006, Bush reconheceu que ele levou a cabo “a maior transformação da postura global das forças armadas estadunidenses desde o final da Segunda Guerra Mundial (sic)”. De fato, a nova marca da casa de Rumsfeld, originou um dos mais significativos desenvolvimentos da atual forma de fazer a guerra, o uso generalizado de empresas privadas de segurança em qualquer vertente da guerra.
As empresas privadas de segurança proporcionaram cobertura política à administração Bush, permitindo ao governo deslocar um exército privado para uma zona de guerra fora de alcance do julgamento público, com as mortes, os feridos e os crimes das ditas forças, envolvidas no mais absoluto segredo e não contabilizadas. Apesar da presença de mais de 100 mil contratados privados no Iraque, apenas um deles foi acusado de crimes ou violações.
A Blackwater foi fundada em 1996 pelo cristão conservador e multimilionário ex-membro das forças de elite da Marinha dos Estados Unidos, Erik Prince – descendente de uma família rica de Michigan, cujas generosas doações políticas ajudaram ao auge da direita religiosa e à revolução republicana de 1994. No momento de sua fundação, a empresa consistia essencialmente na fortuna privada de Prince e numa vasta propriedade de 2.000 hectares situada na Carolina do Norte. A sua visão foi “satisfazer antecipadamente a procura do governo por subcontratação de armamento e formação militar”. Nos anos seguintes, Prince, a sua família e os seus aliados políticos encheram de dinheiro os cofres das campanhas republicanas, apoiando a tomada de controle do Congresso e a ascensão de George W. Bush à presidência.
Nos anos seguintes a empresa converteu-se num dos grandes beneficiários da “guerra contra o terrorismo”, ganhando quase um bilhão de dólares em contratos com o governo, muitos deles sem concurso público. Em apenas uma década, Prince ampliou as instalações de Moyock para 2.833 hectares, fazendo de suas instalações a maior base militar privada do mundo. A Blackwater tem hoje 2.300 empregados divididos por nove países, e mais 20 mil prontos para entrar em ação. Possui também uma frota de mais de vinte aeronaves, incluindo helicópteros de combate e uma divisão de inteligência própria.
De acordo com os últimos registros governamentais, a Blackwater faturou, desde junho de 2004, 750 milhões de dólares só em contratos com o Departamento de Estado.
“O uso crescente de contratados, forças privadas ou, como alguns diriam, de mercenários, torna as guerras mais fáceis – apenas é necessário dinheiro, e dispensa a cidadania”, disse Michael Ratner, presidente do Centro para os Direitos Constitucionais que processou empresas privadas de segurança por supostos abusos no Iraque. “Quando se pede a um povo que vá para a guerra, surge sempre uma certa resistência, e que é indispensável para impedir guerras de auto-engrandecimento, guerras estúpidas e, no caso dos EUA, guerras pela hegemonia imperialista. As forças privadas são quase uma necessidade para uns EUA desejosos de evitar o declínio do seu império”, concluiu.
E assim, o Dr. Rumsfeld se compara à sinistra figura do Dr. Strangelove* (no Brasil Dr. Fantástico), personagem do filme homônimo dirigido por Stanley Kubricky (1964), e estrelado pelo inesquecível Peter Sellers, que para além de interpretar este personagem faz no total três papéis marcantes na película: o do capitão Mandrake (britânico) e o do presidente dos Estados Unidos.
(*) O Dr. Fantástico não tem o controle de suas mãos e faz a todo tempo, involuntariamente, a saudação nazista para o presidente dos EUA. É interessante também observar as caras e trejeitos que o presidente faz quando é “saudado” e a expressão no rosto do Dr. Strangelove quando seu braço simplesmente se contrai seguido de um estrondoso “Hail!”.
“A questão que nos ocupa hoje é um adversário que coloca uma ameaça, uma séria ameaça, à segurança dos EUA”, disse. “Esse adversário fragiliza a defesa dos EUA e põe em perigo a vida dos militares, homens e mulheres deste país”. Disse à sua nova equipe, “pensarão certamente que me refiro a um dos últimos decrépitos ditadores mundiais... mas o adversário encontra-se muito mais perto de casa, trata-se da burocracia do Pentágono”. Rumsfeld pediu uma mudança drástica na administração do Pentágono, suplantando a velha burocracia do Departamento de Defesa com um novo modelo baseado no setor privado. Ao anunciar esta reforma, Rumsfeld comentou à sua audiência que “não tinha a intenção de atacar o Pentágono, apenas de o salvar de si mesmo”, segundo suas próprias palavras.
