Série
“A Reconstrução da IV Internacional”, artigo extraído do Jornal Luta Operária
(Maio-Junho/1995) LBI-QI*.
A ruptura da vanguarda operária com as direções traidoras e frentepopulistas é obstaculizada pela política das correntes pseudotrotskistas que
são apêndices da social democracia e do reformismo no movimento operário. O
lambertismo, o mandelismo e o morenismo, além do POR lorista são a expressão mais fiel do oportunismo sem princípios
que impregnou o movimento operário internacional.
O lambertismo é atualmente uma espécie de office-boy político das direções social democratas. Na Europa e na
América Latina, onde ainda tem presença, essa corrente rompeu todos os vínculos
com o bolchevismo e adotou a estratégia de lutar por governos burgueses
democráticos e populares. Sua antiga organização internacional, o Comitê
Internacional de Reconstrução da IV Internacional, em 89 dissolveu-se em um
Acordo Internacional dos Trabalhadores — ACTI, um organismo de burocratas
sindicais de esquerda, que se resume a ter encontros anuais, como será agora a
Conferência Operária Independente, tornando-se um fórum que a cada reunião se
resume a pincelar um programa de gerência do capitalismo, um organismo de
defesa da democracia burguesa contra a independência do movimento operário.
Seja nas resoluções de suas conferências abertas, ou na política das
organizações vinculadas ao lambertismo, assume posições de apêndice da social
democracia, como na guerra do golfo, com a palavra de ordem "Não à
Guerra", igualando o imperialismo à nação oprimida iraquiana, nem sequer
reivindicando a saída das tropas do Oriente Médio, exigindo a paz dos
cemitérios. O lambertismo estava entre os mais ardorosos defensores da Frente
Brasil Popular representada na candidatura de Lula, defendendo a coligação
eleitoral com partidos burgueses, como o PSDB, mesmo sendo este o partido de
FHC como ocorreu na cidade de Brasília.
O Secretariado Unificado é uma corrente que se caracteriza por ser um
pêndulo entre o stalinismo e a social democracia. Diante da agonia da
burocracia, se converteu definitivamente à expressão política social democrata,
defendendo, que com a mítica "revolução técnico-científica" o
capitalismo retomou seu fôlego como modo de produção e, ante a vitória do
capitalismo sobre o socialismo, o papel da esquerda seria adaptar-se à ordem,
adotando a função de conselheiros da justiça social do capital. O mandelismo
substituiu a luta de classes pela "humanização do capitalismo"
através da luta pela cidadania, colocando como centro de suas preocupações
políticas a "luta ecológica" e "em prol das minorias". Há
tempos o mandelismo abandonou formalmente o trotskismo, pregando abertamente a conciliação
de classes. No México, fazem a "exigência" de uma saída negociada
pela Igreja no conflito de Chiapas, participando com sua seção, o Partido
Revolucionário dos Trabalhadores da frente popular com Cárdenas, que apesar do
apoio recebido exigiu a imediata dissolução do PRT, sendo prontamente atendido.
No Brasil apoiam as alianças burguesas feitas pelo PT com o PMDB e o PSDB.Com
relação a ex-URSS defenderam o programa burguês-nacionalista da perestroika de Gorbachev, mesmo quando
este apresentou claramente seus objetivos de retorno a economia capitalista.
Numa prova de reverência à democracia burguesa, querem exorcizar a esquerda do
fantasma da estrutura leninista de partido. Desta forma, prestam seus melhores
serviços à burocracia social democrata na perseguição às organizações
revolucionárias.
O morenismo é a corrente pseudotrotskista que teve maior influência na
América Latina. Sua característica fundamental é a adaptação programática e
organizativa diante de todos os fenômenos ligados ao nacionalismo, foquismo e à
social democracia quando estes se projetam como uma grande moda da esquerda
nacional e mundial. Esta corrente adotou como sua as mais diversas variantes
políticas, desde o nacionalismo burguês de Bolívar, Zapata, até Perón, passando
pelo foquismo de Castro, a social democracia de Mitterrant e o reformismo de
Lula.
