Posto aqui a primeira parte da
descrição e comentários do professor Jorge
Vital de Brito Moreira da sua recente viagem familiar a Florida para
visitar Sea World, Disney World e Universal Studios.
Minhas duas filhas queriam viajar à Florida para conhecer a cidade de
Orlando e visitar Disney World, Sea World e Universal Studios”.
Confesso que eu, inicialmente, não estava interessado em gastar grana no
projeto delas, pois já tinha estado antes (quando ensinava na University of Califórnia) em Los Angeles
e conhecido a famosa “Disneyland”.
Tempo depois minha sobrinha Ludmila recebeu (como presente de aniversário) uma
viagem (uma excursão) à cidade de Orlando e visitado “Disney World”, e nada do que escutara dela e de outras pessoas me
motivavam a voltar à indústria de entretenimento e à ideologia imperialista e
colonialista de Walt Disney.
Mas o projeto das filhas tinha o apoio da mãe e na correlação de forças,
elas ganharam o jogo. Aceitei a derrota com bom humor e simpatia e decidimos
gastar parte da poupança familiar nesta viagem.
Partimos do aeroporto de Green Bay (Wisconsin) em torno de 14
horas e desembarcamos do avião, na cidade de Orlando, em torno das 18 horas. Cansados, ficamos mas de duas horas
numa fila da locadora Avis para conseguir o carro que já tínhamos alugado por telefone
desde Wisconsin (1). Assim, nosso sonho de chegar ao hotel e tomar um bom banho
de piscina ficou frustrado naquela primeira noite na “cidade da felicidade”,
pois quando chegamos ao hotel (de primeira) depois das 21 horas, a piscina já
tinha sido fechada.
Mas não fechei a cara, e, no dia seguinte, fomos visitar Sea
World. Sob um calor desgraçado, tínhamos que fazer fila para entrar e ver
as atrações (havia milhares de pessoas, todas em filas para entrar através das
dezenas de guichês). Na entrada, uma
empregada encarregada do guichê (havia centenas) demandava que nós colocassemos
nosso polegar numa máquina. Queria tomar as nossas impressões digitais e que
assinassemos os tickets comprados na
frente dela.
Depois de pagar 400 dólares (100 dólares por pessoa) pelas entradas de Sea World, eu não estava disposto a
acreditar naquelas imposições e atuar de acordo. Então, resistente, questionei: “E porque tenho de colocar a
minha impressão digital e assinar o ticket na sua frente? Não me consta que
você tenha autoridade legal para funcionar como órgão de segurança dos EUA.”
A empregada ficou surpreendida com as minhas palavras (como se eu fosse a
primeira pessoa a questionar aquilo), e, desconcertada, me disse: “É pela sua
segurança. Alguém pode roubar o seu ticket.”
Eu lhe respondi: “Desculpe, mas não acredito nessas invenções... e a
minha impressão é que Sea World está
cooperando com o programa de espionagem da
Homeland Security e da CIA. Mas eu não estou interessado em me
submeter a estes contos de fadas. Não
vou assinar nada. Paguei 400 dólares para ver as atrações de Sea World e ninguém me informou que
também estava pagando para colocar a minha assinatura no ticket e comprovar que não sou terrorista.”
A empregada, visivelmente, desconcertada, já não insistiu e me deixou
passar. As demais pessoas obedeciam ao que a encarregada lhes dizia.
Depois de entrar e começar a assistir a algumas exibições e shows, parei para observar as pessoas,
as famílias e os indivíduos que, como eu, circulavam pelo local.
Assim, observei em Sea World
(depois vi a mesma coisa em Disney World
e Universal Studios); um grande
contingente de pessoas e famílias caminhando deslumbradamente pelas ruas do
lugar. Eram famílias e gente de todas as partes do mundo, procedentes de
diferentes raças, côres e status social
que estavam misturadas naquele espaço que lembrava um pouco o carnaval no
Brasil. Entre aquelas pessoas observei que umas famílias vestiam-se elegantes e
ricamente, algumas se vestiam medianamente e outras se vestiam de forma pobre.
Aquilo que estava vendo, dava a mesma impressão: que muitas famílias que caminhavam
pelas ruas de Sea World, deixaram de
comer ou comprar roupas para levar os filhos ali.
Vi, de longe, grupos de 40 e 50 jovens vestidas com as mesmas camisas, as mesmas mochilas, comprando os mesmos caros
objetos vendidos. Curioso, me aproximei para conversar com elas, debaixo da
sombra de uma poucas árvores que o local oferecia. De perto, não havia a menor
dúvida: todas as moças estavam vestidas massivamente da mesma maneira: short azul e camisa rosa sem gola.
Perguntei porque se vestiam assim e uma delas, simpaticamente, me respondeu que
elas eram quinceañeras mexicanas e
latinoamericanas, que tinham recebido como presente de quinze anos uma excursão
para visitar Sea World, Disney World
e Universal Studios.
Outra das coisas que me impressionaram é que, no geral, os turistas e
visitantes que vi e conversei em Sea
World (depois em Disney World e Universal Studios) tinham a aparência de
carneirinhos domesticados pela propaganda da maior indústria de entretenimento
do planeta. Em poucas palavras, os turistas e visitantes com que tive a
oportunidade de me relacionar pareciam boa gente mas também pareciam indivíduos
muito tontos, inconscientes e despolitizados.
