segunda-feira, 15 de julho de 2013

A esquerda pseudotrotskista e a reconstrução da IV Internacional – parte 1



Série “A Reconstrução da IV Internacional”, artigo extraído do Jornal Luta Operária (Maio-Junho/1995) LBI-QI*.

A ruptura da vanguarda operária com as direções traidoras e frentepopulistas é obstaculizada pela política das correntes pseudotrotskistas que são apêndices da social democracia e do reformismo no movimento operário. O lambertismo, o mandelismo e o morenismo, além do POR lorista são a expressão mais fiel do oportunismo sem princípios que impregnou o movimento operário internacional.

O lambertismo é atualmente uma espécie de office-boy político das direções social democratas. Na Europa e na América Latina, onde ainda tem presença, essa corrente rompeu todos os vínculos com o bolchevismo e adotou a estratégia de lutar por governos burgueses democráticos e populares. Sua antiga organização internacional, o Comitê Internacional de Reconstrução da IV Internacional, em 89 dissolveu-se em um Acordo Internacional dos Trabalhadores — ACTI, um organismo de burocratas sindicais de esquerda, que se resume a ter encontros anuais, como será agora a Conferência Operária Independente, tornando-se um fórum que a cada reunião se resume a pincelar um programa de gerência do capitalismo, um organismo de defesa da democracia burguesa contra a independência do movimento operário. Seja nas resoluções de suas conferências abertas, ou na política das organizações vinculadas ao lambertismo, assume posições de apêndice da social democracia, como na guerra do golfo, com a palavra de ordem "Não à Guerra", igualando o imperialismo à nação oprimida iraquiana, nem sequer reivindicando a saída das tropas do Oriente Médio, exigindo a paz dos cemitérios. O lambertismo estava entre os mais ardorosos defensores da Frente Brasil Popular representada na candidatura de Lula, defendendo a coligação eleitoral com partidos burgueses, como o PSDB, mesmo sendo este o partido de FHC como ocorreu na cidade de Brasília.

O Secretariado Unificado é uma corrente que se caracteriza por ser um pêndulo entre o stalinismo e a social democracia. Diante da agonia da burocracia, se converteu definitivamente à expressão política social democrata, defendendo, que com a mítica "revolução técnico-científica" o capitalismo retomou seu fôlego como modo de produção e, ante a vitória do capitalismo sobre o socialismo, o papel da esquerda seria adaptar-se à ordem, adotando a função de conselheiros da justiça social do capital. O mandelismo substituiu a luta de classes pela "humanização do capitalismo" através da luta pela cidadania, colocando como centro de suas preocupações políticas a "luta ecológica" e "em prol das minorias". Há tempos o mandelismo abandonou formalmente o trotskismo, pregando abertamente a conciliação de classes. No México, fazem a "exigência" de uma saída negociada pela Igreja no conflito de Chiapas, participando com sua seção, o Partido Revolucionário dos Trabalhadores da frente popular com Cárdenas, que apesar do apoio recebido exigiu a imediata dissolução do PRT, sendo prontamente atendido. No Brasil apoiam as alianças burguesas feitas pelo PT com o PMDB e o PSDB.Com relação a ex-URSS defenderam o programa burguês-nacionalista da perestroika de Gorbachev, mesmo quando este apresentou claramente seus objetivos de retorno a economia capitalista. Numa prova de reverência à democracia burguesa, querem exorcizar a esquerda do fantasma da estrutura leninista de partido. Desta forma, prestam seus melhores serviços à burocracia social democrata na perseguição às organizações revolucionárias.

O morenismo é a corrente pseudotrotskista que teve maior influência na América Latina. Sua característica fundamental é a adaptação programática e organizativa diante de todos os fenômenos ligados ao nacionalismo, foquismo e à social democracia quando estes se projetam como uma grande moda da esquerda nacional e mundial. Esta corrente adotou como sua as mais diversas variantes políticas, desde o nacionalismo burguês de Bolívar, Zapata, até Perón, passando pelo foquismo de Castro, a social democracia de Mitterrant e o reformismo de Lula.