Apesar de Rumsfeld ter sido posteriormente afastado da administração com a intenção de acalmar os críticos da guerra no Iraque, a sua “revolução militar” havia chegado. Na sua despedida em novembro de 2006, Bush reconheceu que ele levou a cabo “a maior transformação da postura global das forças armadas estadunidenses desde o final da Segunda Guerra Mundial (sic)”. De fato, a nova marca da casa de Rumsfeld, originou um dos mais significativos desenvolvimentos da atual forma de fazer a guerra, o uso generalizado de empresas privadas de segurança em qualquer vertente da guerra.
As empresas privadas de segurança proporcionaram cobertura política à administração Bush, permitindo ao governo deslocar um exército privado para uma zona de guerra fora de alcance do julgamento público, com as mortes, os feridos e os crimes das ditas forças, envolvidas no mais absoluto segredo e não contabilizadas. Apesar da presença de mais de 100 mil contratados privados no Iraque, apenas um deles foi acusado de crimes ou violações.
A Blackwater foi fundada em 1996 pelo cristão conservador e multimilionário ex-membro das forças de elite da Marinha dos Estados Unidos, Erik Prince – descendente de uma família rica de Michigan, cujas generosas doações políticas ajudaram ao auge da direita religiosa e à revolução republicana de 1994. No momento de sua fundação, a empresa consistia essencialmente na fortuna privada de Prince e numa vasta propriedade de 2.000 hectares situada na Carolina do Norte. A sua visão foi “satisfazer antecipadamente a procura do governo por subcontratação de armamento e formação militar”. Nos anos seguintes, Prince, a sua família e os seus aliados políticos encheram de dinheiro os cofres das campanhas republicanas, apoiando a tomada de controle do Congresso e a ascensão de George W. Bush à presidência.
Nos anos seguintes a empresa converteu-se num dos grandes beneficiários da “guerra contra o terrorismo”, ganhando quase um bilhão de dólares em contratos com o governo, muitos deles sem concurso público. Em apenas uma década, Prince ampliou as instalações de Moyock para 2.833 hectares, fazendo de suas instalações a maior base militar privada do mundo. A Blackwater tem hoje 2.300 empregados divididos por nove países, e mais 20 mil prontos para entrar em ação. Possui também uma frota de mais de vinte aeronaves, incluindo helicópteros de combate e uma divisão de inteligência própria.
De acordo com os últimos registros governamentais, a Blackwater faturou, desde junho de 2004, 750 milhões de dólares só em contratos com o Departamento de Estado.
“O uso crescente de contratados, forças privadas ou, como alguns diriam, de mercenários, torna as guerras mais fáceis – apenas é necessário dinheiro, e dispensa a cidadania”, disse Michael Ratner, presidente do Centro para os Direitos Constitucionais que processou empresas privadas de segurança por supostos abusos no Iraque. “Quando se pede a um povo que vá para a guerra, surge sempre uma certa resistência, e que é indispensável para impedir guerras de auto-engrandecimento, guerras estúpidas e, no caso dos EUA, guerras pela hegemonia imperialista. As forças privadas são quase uma necessidade para uns EUA desejosos de evitar o declínio do seu império”, concluiu.
E assim, o Dr. Rumsfeld se compara à sinistra figura do Dr. Strangelove* (no Brasil Dr. Fantástico), personagem do filme homônimo dirigido por Stanley Kubricky (1964), e estrelado pelo inesquecível Peter Sellers, que para além de interpretar este personagem faz no total três papéis marcantes na película: o do capitão Mandrake (britânico) e o do presidente dos Estados Unidos.
(*) O Dr. Fantástico não tem o controle de suas mãos e faz a todo tempo, involuntariamente, a saudação nazista para o presidente dos EUA. É interessante também observar as caras e trejeitos que o presidente faz quando é “saudado” e a expressão no rosto do Dr. Strangelove quando seu braço simplesmente se contrai seguido de um estrondoso “Hail!”.
8 comentários:
Excelente esta tua comparação entre Rumsfeld e Strangelove. O primeiro, o personagem real de uma trama internacional. O outro, a ficção em cima da realidade.
Mas, de qualquer maneira, acredito que a tua retomada do polêmico tema da privatização (ou profissionalização) da guerra é oportuno e tem que ser sempre exposto e debatido.
Postes sempre mais sobre isto!
Também acho um assunto polêmico e que define mudanças no comportamento do império em seus contra-ataques contra os povos ao redor dos mundo.
Mais revelações surpreendentes. Esse é um assunto que rende muito.
E sempre vai render...
Também gosto demais de Dr Fantático. Um filme engraçado e ao mesmo tempo dramático.
Otávio
Sem dúvida uma das grandes realizações de Kubrick.
Esse Dr Rumsfeld não presta! E não é a tôa que é amiguinho do Bush!
Eles se merecem...
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