sábado, 6 de julho de 2013

Impressões de viagem: visita a Sea World, Disney World e Universal Studios



Posto aqui a primeira parte da descrição e comentários do professor Jorge Vital de Brito Moreira da sua recente viagem familiar a Florida para visitar Sea World, Disney World e Universal Studios.

Minhas duas filhas queriam viajar à Florida para conhecer a cidade de Orlando e  visitar Disney World, Sea World e Universal Studios”.
Confesso que eu, inicialmente, não estava interessado em gastar grana no projeto delas, pois já tinha estado antes (quando ensinava na University of Califórnia) em Los Angeles e conhecido a famosa “Disneyland”. Tempo depois minha sobrinha Ludmila recebeu (como presente de aniversário) uma viagem (uma excursão) à cidade de Orlando e visitado “Disney World”, e nada do que escutara dela e de outras pessoas me motivavam a voltar à indústria de entretenimento e à ideologia imperialista e colonialista  de Walt Disney.
Mas o projeto das filhas tinha o apoio da mãe e na correlação de forças, elas ganharam o jogo. Aceitei a derrota com bom humor e simpatia e decidimos gastar parte da poupança familiar nesta viagem.
 Partimos do aeroporto de Green Bay (Wisconsin) em torno de 14 horas e desembarcamos do avião, na cidade de Orlando, em torno das 18 horas. Cansados, ficamos mas de duas horas numa fila da locadora Avis para conseguir o carro que já tínhamos alugado por telefone desde Wisconsin (1). Assim, nosso sonho de chegar ao hotel e tomar um bom banho de piscina ficou frustrado naquela primeira noite na “cidade da felicidade”, pois quando chegamos ao hotel (de primeira) depois das 21 horas, a piscina já tinha sido fechada.
Mas não fechei a cara, e, no dia seguinte, fomos  visitar Sea World. Sob um calor desgraçado, tínhamos que fazer fila para entrar e ver as atrações (havia milhares de pessoas, todas em filas para entrar através das dezenas de guichês).  Na entrada, uma empregada encarregada do guichê (havia centenas) demandava que nós colocassemos nosso polegar numa máquina. Queria tomar as nossas impressões digitais e que assinassemos os tickets comprados na frente dela.
Depois de pagar 400 dólares (100 dólares por pessoa) pelas entradas de Sea World, eu não estava disposto a acreditar naquelas imposições e atuar de acordo. Então, resistente,  questionei: “E porque tenho de colocar a minha impressão digital e assinar o ticket na sua frente? Não me consta que você tenha autoridade legal para funcionar como órgão de segurança dos EUA.”
A empregada ficou surpreendida com as minhas palavras (como se eu fosse a primeira pessoa a questionar aquilo), e, desconcertada, me disse: “É pela sua segurança. Alguém pode roubar o seu ticket.”
Eu lhe respondi: “Desculpe, mas não acredito nessas invenções... e a minha impressão é que Sea World está cooperando com o programa de espionagem da  Homeland Security e da CIA. Mas eu não estou interessado em me submeter a estes contos de fadas.  Não vou assinar nada. Paguei 400 dólares para ver as atrações de Sea World e ninguém me informou que também estava pagando para colocar a minha assinatura no ticket e comprovar que não sou terrorista.” 
A empregada, visivelmente, desconcertada, já não insistiu e me deixou passar. As demais pessoas obedeciam ao que a encarregada lhes dizia.
Depois de entrar e começar a assistir a algumas exibições e shows, parei para observar as pessoas, as famílias e os indivíduos que, como eu, circulavam  pelo local.
Assim, observei em Sea World (depois vi a mesma coisa em Disney World e Universal Studios); um grande contingente de pessoas e famílias caminhando deslumbradamente pelas ruas do lugar. Eram famílias e gente de todas as partes do mundo, procedentes de diferentes raças, côres e status social que estavam misturadas naquele espaço que lembrava um pouco o carnaval no Brasil. Entre aquelas pessoas observei que umas famílias vestiam-se elegantes e ricamente, algumas se vestiam medianamente e outras se vestiam de forma pobre. Aquilo que estava vendo, dava a mesma impressão: que muitas famílias que caminhavam pelas ruas de Sea World, deixaram de comer ou comprar roupas para levar os filhos ali.
Vi, de longe, grupos de 40 e 50 jovens vestidas com as mesmas camisas,  as mesmas mochilas, comprando os mesmos caros objetos vendidos. Curioso, me aproximei para conversar com elas, debaixo da sombra de uma poucas árvores que o local oferecia. De perto, não havia a menor dúvida: todas as moças estavam vestidas massivamente da mesma maneira: short azul e camisa rosa sem gola. Perguntei porque se vestiam assim e uma delas, simpaticamente, me respondeu que elas eram quinceañeras mexicanas e latinoamericanas, que tinham recebido como presente de quinze anos uma excursão para visitar Sea World, Disney World e Universal Studios.
Outra das coisas que me impressionaram é que, no geral, os turistas e visitantes que vi e conversei em Sea World (depois em Disney World e Universal Studios) tinham a aparência de carneirinhos domesticados pela propaganda da maior indústria de entretenimento do planeta. Em poucas palavras, os turistas e visitantes com que tive a oportunidade de me relacionar pareciam boa gente mas também pareciam indivíduos muito tontos, inconscientes e despolitizados.
Os turistas brasileiros não foram exceção. Os brasileiros (pareciam  ricos ou de classe média alta) que encontrei e conversei em Orlando não se diferenciavam em nada dos demais turistas estrangeiros. Os visitantes brasileiros poderão ser considerados pessoas inteligentes para ganhar muito dinheiro dentro do modelo neoliberal e concentrador de renda implantado por FHC, Lula da Silva e Dilma, mas, como a maioria dos demais turistas, apresentavam a mesma expressão de beatitude de pessoas ingênuas, tontas, despolitizadas pela propaganda da indústria de entretenimento dos EUA.
Durante o principal show do Sea World, o céu escureceu e uma tempestade de chuva com trovões e raios caiu sobre a cidade arruinando os planos dos visitantes. Aquela chuva veio para acabar com as ilusões do nosso segundo dia em Orlando: estavamos assistindo a principal atração do local (o show dos delfins e da famosa orca  Shamu) quando a tormenta paralisou tudo e a nossa visita frustrada pelo toró, terminou ali.
O mais ridículo da situação é que faltava no Sea World um lugar para os turistas e visitantes abrigarem-se da tempestade. Não vi nenhum espaço, amplo e seco, capacitado para proteger-nos da chuva e dos relâmpagos. O resultado foi: 1) tivemos que nos amontoar nas pequenas tendas comerciais (propriedade do Sea World) pensando que ia nos proteger, mas a realidade é que todos acabamos completamente molhados, ensopados ou encharcados pela inadequação dos espaços; 2) Muitas pessoas tiveram que comprar guarda chuva e capas de plástico (mais dinheiro e lucros para Sea World) para se abrigarem da tempestade.
Em resumo, aquilo que vi, via, dialogava, experimentei e experimentava em Sea World (e depois em Universal Studios e Disney World) me conduziu ao mesmo sentimento e à mesma conclusão que tive na Califórnia quando visitei Disneylândia: que toda aquela construção faraônica, toda aquela produção babilônica, toda aquela maquinaria massiva tinha/tem a finalidade fundamental de produzir e multiplicar os dólares e os lucros da maior indústria capitalista de entretenimento do planeta: a indústria dos Estados Unidos da América.

