Postado no “Pensatas” em março de 2007...
Fumar cachimbo é um vício – ou, até como defendem muitos, um hábito – muito diferente de fumar cigarro. Requer uma certa dedicação, atenção e um criterioso revesamento de peças.
O cigarro, praticamente você nem se lembra quando ou porque o acendeu. É uma coisa meio mecânica, impulsiva. Para fumar um cachimbo, a pessoa tem que pensar em acende-lo, qual deles vai usar e até o tabaco que será apreciado, pois, quase sempre um cachimbeiro tem duas ou três marcas diferentes de fumo.
Outra coisa é a vontade que você tem de comprar um modelo novo. Quando voltei a fumar cachimbo, tinha dois. Depois de um ano, minha coleção já passava dos trinta. Dois anos depois, quase havia dobrado, pois possuia entre cinqüenta e sessenta.
Iniciar um cachimbo “virgem”, é tão excitante quanto possuir uma donzela em sua primeira noite (na Sicília, claro). O preparo para um cachimbo novo é um ritual, e requer uma técnica e paciência muito grandes. Nas primeiras fumadas deve-se ir enchendo o forno gradativamente até que se forme uma crosta inicial, que, na verdade ajuda a proteger a madeira da violência do fogo e da brasa que esta terá que se submeter o resto de sua existência.
E os modelos? Tem cachimbo curvo, meio-curvo, reto, longo, curto, com forno grande, com forno pequeno. São dezenas de modelos como buldog, apple, pocket, canadian, billiard, churchwarden, pot, bent... Fica difícil falar de todos eles. São ingleses, italianos, holandeses, franceses, gregos, dinamarqueses e até brasileiros. As marcas mais conhecidas são Dunhill, Butz Choquin, Dr. Plumb, BBB, Savinelli. Os nacionais, JCI, Bertoldi...
Os bons cachimbos são fabricados com briar, que vem a ser uma raiz de roseira selvagem que existe originalmente na região mediterrânea. Por isso, os cachimbos europeus são os melhores. A raiz é especial para a confecção das peças pela sua resistência ao calor. Mas existem também cachimbos de louça ou outros tipos de materias, como os de espuma do mar. Estes últimos, verdadeiras obras de arte esculpidas.
Quanto a tabacos, a variedade também é muito grande. Dunhill, Balkan Sobranie, Half & Half, Davidoff, Prince Albert (o primeiro importado que fumei), Captain Black, Mac Baren, Amphora, Borkum Riff. Geralmente são ingleses, holandeses, suecos. Têm também os brasileiros. São centenas de qualidades, cada uma com suas características bem marcantes. Sempre tive por hábito ter umas três marcas. Vario não apenas os cachimbos, como também os tabacos. Tenho sempre que posso um fumo nacional como Irlandês, Giovanella ou Dutch Fisherman e dois estrangeiros sendo os mais preferidos o Half & Half, Dunhill ou Amphora.
Os blends são muitos também. Chocolate, menta, whisky, maçã, rum, e outras misturas de fumos como o Burley, o Virginia, além das essências que lhes dão os sabores exclusivos.
E a questão é que a gente se apega mais a uns do que a outros. Têm cachimbos que você fuma poucas vezes e depois encosta. Outros, você não agüenta ficar muito tempo sem fumar. Se um daqueles quebra, você fica dias a lamentar o ocorrido. Não o joga fora de imediato, quase que esperando que a fada azul, como que por milagre o reconstrua, que você acorde e o veja inteirinho à sua espera.
Com o passar do tempo, fica-se mais relaxado quanto à limpeza e conservação dos mesmos. Mas, de quando em vez tem que limpá-los. E aí são dezenas de acessórios à disposição. Raspadores e calcadores de todo tipo. Tenho um raspador inglês, que, sai da frente! Limpa até a alma. Parece um trator, um tanque de guerra, um navio quebra-gelo. Não tem forno que resista, sujeira que fique por onde ele passa.