A corrente de Moreno, após sucessivos fracassos na tentativa de
construir uma organização internacional por meio de fusões e acordos sem
princípios com Healy (Comitê Internacional, 1953), Mandel (SU, em 1963) e
Lambert (Comitê Paritário, 1980), parte para uma empreitada independente em 82,
sob o nome de Liga Internacional dos Trabalhadores. A partir daí
"elege" a Argentina como centro da revolução mundial, transformando o
antigo PST em Movimento Ao Socialismo, o MAS, um partido definido pelo próprio
Moreno como "centrista de esquerda", uma frente de trotskistas com
elementos da social democracia.
Nas eleições parlamentares de 85, o MAS lança-se em uma aliança com o
partido comunista, denominada "Frente del Pueblo", encabeçada pelo
peronista Vila Flôr, apresentando-se entre as 3 listas peronistas existentes,
como "o autêntico peronismo operário". Dando seqüência a sua
trajetória frentepopulistas, em 89, formou a "Izquierda Unida" uma
aliança entre o MAS e a FRAL, um agrupamento composto pelo PC e setores marginais da burguesia.
Esta fórmula, encabeçada pelo democrata-cristão, Nestor Vicente, tendo
morenista Zamora, como vice-presidente, confere o primeiro ganho eleitoral ao MAS, elegendo Zamora a deputado nacional.
Nesta etapa, a LIT caracterizou o MAS
como "o maior partido trotskistas do mundo", estando prestes a tomar
o poder na Argentina, que supostamente estaria num período abertamente
revolucionário, como em outubro de 1917 na Rússia. Porém a realidade estava
longe das caracterizações ufanistas da LIT.
Nem houve revolução na Argentina e muito menos o MAS tomou o poder. A total desmoralização de seus prognósticos,
abriu no seio do MAS e da própria LIT uma profunda crise, o partido
argentino perdeu quase toda sua influência e boa parte de sua militância,
entrando em um período de completa insolvência.
Os acontecimentos do leste europeu em 89, são fundamentais para
aprofundar o desnorteamento da LIT. Seu programa caracteriza as transformações
do Leste como "revoluções democráticas triunfantes", chocando-se
frontalmente com a realidade, a restauração capitalista nos Estados operários.
Saudaram a contra revolução de Yeltsin como um "grande triunfo
revolucionário na URSS" (Declaração da LIT-QI,
agosto de 91).
A primeira ruptura do MAS como
resultado do aprofundamento de sua política "nacional-trotskista"’
foi o PTS, ainda em 88. Este agrupamento se opôs à caracterização de que a
Argentina era o centro da revolução mundial. Apesar da tentativa de estabelecer
um balanço crítico do morenismo, o PTS
partilha das mesmas posições sociais-democratas da LIT, afirmando que "as revoluções de 89 a 91 no leste e na
ex-URSS constituíram-se em um fenômeno progressivo, foram um golpe a esquerda e
não a direita no estalinismo, e indiretamente no imperialismo" (Rebelión de los Trabajadores, nº 59,
29/09/94). O PTS nega o que está
claro: os desdobramentos dos processos abertos em 89 nos estados operários
constituem-se numa derrota histórica dos trabalhadores, representando o fim das
conquistas da revolução de outubro.
(*) Liga Bolchevique Internacionalista – Quarta
Internacional
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8 comentários:
Uma postagem bastante esclarecedora. A Liga Internacionalista Bolchevique está de parabéns. E você também.
Quando será a parte 2?
Bom ficar sabendo dessas tendências ligadas ao 'trotsquismo'.
A 'Reconstrução da IV Internacional' é muito importante porque León Trotsky ainda é o ponto de referência da 'oposição de esquerda"' a Stálin.
O que faz com que me oponha à criação de uma 'V Internacional', como muito já se falou!
L.F.
Uma verdadeira aula de "Luta Operária". MA-RA-VI-LHA!
Trotsky foi Trotsky. Pena que os seus seguidores se desentenderam tanto!
Simplesmente do grande caralho!
Tavim
Também estou de acordo. Esta série (parece que vai ser) vai ensinara bastante a todos nós.
Importantíssimo conhecer melhor as correntes contemporâneas do Trotskismo. Pôxa, vale esta publicação...
Sou trotiskysta até hoje e vou procurar a LBI-QI. Gostei deles.
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