1) Os objetos e serviços da cidade de Orlando são caros e quase sempre deixam bastante a desejar. Os serviços prestados são padronizados e limitados, pois o principal objetivo não é servir bem ao cliente mas fabricar dinheiro para os proprietários. Em seu afã de ganhar dinheiro, esqueceram que Orlando é uma cidade turística que, no verão, chove todos os dias e que seus hotéis não tem piscinas internas. Ou seja, o visitante ou turista não pode banhar-se fora do banheiro porque a tempestade não permite ir à praia ou tomar banho de piscina ao ar livre. E escandaloso que os principais hotéis que buscamos via online e telefone, não tenham piscinas internas. Tudo naquela cidade parecia feito para ganhar dinheiro com rapidez e baixos custos. E é uma terra cheia de bichos: de “gusanos”: os cubanos anti-castristas que pululam por Florida.

2) Atualmente, a palavra divina nos EUA é “Segurança”. Esta palavra substituiu a palavra “Deus”. Antigamente o lema preferido (registrado no dólar americano) da maioria dos estadunidenses era “Em Deus nos confiamos”. Hoje poderiam escrever no seu dólar “confiamos na segurança” que não faria nenhuma diferença. Da minha experiência de mais de 20 anos vivendo nos EUA posso assegurar que a palavra “Deus” nunca fez nenhuma diferença para a forma de atuar dos estadunidenses.
Então aparece a pergunta: Porque a maioria  que propaga aos setes ventos sua verdadeira fé no Deus ocidental,  realmente não acreditam no poder espiritual do seu Deus? Simples, porque eles só acreditam no poder material do dinheiro (o dólar, a corrupção, o suborno) e no poder da violência das guerras, das invasões e dos genocídios, como se pode constatar pelo lançamento das bombas atômicas sobre os japoneses de Hiroxima e Nakasaki,  da morte de milhões de norte-vietnamitas na guerra do Vietña, ou  dos Iraquies do Iraque.


6 comentários:

Joelma disse...

Muito boa esta matéria sobre a "ilha da fantasia" disneyana.
O que acho é que o professor Moreira tem que centrar em suas filhas uma orientação firme e crítica, pois pelo tempo que ele mora nos EUA elas devem ter nascido lá. E deve estar atento porque "quem com porcos convive, acaba com porcos comendo".

Anônimo disse...

Olha: brasileiro na Disney é uma coisa triste!
E Miami é um poço de reacionarismo oligárquico latinoamericano. A começar pelos cubanos!

Tavim

Mário disse...

Estava com saudades das postagens dele. Parabéns professor!

Jussara disse...

Admirável a visão crítica do professor sobre a sociedade americana.
E gostei demais do Mickey tristinho!

André Setaro disse...

Como sempre o Professor/Pescador sintetiza bem o capitalismo até em passeio de ócio na Disney:
"Em resumo, aquilo que vi, via, dialogava, experimentei e experimentava em Sea World (e depois em Universal Studios e Disney World) me conduziu ao mesmo sentimento e à mesma conclusão que tive na Califórnia quando visitei Disneylândia: que toda aquela construção faraônica, toda aquela produção babilônica, toda aquela maquinaria massiva tinha/tem a finalidade fundamental de produzir e multiplicar os dólares e os lucros da maior indústria capitalista de entretenimento do planeta: a indústria dos Estados Unidos da América."

Misael disse...

Esse cara é bom!