Existe um abismo entre o conceito de democracia grega (ateniense) e o que temos atualmente. Para fazermos uma análise disto, precisamos voltar às suas origens e depois compará-las ao que temos no presente.
Os cidadãos gregos adultos masculinos nascidos em Atenas, passaram a decidir os destinos da cidade na Ágora (a praça pública). Era a “democracia direta”. Demokratia: os cidadãos (demos) detinham o poder político (kratos) do Estado. Segundo Péricles: “o regime ateniense se chama democracia, pois o governo do estado não está nas mãos de poucos, mas de muitos”.
Durante séculos a democracia foi jogada ao ostracismo, esquecida. O poder imperial romano a enterrou, a Idade Média a execrou e ela só veio ressurgir com mais força no século XVIII, através da Revolução Americana, dos Iluministas e da Revolução Francesa. Desta época em diante foi crescendo em termos de presença e diversas formas, reincorporando-se ao dicionário político.
Vivemos um período histórico em que o significado da palavra sofreu uma imensa vulgarização e deturpação. Por outro lado, nunca foi tão mal interpretada, e de forma tão extensa. A democracia atrelada ao poder econômico não é democracia. Por que? Antes de mais nada, a confusão gerada entre democracia e o simples ato de votar em alguém caiu no jargão popular. E democracia não é apenas votar. Democracia é um estado de coisas que deve gerir a liberdade de expressão, e tantas outras. E não somente liberdade de expressão daquilo que não incomoda de fato o estado vingente, mas teoricamente, de tudo. Atingi-la é uma tarefa árdua. Impossível na forma em que a conhecemos.
Por que? Hoje, vota-se em parlamentares, que julgamos representantes. Mas representantes de quem? O povo pode considerar seu representante o eleito por ele, mas que antes de mais nada está atrelado aos seus compromissos com quem o financiou. Pode um parlamentar, eleito com as verbas de uma empresa ou um grupo de empresas votar contra os interesses desta ou destas? Este é o “calcanhar de Aquiles” da “democracia” nos estados modernos dominados pelo capital. Os eleitos são apenas fantoches daqueles que realmente os elegeram. E este alguém não é o povo, que foi apenas um instrumento adequado para a concretização da ação pelo voto através de uma grande farsa montada. Os interesses que elegeram estes “representantes”, é que, na verdade manipulam os seus atos.
Democracia passou a ser uma forma do sistema influenciar a opinião pública em defesa da propriedade. Por outro lado, é a grande propriedade a forma menos democrática de distribuição de renda, a maior geradora das desigualdades. A partir do momento em que a humanidade estabeleceu-se, cultivou terras, apoderou-se delas, as injustiças começaram a surgir e se aprofundar em escala sempre progressiva. Surgiram o senhor e o escravo, as religiões e seus sacerdotes defendendo a propriedade. E culminamos com o domínio do grande capital. Vivemos a época dos impérios econômicos em que alguns poucos concentram a fortuna e o poder. Em que estes mesmos poucos se aproveitam do uso indevido do que chamamos de democracia como forma de defesa de seus interesses.
Outrossim, “pensamento único” é uma forma de comportamento anti-democrático por excelência, pois marginaliza aqueles que estão em desacordo com os parâmetros estabelecidos e impostos como “verdadeiros”. Foi assim na Idade Média, através do Sacro Santo Império, que provocou com a Inquisição a maior carnificina até hoje conhecida. Também foi assim na Alemanha do III Reich e na Rússia stalinista. E continua assim no capitalismo pós-moderno, com sua muralha de conceitos estabelecidos e “inquestionáveis”.
Enquanto isso, a democracia continua sendo a grande Utopia inatingível...
Os cidadãos gregos adultos masculinos nascidos em Atenas, passaram a decidir os destinos da cidade na Ágora (a praça pública). Era a “democracia direta”. Demokratia: os cidadãos (demos) detinham o poder político (kratos) do Estado. Segundo Péricles: “o regime ateniense se chama democracia, pois o governo do estado não está nas mãos de poucos, mas de muitos”.
Durante séculos a democracia foi jogada ao ostracismo, esquecida. O poder imperial romano a enterrou, a Idade Média a execrou e ela só veio ressurgir com mais força no século XVIII, através da Revolução Americana, dos Iluministas e da Revolução Francesa. Desta época em diante foi crescendo em termos de presença e diversas formas, reincorporando-se ao dicionário político.
