domingo, 28 de julho de 2013

Pensatas de domingo, Peter Watkins, “Privilégio”, e alienação

 O longa-metragem com 1:38:30 está na postagem acima.

Assisti anteontem, em cópia que baixei da internet, um filme que havia visto nos anos 1960, mas que tem tudo a ver com a situação do momento, com a visita oficial do papa ao Brasil, e a manipulação emocional utilizada pelo governo da Frente Popular(1) em conjunto com o clero e a grande mídia burguesa, junto às massas... Em especial a religiosa(2 ),anestesiada por uma propaganda massiva e alienante.

“Privilégio” (Privilege) é um filme de Peter Watkins(3), Inglaterra/1967, com Paul Jones e a famosa –e belíssima– atriz e modelo Jean Shrimpton, nos principais papeis.
A ficção, autoria de John Streight, com roteirização de Norman Bognes, tem Steven Shorter (Paul Jones), como o centro da narrativa, sendo o maior astro da música britânica, amado e ouvido por todo o público, dos mais jovens aos mais idosos.
Seus produtores e empresários , no entanto, começam a usar a sua popularidade para projetos econômicos os mais variados. E, enquanto Steven perde a pouco e pouco a sua individualidade, transformando-se em um mero produto, sua posição de ícone torna-se útil para os setores mais conservadores da sociedade do Reino Unido.
A Igreja e o Estado começam a utilizá-lo para combater o ateísmo e o comunismo, tornando-o um instrumento do fundamentalismo religioso cristão e de um nacionalismo ufanista de cunho nitidamente fascista.

Do ponto de vista psicológico, o filme aprofunda o conflito do personagem em sua progressiva perda de identidade e o esmagamento de sua personalidade. Outrossim, realizado no período dos Beatles e Rolling Stones em seu apogeu, constitui-se, de alguma maneira uma análise crítica à fabricação de ídolos na sociedade de consumo.

1. Frente Popular não é apenas uma simples coligação, mas um conceito político. Chama-se de Frente Popular, desde os 1930’s os governos encabeçados pelos partidos da classe trabalhadora em aliança com a burguesia.

Obviamente somente em situações excepcionais a burguesia incorpora essas lideranças traidoras da classe operária ao governo, e, em situações mais excepcionais ainda elas exercem o papel principal. Quando isso acontece, passa a existir um governo de Frente Popular, mas o predomínio de líderes operários no “poder” não muda o caráter de classe do governo, que continua sendo burguês.

2. Marx definiu a religião como o “ópio do povo”. No entanto, do século XIX aos nosso dias, ocorreu um fortalecimento da burguesia após o craque econômico de 1929, quando políticas reformistas agregaram setores de uma “aristocracia operária”, inexistente à época de Marx, e reforçou-se do poder da mídia, inicialmente com o surgimento do cinema e do rádio, e, posteriormente da televisão. Essa mídias, reforçaram a reação da burguesia, da aristocracia rural e do clero, ampliando o seu poder. Porem, em essência, a religião continua a ser a grande aglutinadora da alienação estupefaciente. João Paulo II foi uma prova de como o retrógado e corrupto Vaticano conseguiu uma comunicação junto às massas, tendo exercido um papel importante na queda dos Estados Operários, inclusive a URSS.


 3. Após estudar drama na Academia Real de Arte Dramática, Watkins começou sua carreira de cinema e TV como produtor assistente de filmes de curta-metragem para televisão e comerciais e, no início dos anos 1960, foi editor e diretor assistente de documentários da BBC.
Sua reputação como provocador político foi amplificada por “Punishment Park” (Parque da Punição), uma história de conflito político violento nos Estados Unidos, que coincidiu com o Massacre de Kent State.
Entre suas principais obras encontram-se “Culloden” (1964),  “The War Game” (O Jogo da Guerra – 1963), “Privilege” (Privilégio – 1964), “The Gladiators” (Os Galadiadores – 1969), “Punishment Park” (Parque da Punição – 1970), “Resan” (A Jornada – 1987) , e “La Commune” (Paris, 1871 – 2000).
Watkins é também conhecido por suas opiniões políticas sobre a mídia cinematográfica e televisiva, escrevendo extensamente sobre os problemas dos jornais de televisão.


 

8 comentários:

Nun'Alvares disse...

Assisti este filme tambem, como ti nos anos '60 e confesso que gostei muito.
Hoje o revi com esta cópia que postastes e consegui achar melhor ainda.

André Setaro disse...

Filme corajoso, este "Privilégio", que vi em 1967 no saudoso cinema Bahia em Salvador.

Mário disse...

Fantástico! Demorei para comentar porque assisti o filme inteirinho. Um filme revolucionário e muito atuel e bem realizado do ponto de vista cimematográfico..

Glaucia disse...

Filmaço!

Misael disse...

Trata-se de uma sátira pesada sobre o mundo capitalista e a indústria da música que adere a uma política para distrair e ludibriar enquanto somos fanatizados pelo consumismo fruto da idolatria que nos é imposta.

O filme usa da própria cultura no contexto em que vive (1967)um meio de nos mostrar a maior arma da mídia e da religião - a alienação.

Jonga Olivieri disse...

Acho que vi aqui no Rio, André... Mas tambem em 1967.
Só me lembrava de algumas cenas, e, daquele 'slogan' fascita: "We will conform!"...

Zuza disse...

Poucas vezes vezes assisti um filme tão bom!
Como você disse, nem parece que foi feito há quase meio século. É muito tempo, e o tempo não engoliu sua mensagem.

Rui de Sá disse...

Caraças. mas de facto, Privilégio é um filme INQUESTIONÁVEL. Uma obra-prima da cinematografia em todos os tempos!