Hoje, fumo meu cachimbinho apenas em casa. Ou, quando viajo levo uns dois. Por outro lado, o anti-tabagismo já não permite que se fume em qualquer lugar. O fumante de cigarro, por incrível que pareça, ainda passa mais desapercebido. Aquilo faz parte da paisagem. Já o cachimbo, chama mais atenção.
Em suma, fumar cachimbo é uma curtição. Há mais de vinte anos tenho o hábito de fazê-lo. Mas, um dia desses eu falo mais sobre isso.
Fumar cachimbo é um vício – ou, até como defendem muitos, um hábito – muito diferente de fumar cigarro. Requer uma certa dedicação, atenção e um criterioso revesamento de peças.
O cigarro, praticamente você nem se lembra quando ou porque o acendeu. É uma coisa meio mecânica, impulsiva. Para fumar um cachimbo, a pessoa tem que pensar em acende-lo, qual deles vai usar e até o tabaco que será apreciado, pois, quase sempre um cachimbeiro tem duas ou três marcas diferentes de fumo.
Outra coisa é a vontade que você tem de comprar um modelo novo. Quando voltei a fumar cachimbo, tinha dois. Depois de um ano, minha coleção já passava dos trinta. Dois anos depois, quase havia dobrado, pois possuia entre cinqüenta e sessenta.
Iniciar um cachimbo “virgem”, é tão excitante quanto possuir uma donzela em sua primeira noite (na Sicília, claro). O preparo para um cachimbo novo é um ritual, e requer uma técnica e paciência muito grandes. Nas primeiras fumadas deve-se ir enchendo o forno gradativamente até que se forme uma crosta inicial, que, na verdade ajuda a proteger a madeira da violência do fogo e da brasa que esta terá que se submeter o resto de sua existência.
E os modelos? Tem cachimbo curvo, meio-curvo, reto, longo, curto, com forno grande, com forno pequeno. São dezenas de modelos como buldog, apple, pocket, canadian, billiard, churchwarden, pot, bent... Fica difícil falar de todos eles. São ingleses, italianos, holandeses, franceses, gregos, dinamarqueses e até brasileiros. As marcas mais conhecidas são Dunhill, Butz Choquin, Dr. Plumb, BBB, Savinelli. Os nacionais, JCI, Bertoldi...
Os bons cachimbos são fabricados com briar, que vem a ser uma raiz de roseira selvagem que existe originalmente na região mediterrânea. Por isso, os cachimbos europeus são os melhores. A raiz é especial para a confecção das peças pela sua resistência ao calor. Mas existem também cachimbos de louça ou outros tipos de materias, como os de espuma do mar. Estes últimos, verdadeiras obras de arte esculpidas.
Quanto a tabacos, a variedade também é muito grande. Dunhill, Balkan Sobranie, Half & Half, Davidoff, Prince Albert (o primeiro importado que fumei), Captain Black, Mac Baren, Amphora, Borkum Riff. Geralmente são ingleses, holandeses, suecos. Têm também os brasileiros. São centenas de qualidades, cada uma com suas características bem marcantes. Sempre tive por hábito ter umas três marcas. Vario não apenas os cachimbos, como também os tabacos. Tenho sempre que posso um fumo nacional como Irlandês, Giovanella ou Dutch Fisherman e dois estrangeiros sendo os mais preferidos o Half & Half, Dunhill ou Amphora.
Os blends são muitos também. Chocolate, menta, whisky, maçã, rum, e outras misturas de fumos como o Burley, o Virginia, além das essências que lhes dão os sabores exclusivos.
E a questão é que a gente se apega mais a uns do que a outros. Têm cachimbos que você fuma poucas vezes e depois encosta. Outros, você não agüenta ficar muito tempo sem fumar. Se um daqueles quebra, você fica dias a lamentar o ocorrido. Não o joga fora de imediato, quase que esperando que a fada azul, como que por milagre o reconstrua, que você acorde e o veja inteirinho à sua espera.
Com o passar do tempo, fica-se mais relaxado quanto à limpeza e conservação dos mesmos. Mas, de quando em vez tem que limpá-los. E aí são dezenas de acessórios à disposição. Raspadores e calcadores de todo tipo. Tenho um raspador inglês, que, sai da frente! Limpa até a alma. Parece um trator, um tanque de guerra, um navio quebra-gelo. Não tem forno que resista, sujeira que fique por onde ele passa.
