terça-feira, 6 de julho de 2010

Uma crítica consciente

Trancrevo aqui, na íntegra um artigo publicado por Alberto Dines no “Observatório da Imprensa” em 5/7/2010 que considero uma visão correta dos acontecimentos.

O terceiro tempo já começou e será muito mais desagradável do que o segundo, o inesquecível pesadelo em Nelson Mandela Bay, Port Elizabeth, África do Sul.
A seleção argentina e especialmente o seu técnico, Diego Maradona, foram literalmente humilhados pelos alemães em campo e nas manchetes da imprensa internacional. Mesmo assim, foram recebidos no domingo (4/7) com muito respeito. Dez mil torcedores foram ao aeroporto de Ezeiza, Buenos Aires, solidarizar-se com o ídolo caído.
Nosso fiasco no gramado foi muito menor, o placar foi menos vexatório, a mídia mundial não nos espezinhou, apenas lamentou, mas aqui a indignação contra Dunga e seus pupilos é gritante.
Há um clima generalizado de malhação e uma raivosa caça aos bodes expiatórios que não condiz com a nossa cordialidade e bonomia. E quem está vocalizando a exibição de rancor é a imprensa.
Convém lembrar que no mesmo dia em que nossos guerreiros/cervejeiros foram obrigados a engolir a laranjada holandesa, a Folha de S.Paulo publicava uma sondagem segundo a qual Dunga tinha 69% de aprovação popular.
Erro de tabulação, inconstância da opinião pública ou perfídia de uma imprensa que esquece os verdadeiros culpados pela lambança – os cartolas – e investe apenas contra seus medíocres prepostos?
Faxina nos bastidores
Dunga foi desastrado e desastroso no trato com a imprensa, disso não há menor dúvida. Mas quem escolheu Dunga e deu-lhe cobertura em todas as crises foi o chefão da CBF, Ricardo Teixeira.
No antigo Japão quem cometia o haraquiri era o chefe supremo, aquele que escolhia o responsável pelo fracasso (quando não os dois).
Maradona soube interpretar magistralmente a vocação melodramática argentina, por isso está sendo amparado, ao menos neste início da ressaca. A imprensa o ataca por tabela para atingir seus padrinhos, o casal Kirchner, empenhado numa queda de braço com os meios de comunicação.
Mas a indicação do casmurro, bronco, zangado e incompetente Dunga contrariou radicalmente todos os arquétipos e paradigmas da alma brasileira; infame foi quem o preferiu, contrariando toda a lógica e esmagadoras evidências.
Qual o grande grupo brasileiro de mídia que terá a coragem de peitar o caudilho Ricardo Teixeira?
De nada adiantará a renovação total do plantel de jogadores para o Mundial de 2014 sem o indispensável saneamento dos bastidores do futebol. E para levar este processo às últimas conseqüências será preciso repensar o papel dos jornalistas na cobertura do espetáculo desportivo.

8 comentários:

Anônimo disse...

Uma análise na verdade independente da opinião da grande mídia e que mostra aspectos como o de que Dunga tinha 69% de aprovação popular no dia do jogo.
E o entronado 'caudilho' Ricardo Teixeira e os cartolas? Estes sim os verdadeiros responsáveis pelos vícios do futebol brasileiro.
Também a questão do placar final do jogo que no caso do Brasil foi um apertado 2x1, mas a imprensa e os torcedores que só admitem entrar na copa para trazer o caneco não se conformam.
E fica a sua pergunta: 'Qual o grande grupo brasileiro de mídia que terá a coragem de peitar o caudilho Ricardo Teixeira?'
Tomáz

Jonga Olivieri disse...

Alberto Dines é um jornalista sério e cujo aspecto moral é inquestionável. Por isto sempre leio o "Observatório da Imprensa"...
Ele escreveu praticamente o que eu queria dizer, por isto mesmo resolvi transcrever a matéria.
Nota: não é a minha pergunta, mas a dele. Certo?

maria disse...

Muito bom esse Alberto Dines. Gostei de tudo que li.

Jonga Olivieri disse...

Vale sempre a pena ler o "Observatório da Imprensa". Tem na internet...

André Setaro disse...

Alberto Dines faz, aqui, neste post, a melhor análise que li, em jornais, da Copa do Mundo. É um arguto observador da imprensa e jornalista admirável (basta dizer que um dos responsáveis pela criação do inesquecível Caderno B do 'Jornal do Brasil'.

Este trecho é demolidor:
"Mas a indicação do casmurro, bronco, zangado e incompetente Dunga contrariou radicalmente todos os arquétipos e paradigmas da alma brasileira; infame foi quem o preferiu, contrariando toda a lógica e esmagadoras evidências.
Qual o grande grupo brasileiro de mídia que terá a coragem de peitar o caudilho Ricardo Teixeira?"

Ieda Schimidt disse...

Alberto Dines e o Observatório da Imprensa são respeitados no Brasil inteiro.
E a sua análise neste artigo é perfeita mesmo. Principalmente porque nomeia o verdadeiro culpado de tudo o que acontece na CBF há mais de 30 anos.
E é preciso que se tomem atitudes contra este verdadeiro mafioso que é Ricardo Teixeira. Já é tempo!

Jonga Olivieri disse...

Trata-se de uma crítica sem retoques, bem ao estilo do autor que, como você bem lembrou foi um dos responsáveis pela criação do Cadreno B e tem uma trajetória como um jornalista de opinião.

Jonga Olivieri disse...

A CBF é uma máfia. Um joguete dos cartolas. Mas embora muita gente saiba disso são poucos os que falam...