segunda-feira, 22 de setembro de 2008

A crise e a Internacional Capitalista

“Burgueses de todo o mundo, uni-vos”. Esta é a palavra de ordem das classes dominantes para tentar deter a crise que avança em direção a um novo crack econômico. O Banco do Japão, o Federal Reserve (Fed, o BC estadunidense), o BCE (Banco Central Europeu), o Banco da Inglaterra, o SNB (Suíça) e o Banco do Canadá anunciaram que vão injetar mais de 200 bilhões para impedir que a crise de crédito se acentue. Medidas como a do Departamento do Tesouro, em conjunto com o Fed e o Congresso estadunidense ao decidirem lançar um “pacotão” de medidas mostram que há uma ação do grande capital para defender seus interesses.
Outro precedente de intervenção do governo dos EUA na economia aconteceu durante a grande depressão, no decorrer da década de 1930, mas não houve uma ação tão coordenada quanto desta vez. Lições da história resultam no aprendizado do sistema em sua própria defesa. O capitalismo, tal como um camaleão, adapta-se às condições do momento por que passa, ajustando suas ações às necessidades que se apresentam. O New Deal, foi motivado não somente pela crise de 1929, como também pela “ameaça comunista” que crescia. No pós-guerra, a social democracia foi a alternativa européia a este mesmo perigo. Períodos em que a participação do Estado tentou dar um ar mais “humano” a um sistema econômico que visa o lucro em primeiro lugar.
A realidade que se apresenta é que o neoliberalismo está a passar por uma grande crise. Segundo o ex-ministro Bresser Pereira (1): “Há boas indicações, entretanto, que a contra-revolução conservadora e neoliberal dos últimos quarenta anos está terminando. O fracasso das reformas neoliberais, o desastre representado pela guerra do Iraque, a crise financeira nos Estados Unidos são sinais de que os anos neoliberais terminaram.” Indo um pouco mais longe, o próprio Bush, declarou na semana passada que o plano de seu governo para pôr fim à crise financeira é “grande porque o problema é grande”. Ele ainda reafirmou a necessidade de um amplo projeto governamental de apoio aos bancos diante dos riscos que corre a economia dos Estados Unidos.
As idéias de Jonh Maynard Keynes (2), ao que parece estão de volta. Se não fosse o movimento coordenando de bancos centrais e de governos nos países desenvolvidos, a crise atual já teria se transformado em um nova depressão de proporções incalculáveis. É a versão burguesa da Internacional, obviamente a serviço do capital.

(1) No artigo “Fé, política e retrocesso conservador” – jornal Estado de São Paulo – 11 de maio de 2008.
(2) Idéias que em sua época se chocaram com as doutrinas mais liberais e conservadoras estimulando a adoção de políticas de intervenção do Estado sobre o funcionamento da economia.

8 comentários:

Anônimo disse...

O mais curioso é que os países desenvolvidos criaram o neoliberalismo, mas, discordo de ti, pois nunca o aplicaram integralmente dentro de suas fronteiras.
Apenas abrandaram o controle sobre suas economias. A propaganda sobre a política neoliberal tinha como finalidade os países do 3º Mundo e o controle de suas economias (por parte do grande capital) à medida que os governos privatizassem empresas. Como foi no Brasil com a Vale e tantas outras.
Agora de fato estão tendo uma vigilância governamental maior porque a crise está feia. As palavras de Bush provam isto.

Jonga Olivieri disse...

Tem razão, ô guapa!
Recentemente li algo a respeito da finalidade da propaganda em torno da política neoliberal com endereço certo para os países "em desenvolvimento".

Anônimo disse...

Você é publicitário e marketeiro mesmo. Essa de criar o termo "Internacional Capitalista" é típico. Mas o melhor é que é mesmo.

Jonga Olivieri disse...

As ações tendo em vista frear a crise são uma ação internacional.
A burguesia se une nas horas de maior aperto.

Anônimo disse...

Concordo com o JR. Seu lado marqueteiro está influenciando nos batismos desses fenômenos economicos por aí afora.
Em tempo. Acho que o nome é correto.
Otávio

Jonga Olivieri disse...

Todas as expressões estão cercadas de algum tipo de estratégia, no caso a propaganda* se propõe a isto. O marketing é parte disso tudo, meu caro Tavinho.

(*) Segundo o Michaelis, propaganda é:
1 o ato ou efeito de propagar.
2 Disseminação de idéias, informação ou rumores com o fim de auxiliar ou prejudicar uma instituição, causa ou pessoa.
3 Doutrinas, idéias, argumentos, fatos ou alegações divulgados por qualquer meio de comunicação a fim de favorecer a causa própria ou prejudicar a causa oposta...
etc, etc.

Anônimo disse...

O que me chamou mais a atenção foi que o Bresser escreveu aquilo tudo em 11 de maio. Tem uma boa visão analítica da crise, pois isso tem mais de quatro meses.

Jonga Olivieri disse...

Luiz Carlos Bresser Gonçalves Pereira é um economista competente.
Muito embora ligado à burguesia fez alguns cursos como o da Escola de Altos Estudos Sociais, em Paris, o que lhe proporciona uma visão mais crítica da sociedade e do sistema como um todo.
Foi professor (em nível de pós-graduação) de Desenvolvimento Econômico na Universidade de Paris. É professor de Economia na Fundação Getúlio Vargas e na USP.
E tem cerca de 10 livros publicados.