Hoje, fumo meu cachimbinho apenas em casa. Ou, quando viajo levo uns dois. Por outro lado, o anti-tabagismo já não permite que se fume em qualquer lugar. O fumante de cigarro, por incrível que pareça, ainda passa mais desapercebido. Aquilo faz parte da paisagem. Já o cachimbo, chama mais atenção.
Em suma, fumar cachimbo é uma curtição. Há mais de vinte anos tenho o hábito de fazê-lo. Mas, um dia desses eu falo mais sobre isso.
15 comentários:
Ainda que o prazer da releitura, você parece muito ocupado ou algo indisposto para novas 'pensatas'.
Gosto demais destes teus Papos de Cachimbeiro. São uma verdadeira viagem.
E por falar em viagem, visjastes naquela da "virgem" siciliana. O que é isso?
Isto até já foi assunto mais de uma vez neste blogue.
A primiera razão para isto é que tenho tido muitos trabalhos fora da base, ou seja, fora do computador. Daí sobra pouco tempo.
Em segundo, republico muito pelo fato de o antigo "Pensatas" ter-se ido da forma que foi.
Tenho que falar quantas vezes que não somente não sou, COMO DETESTO tudo o que seja "politicamente correto"!!!
Ih, o cara desbundou!
Ai essa esquerda.....
E desde quando esquerda tem que ser "politicamente correta"?
Essa expressão foi inventada pelo sistema capitalista em pleno auge do neoliberalismo...
Ela não tem nada a ver com a esquerda!!!
A verdade é que a Ieda tem toda razão em criticar o seu lado 'machão' latino no texto sobre a virgem siciliana.
Otávio
Papai me falava muito de cachimbos de Bruyére uma raiz francesa. Parce que raiz de roseira. Já você fala em Briar. Será a mesma coisa em línguas diferentes?
O comentário ainda é sobre o post anterior, me atrasei, se correr o bicho pega. Envie-me seu conto, rebusque o velho baú, é minha chance de saber dos escritores da Academia de Letras o que dizem de um estilo que fiquei apreciando muito. Descobrindo, assim, meu próprio gosto literário.
Quanto ao cachimbo, já disse no ano passado, é um puríssimo charm de gente disposta com a vida. Um grande abraço.
Õ Tavim, vai te catar, vai!
Será que inventavam aquele ritual, todo o "tira-teima" na noite de núpcias na Itália Meridional. E o lençol manchado pendurado na janela pela manhã? E tudo aquilo que a gente assistiu em filmes, etc...
É um ritual, inegavelmente, Ou não?
Briar é bruyère em inglês. São essencialmente a mesma madeira, uma raiz silvestre que existe em vários países da Europa.
Mas atenção, não confundir com "roseira", porque não tem nada a ver e há muita confusão neste sentido.
Ó Stela, está aí uma tarefa árdua... "Tempo, espaço, tempo" está em manuscritos e eu preciso dar uma ordenada naquilo; assim como fiz com alguns pedaços que publiquei desta feita. Pra dizer a verdade, nem eu entendo tudo o que está ali. Mas, um dia eu desenccavo tudo... prometo...
Sobre cachimbos e livros, tenho um conhecido que estava escrevendo um cujo título era: "Como fumar cachimbo sem fazer pose".
Tudo bem, acho que quando o cachimbo faz parte da vida da gente, a pose desaparece por completo. Isso era da época em que os galãs de Hollywood tiravam fotos com cachimbos na boca.
Hoje então que nem fumo fora de casa e da minha intimidade. Pra que pose?
Que bom encontrar um cachimbeiro. Também tenho três cachimbinhos e fumo de vez em quando.
Se puder me manda endereços de sites e blogs de cachimbo.
muito bom o texto, é isso mesmo.
Obrigado, Jesse. Você, pelo jeito dá umas cachimbadas de vez em quando, certo?
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