Vivemos um período histórico em que o significado da palavra sofreu uma imensa vulgarização e deturpação. Por outro lado, nunca foi tão mal interpretada, e de forma tão extensa. A democracia atrelada ao poder econômico não é democracia. Por que? Antes de mais nada, a confusão gerada entre democracia e o simples ato de votar em alguém caiu no jargão popular. E democracia não é apenas votar. Democracia é um estado de coisas que deve gerir a liberdade de expressão, e tantas outras. E não somente liberdade de expressão daquilo que não incomoda de fato o estado vingente, mas teoricamente, de tudo. Atingi-la é uma tarefa árdua. Impossível na forma em que a conhecemos.
Por que? Hoje, vota-se em parlamentares, que julgamos representantes. Mas representantes de quem? O povo pode considerar seu representante o eleito por ele, mas que antes de mais nada está atrelado aos seus compromissos com quem o financiou. Pode um parlamentar, eleito com as verbas de uma empresa ou um grupo de empresas votar contra os interesses desta ou destas? Este é o “calcanhar de Aquiles” da “democracia” nos estados modernos dominados pelo capital. Os eleitos são apenas fantoches daqueles que realmente os elegeram. E este alguém não é o povo, que foi apenas um instrumento adequado para a concretização da ação pelo voto através de uma grande farsa montada. Os interesses que elegeram estes “representantes”, é que, na verdade manipulam os seus atos.
Democracia passou a ser uma forma do sistema influenciar a opinião pública em defesa da propriedade. Por outro lado, é a grande propriedade a forma menos democrática de distribuição de renda, a maior geradora das desigualdades. A partir do momento em que a humanidade estabeleceu-se, cultivou terras, apoderou-se delas, as injustiças começaram a surgir e se aprofundar em escala sempre progressiva. Surgiram o senhor e o escravo, as religiões e seus sacerdotes defendendo a propriedade. E culminamos com o domínio do grande capital. Vivemos a época dos impérios econômicos em que alguns poucos concentram a fortuna e o poder. Em que estes mesmos poucos se aproveitam do uso indevido do que chamamos de democracia como forma de defesa de seus interesses.
Outrossim, “pensamento único” é uma forma de comportamento anti-democrático por excelência, pois marginaliza aqueles que estão em desacordo com os parâmetros estabelecidos e impostos como “verdadeiros”. Foi assim na Idade Média, através do Sacro Santo Império, que provocou com a Inquisição a maior carnificina até hoje conhecida. Também foi assim na Alemanha do III Reich e na Rússia stalinista. E continua assim no capitalismo pós-moderno, com sua muralha de conceitos estabelecidos e “inquestionáveis”.
Enquanto isso, a democracia continua sendo a grande Utopia inatingível...
10 comentários:
Boa aula de Ciência Política. Estou, agora, seu aluno, tantos os posts informativos e elucidativos.
O conceito de democracia é muito questionável e você tocou em pontos que são importantes. O poder econômico nas democracias é sabido hoje que muito influenciam decisões e posições dos políticos que na teoria deveriam nos defender. E defendem?
Meu caro professor Setaro. Isto, vindo de sua parte muito me enche de orgulho.
Espero estar de alguma forma estar a esclarecer alguns pontos obscuros e controversos gerados por terminologias que com o passar do tempo viram clichês.
Boa pergunta, JR.
Creio que eles defendem quem de fato os elegeu. Esta é a realidade dos fatos.
Quanto mais nos informamos mais vemos quanto isso que dizem ser democracia não é.
Utopia é a designação mais apropriada para democracia. Em todos os tempos.
Sem dúvida nenhuma democracia é uma terminologia mal empregada, principalmente nos dias de hoje em que tornou-se vulgarizada pelo sistema como arma política e não corresponde ao que seria de fato.
Se existisse.
A resposta ao seu comentário complementa a anterior.
É utopia porque é deturpada e serve a propósitos utilitaristas.
Criaram-se chavões e clichês para determinar o que é democracia. E estes não são colocados (democraticamente) em questão, passando a ser verdades absolutas e indiscutíveis, nas quais não se descem a detalhes e definições concretas.
Falar em Utopia em tempos difíceis nos torna mais corajosos para enfrentamentos. Uma aula com elaboração, gostei.
E infelizmente a democracia é uma utopia. Uma utopia apregoada aos quatro cantos, uma utopia que no decorrer dos tempos sempre se tentou alcançar e até institucionalizar.
Como nesses tempos pelos quais passamos em que tanto se fala nela e tão pouco se pratica.
Na verdade se confundem muito as suas causas. Mais ainda as suas conseqüências.
Mas concordo com você que devamos tentar alcançar os nossos sonhos.
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