A corrente de Moreno, após sucessivos fracassos na tentativa de construir uma organização internacional por meio de fusões e acordos sem princípios com Healy (Comitê Internacional, 1953), Mandel (SU, em 1963) e Lambert (Comitê Paritário, 1980), parte para uma empreitada independente em 82, sob o nome de Liga Internacional dos Trabalhadores. A partir daí "elege" a Argentina como centro da revolução mundial, transformando o antigo PST em Movimento Ao Socialismo, o MAS, um partido definido pelo próprio Moreno como "centrista de esquerda", uma frente de trotskistas com elementos da social democracia.

Nas eleições parlamentares de 85, o MAS lança-se em uma aliança com o partido comunista, denominada "Frente del Pueblo", encabeçada pelo peronista Vila Flôr, apresentando-se entre as 3 listas peronistas existentes, como "o autêntico peronismo operário". Dando seqüência a sua trajetória frentepopulistas, em 89, formou a "Izquierda Unida" uma aliança entre o MAS e a FRAL, um agrupamento composto pelo PC e setores marginais da burguesia. Esta fórmula, encabeçada pelo democrata-cristão, Nestor Vicente, tendo morenista Zamora, como vice-presidente, confere o primeiro ganho eleitoral ao MAS, elegendo Zamora a deputado nacional. Nesta etapa, a LIT caracterizou o MAS como "o maior partido trotskistas do mundo", estando prestes a tomar o poder na Argentina, que supostamente estaria num período abertamente revolucionário, como em outubro de 1917 na Rússia. Porém a realidade estava longe das caracterizações ufanistas da LIT. Nem houve revolução na Argentina e muito menos o MAS tomou o poder. A total desmoralização de seus prognósticos, abriu no seio do MAS e da própria LIT uma profunda crise, o partido argentino perdeu quase toda sua influência e boa parte de sua militância, entrando em um período de completa insolvência.

Os acontecimentos do leste europeu em 89, são fundamentais para aprofundar o desnorteamento da LIT. Seu programa caracteriza as transformações do Leste como "revoluções democráticas triunfantes", chocando-se frontalmente com a realidade, a restauração capitalista nos Estados operários. Saudaram a contra revolução de Yeltsin como um "grande triunfo revolucionário na URSS" (Declaração da LIT-QI, agosto de 91).

A primeira ruptura do MAS como resultado do aprofundamento de sua política "nacional-trotskista"’ foi o PTS, ainda em 88. Este agrupamento se opôs à caracterização de que a Argentina era o centro da revolução mundial. Apesar da tentativa de estabelecer um balanço crítico do morenismo, o PTS partilha das mesmas posições sociais-democratas da LIT, afirmando que "as revoluções de 89 a 91 no leste e na ex-URSS constituíram-se em um fenômeno progressivo, foram um golpe a esquerda e não a direita no estalinismo, e indiretamente no imperialismo" (Rebelión de los Trabajadores, nº 59, 29/09/94). O PTS nega o que está claro: os desdobramentos dos processos abertos em 89 nos estados operários constituem-se numa derrota histórica dos trabalhadores, representando o fim das conquistas da revolução de outubro.

(*) Liga Bolchevique Internacionalista – Quarta Internacional
  
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8 comentários:

Joelma disse...

Uma postagem bastante esclarecedora. A Liga Internacionalista Bolchevique está de parabéns. E você também.
Quando será a parte 2?

Anônimo disse...

Bom ficar sabendo dessas tendências ligadas ao 'trotsquismo'.
A 'Reconstrução da IV Internacional' é muito importante porque León Trotsky ainda é o ponto de referência da 'oposição de esquerda"' a Stálin.
O que faz com que me oponha à criação de uma 'V Internacional', como muito já se falou!

L.F.

Misael disse...

Uma verdadeira aula de "Luta Operária". MA-RA-VI-LHA!

Mário disse...

Trotsky foi Trotsky. Pena que os seus seguidores se desentenderam tanto!

Anônimo disse...

Simplesmente do grande caralho!
Tavim

Ernani disse...

Também estou de acordo. Esta série (parece que vai ser) vai ensinara bastante a todos nós.

Anselmo disse...

Importantíssimo conhecer melhor as correntes contemporâneas do Trotskismo. Pôxa, vale esta publicação...

Glaucia disse...

Sou trotiskysta até hoje e vou procurar a LBI-QI. Gostei deles.