Os turistas brasileiros não foram exceção. Os brasileiros (pareciam ricos ou de classe média alta) que encontrei
e conversei em Orlando não se diferenciavam em nada dos demais turistas
estrangeiros. Os visitantes brasileiros poderão ser considerados pessoas
inteligentes para ganhar muito dinheiro dentro do modelo neoliberal e
concentrador de renda implantado por FHC, Lula da Silva e Dilma, mas, como a
maioria dos demais turistas, apresentavam a mesma expressão de beatitude de
pessoas ingênuas, tontas, despolitizadas pela propaganda da indústria de
entretenimento dos EUA.
Durante o principal show do Sea World, o céu escureceu e uma
tempestade de chuva com trovões e raios caiu sobre a cidade arruinando os
planos dos visitantes. Aquela chuva veio para acabar com as ilusões do nosso segundo
dia em Orlando: estavamos assistindo a principal atração do local (o show dos delfins e da famosa orca Shamu) quando a tormenta paralisou tudo e a nossa
visita frustrada pelo toró, terminou ali.
O mais ridículo da situação é que faltava no Sea World um lugar para os turistas e visitantes abrigarem-se da
tempestade. Não vi nenhum espaço, amplo e seco, capacitado para proteger-nos da
chuva e dos relâmpagos. O resultado foi: 1) tivemos que nos amontoar nas
pequenas tendas comerciais (propriedade do Sea
World) pensando que ia nos proteger, mas a realidade é que todos acabamos completamente
molhados, ensopados ou encharcados pela inadequação dos espaços; 2) Muitas
pessoas tiveram que comprar guarda chuva e capas de plástico (mais dinheiro e
lucros para Sea World) para se
abrigarem da tempestade.
Em resumo, aquilo que vi, via, dialogava, experimentei e experimentava
em Sea World (e depois em Universal Studios e Disney World) me conduziu ao mesmo sentimento e à mesma conclusão
que tive na Califórnia quando visitei Disneylândia:
que toda aquela construção faraônica, toda aquela produção babilônica, toda
aquela maquinaria massiva tinha/tem a finalidade fundamental de produzir e
multiplicar os dólares e os lucros da maior indústria capitalista de entretenimento
do planeta: a indústria dos Estados Unidos da América.
1) Os objetos e serviços da cidade
de Orlando são caros e quase sempre deixam bastante a desejar. Os serviços
prestados são padronizados e limitados, pois o principal objetivo não é servir
bem ao cliente mas fabricar dinheiro para os proprietários. Em seu afã de
ganhar dinheiro, esqueceram que Orlando é uma cidade turística que, no verão,
chove todos os dias e que seus hotéis não tem piscinas internas. Ou seja, o
visitante ou turista não pode banhar-se fora do banheiro porque a tempestade
não permite ir à praia ou tomar banho de piscina ao ar livre. E escandaloso que
os principais hotéis que buscamos via online e telefone, não tenham piscinas
internas. Tudo naquela cidade parecia feito para ganhar dinheiro com rapidez e
baixos custos. E é uma terra cheia de bichos: de “gusanos”: os cubanos anti-castristas
que pululam por Florida.
2) Atualmente, a palavra divina nos
EUA é “Segurança”. Esta palavra substituiu a palavra “Deus”. Antigamente o lema
preferido (registrado no dólar americano) da maioria dos estadunidenses era “Em
Deus nos confiamos”. Hoje poderiam escrever no seu dólar “confiamos na
segurança” que não faria nenhuma diferença. Da minha experiência de mais de 20
anos vivendo nos EUA posso assegurar que a palavra “Deus” nunca fez nenhuma
diferença para a forma de atuar dos estadunidenses.
Então aparece a pergunta: Porque a
maioria que propaga aos setes ventos sua
verdadeira fé no Deus ocidental,
realmente não acreditam no poder espiritual do seu Deus? Simples, porque
eles só acreditam no poder material do dinheiro (o dólar, a corrupção, o
suborno) e no poder da violência das guerras, das invasões e dos genocídios,
como se pode constatar pelo lançamento das bombas atômicas sobre os japoneses
de Hiroxima e Nakasaki, da morte de
milhões de norte-vietnamitas na guerra do Vietña, ou dos Iraquies do Iraque.
6 comentários:
Muito boa esta matéria sobre a "ilha da fantasia" disneyana.
O que acho é que o professor Moreira tem que centrar em suas filhas uma orientação firme e crítica, pois pelo tempo que ele mora nos EUA elas devem ter nascido lá. E deve estar atento porque "quem com porcos convive, acaba com porcos comendo".
Olha: brasileiro na Disney é uma coisa triste!
E Miami é um poço de reacionarismo oligárquico latinoamericano. A começar pelos cubanos!
Tavim
Estava com saudades das postagens dele. Parabéns professor!
Admirável a visão crítica do professor sobre a sociedade americana.
E gostei demais do Mickey tristinho!
Como sempre o Professor/Pescador sintetiza bem o capitalismo até em passeio de ócio na Disney:
"Em resumo, aquilo que vi, via, dialogava, experimentei e experimentava em Sea World (e depois em Universal Studios e Disney World) me conduziu ao mesmo sentimento e à mesma conclusão que tive na Califórnia quando visitei Disneylândia: que toda aquela construção faraônica, toda aquela produção babilônica, toda aquela maquinaria massiva tinha/tem a finalidade fundamental de produzir e multiplicar os dólares e os lucros da maior indústria capitalista de entretenimento do planeta: a indústria dos Estados Unidos da América."
Esse cara é bom!
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