quinta-feira, 30 de abril de 2009

Quem disse que português é burro?

Tinha chegado recentemente a Portugal. Estava me adaptando a novos colegas de trabalho, a um novo ambiente, a um tudo novo, afinal... era um outro país, outro povo, além mar, cujas maiores semelhança eram falar uma “língua muito parecida” e assistir novelas brasileiras. Aliás, em Portugal foi a única ocasião em que admiti assistir alguns capítulos de novelas, porque assim eu matava as saudades da terrinha do lado de cá do Atlântico.
O fato, ou melhor dizendo, o “facto” é que quando tinha uns dez dias lá, alguns colegas me convidaram para tomar uma cervejinha na casa de um deles. Foi animado. E com um detalhe: tomei um porre de sair carregado, porque a cerveja portuguesa tem um teor alcoólico bem mais forte do que a nossa. E eu abusei da excelente Super Bock, cerveja que aliás era motivo de orgulho para os “tripeiros” (1), por ser fabricada no Porto.
Foram ao festivo encontro o Mário, o Simões e o Barros, dono da casa, além de mim e do Orlando, o redator brasileiro que era o meu parceiro na criação da Opal. Na ocasião, o Barros falou que estava imprimindo umas camisetas para comercializar. Aliás, no seu apartamento – que não era muito grande – notei o equipamento de silk instalado. Só não vi como eram as peças, até porque ele não mostrou.
Duas semanas depois, estávamos na agência e vejo o Barros feliz da vida. Só faltava estar sapateando. Ria à toa. Depois de algum tempo ele me contou o motivo de tamanha alegria. Tinha tido uma ideia, a executou e deu certo. Com a ida do papa a Fátima ele e o Mário tinham planeado (2) imprimir umas duas ou três mil camisetas com a inscrição: “Eu vi o Papa em Fátima” e a data do acontecimento embaixo. Levaram tudo numa van (que lá eles chamam de “carrinha”) e venderam tudo, chegando ao ponto de terem se arrependido de não haverem feito uma maior quantidade.
É o que eu sempre digo: as boas idéias são simples, óbvias e estão na cara da gente. É só saber aproveita-las.

(1) Quem nasce no Porto, o portuense, também é conhecido por tripeiro.
(2) “planejar” é “planear” na linguagem local.

8 comentários:

André Setaro disse...

Boa crônica. Mas, falando em Portugal - acho Lisboa pelo que vi em fotos e documentários, um lugar muito aprazível, bucólico, há alguns anos assisti a uma mostra de filmes portugueses e não entendi nada dos diálogos. Acho que os filmes oriundos de Portugal deviam ser legendados.
Fiquei animado com esta Super Bock.

Jonga Olivieri disse...

O acento falado por lá é menos entendida por nós. Eles conseguem nos compreender melhor. Talvez até por causa das novelas brasileiras que passam em larga escala. Ou quem sabe por serem os autores da língua.
A Super Bock era encontrada entre os importados de bons supermercados aqui no Rio. Tem uma outra cerveja lá que é a Sagres. Bom, o tero alcoólico também é alto. Creio que em todas fabricadas por lá ele é.

maria disse...

Como você disse as boas idéias são tão óbvias que na maioria das vezes estão na frente da gente!

Ieda Schimidt disse...

Muito interessante esta tua historinha porque desmistifica a burrice portuguesa tão difundida em piadinhas.

Jonga Olivieri disse...

As boas ideias são simples mesmo!

Jonga Olivieri disse...

É o que acho. Os portugueses, assim como os europeus de um modo geral pensam um pouco diferente de nós. É uma questão de linha de raciocínio.

Eliana BR disse...

Jonga querido,
So seu titulo - Quem disse que português é burro? - ja te condenaria à morte por estas bandas daqui. Pra te dar uma idéia te conto uma historinha ( sera que ja contei?).
Assim que chegamos aqui nos aproximamos da comunidade portuguesa, universitaria e nao universitaria, e fomos muito bem acolhidos. Um acolhimento diria eu "brasileiro", diriam eles, "português". Um dos novos amigos, brilhante professor numa universidade parisense importante e de tradiçao de esquerda, fez entao um jantar pra nos. E convidou pesssoas muito interessantes, um francês, organizador de um festival de musica, sua mulher portuguesa, diretora de um importantissimo centro cultural de Paris, moça de extraordinaria beleza, uma professora universitaria e tradutora de Lisboa muito conhecida e seu marido, diplomata português. Durante o jantar,a conversa ia animadissima quando, para nosso desconforto, alguns dos presentes começaram a comentar a questao da ma imagem que, julgavam eles, tinham os portugueses na França. Imagem de trabalhadores, diga-se de passagem. Eles a julgavam ma porque eram todos intelectuais saidos dos circulos burgueses de Lisboa e achavam insultante a referência aos porteiros e trabalhadores da construçao civil quando se falava d portugueses em Paris. Dai resvalaram para a imagem ruim que, segundo eles, os portugueses tinham no Brasil. Ronaldo e eu diziamos que nao, que era o modo de fazer piada dos brasileiros, etc e tal, sem muito sucesso. O anfitriao, em desespero de causa, resolveu servir o café no cantinho de poltronas, pra ver se mudava o rumo da coisa. E la, mexendo seu cafezinho, um dos presentes disse que ja que os brasileiros gostavam tanto de piada de português, ele ia contar uma de brasileiro:
Manuel e Maria viviam no Brasil. Um dia Manuel foi chamado a Portugal e la se foi, deixando Maria no Brasil. Nove meses depois, ele recebe uma carta de Maria : - Manuel, tu és pai. Manuel se descabela, chora, grita, se amaldiçoa, amaldiçoando Maria. Os amigos se surpreendem: - Mas Manuel, faz nove meses que tu a deixaste, por que duvidar de tua mulher? O filho é teu! E Manuel: - E que no Brasil que nascem os filhos da puta.
O silêncio foi geral. Ninguém sabia como retomar a conversa. O dono da casa começou a passar licores freneticamente. De repente todo mundo tomou a palavra ao mesmo tempo, falando cada um de uma coisa diferente. Nao me lembro como terminou a noite.
Quem contou a piada? O diplomata.
Bises,
Eliana

Jonga Olivieri disse...

Muito interessante a historinha Eliana. Ah! Esses portugueses...