
“Os sinos não dobram quando fecha um jornal, mas dobram pelo jornalismo. Nenhum jornal é uma ilha – menos um jornal, menor a imprensa. Menos um diário, menor o continente, o mundo, a humanidade.”
Neste parágrafo inicial, o jornalista já nos dá uma ideia da dimensão da catástrofe. De quanto pesa a ausência de um jornal e da imensidão de sua falta num cenário em que é importante a pluralidade de opiniões e as opções a que fica sujeito o leitor e/ou cidadão, em última instância aquele que usufrui destas opções necessárias ao seu objeto de escolha.
“Pífia, lamentável, a repercussão do anúncio do fim do Jornal do Brasil impresso. Ninguém vestiu luto – só os jornalistas – porque há muito aboliu-se o luto. O luto e a luta. Sobreviventes não lamentaram, dão-se bem no jornalismo morno, sem disputa. Juntaram-se para revogar a concorrência e enterraram a porção vital do seu ofício. Esqueceram a animada dissonância, preferiram a consonância melancólica.”
Aqui, Dines é brilhante, primeiro por constatar que poucos sentiram tanto o desaparecimento do referido veículo de comunicação quanto aqueles que, pela profissão exercida necessitam o oxigênio fornecido pelo próprio mercado. Quando diz que “... juntaram-se para revogar a concorrência...” fica claro o quanto o fim de um jornal significa no seu mercado. Pois como tambem diz que “sobreviventes não lamentaram, dão-se bem no jornalismo morno, sem disputa...” Uma lamentável conclusão!
“O derradeiro confronto jornalístico no Rio talvez tenha se travado no início dos anos 70 (ou fim dos 60) quando Roberto Marinho decidiu que O Globo não poderia ficar confinado ao esquema de vespertino e passou a circular aos domingos. Em represália, Nascimento Brito decidiu que o JB invadiria a segunda-feira. Encontro de gigantes, disputa de qualidade. Mesmo com a ditadura e a censura como pano de fundo.”
Isto remonta a tempos --que a maioria nem se lembra-- em que existiam os matutinos (jornais mais nobres) e os vespertinos (jornais mais vulgares). Tempos em que O Globo, em seu crescimento, começou a reivindicar sob a proteção das asas dos militares no poder um espaço maior como porta-voz deles mesmos, os generais-presidentes. O Jornal do Brasil, até pelo seu corpo editorial, representante de uma voz que pretendia se opor ao regime ditatorial até onde fosse permitido, era um obstáculo necessário de ser derrubado a qualquer custo.
“Sem competição, o jornalismo perdeu o elã; desvirtuado, virou disputa pelo poder. Exatamente isso atraiu Nelson Tanure, o empresário que investe em informática, estaleiros e faz negócios pelo negócio. Não lhe disseram que empresário de jornal não precisa escrever editoriais, basta gostar do ramo e ser fiel a ele.”
Neste particular, Alberto Dines reflete à disputa entre os dois jornais, na captura do que havia de melhor no JB para O Globo, a esvaziar os colunistas daquele jornal (se necessário a peso de ouro) para este, sem o menor elã (segundo suas palavras). Uma disputa que nos deixou apenas o saudoso e brilhante Fausto Wolff, que veio a falecer ainda como colunista diário do velho JB”. Os demais estão todos justamente n’O Globo!
Quanto a Nelson Tanure... Até valeu a tentativa. Mas o que tem o... a ver com a s calças?
“Simbólico: o fim do JB impresso foi confirmado na edição de quarta-feira (14/7) sob a forma de anúncio, publicidade. Aquela Casa não acredita em texto. E o seu jornal morreu sem epitáfio.”
Triste, muito triste...