segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Os novos ricos, ou... os velhos pobres

Existe uma nova classe média em nossa sociedade? Ou será que estão a manipular os dados? O fato é que um estudo do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) divulgado hoje indica que 13,8 milhões de brasileiros subiram de faixa social nos últimos seis anos. Os dados foram definidos a partir dos números da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios de 2007, e divulgados em larga escala pela grande mídia escrita, falada e televisiva.
O mais curioso são os parâmetros monetários da conclusão: nesses 74%, ou 10,2 milhões, saíram da classe de renda baixa (até R$ 545,66 de renda familiar), e 3,6 milhões de pessoas passaram da classe intermediária (de R$ 545,66 a R$ 1.350,82) para a classe de renda mais alta (renda acima de R$ 1.350.82).
Outro dado significativo é que no Nordeste, as pessoas com renda familiar de até R$ 545,66 representam 49,2% da população. A mesma parcela (com renda mais baixa) significava 15% no Sul e 16,9% no Sudeste. Ainda no Sudeste, a população com renda familiar superior a R$ 1.350,82 chega a 45,5%. Já no Nordeste, os que estão enquadrados na classe mais alta representam apenas 16,7% do total.
Mas o problema principal é que projeções do salário mínimo com base em sua data de criação (julho de 1940), devia estar em R$ 2.025,99 (1), segundo estudos do DIEESE (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos). Em agosto de 2006, este salário deveria ser de R$ 1.442,62. Quer dizer superior ao valor de R$ 1.350,82, considerado o nível que define o que o estudo chama hoje de “renda superior”.
A partir dos cálculos do DIEESE, todos continuam pobres, tendo em vista que o salário mínimo foi criado de acordo com as necessidades (realmente mínimas) de uma família com dois adultos e duas crianças. Estamos a nivelar por baixo, tendo em vista que a classe média “tradicional” vem perdendo poder aquisitivo, enquanto as “classe C e D” conseguem comprar eletrônicos e computadores a perder de vista nas “Liquidações Malucas” da vida, em lojas do varejo popular.
Afinal, quem é pobre e quem é rico? E o que se tem a declarar quanto a isso?

(1) Confira mais dados no site do DIEESE no endereço a seguir: http://www.dieese.org.br/rel/rac/salminset08.xml

16 comentários:

Anônimo disse...

O problema principal tu detectastes qunado apontas o declínio da classe média tradicional.
É algo no gênero da 'classe operária vai ao paraíso'. E quando digo esta classe, refiro-me aos menos qualificados. Que não fazem parte da aristocracia.
As "liquidações malucas" e as prestações infindáveis é que criam de fato esta ilusão de enriquecimento.
Os dados do salário-mínimo eu sempre ouvi flar, mas fui no link que colocastes e é uma diferença muito grande. Isto começou nos governos militares e foi se agravando a cada dia.

Anônimo disse...

Obviamente os valores estão sendo manipulados.
O problema do salário mínimo é grave e já se acumula no decorrer de décadas. Até diria que o governo Lula está tentando corrigi-lo. Mas é impossível conseguir isto de uma tacada só.
O poder aquisitivo das classes médias tradicionais, oriundos da pequena burguesia são gritantes. Houve uma proletarização dessas camadas sociais.
por outro lado, o aumento do poder de compra das classes menos favorecidas é evidente.
No nordeste a situação continua grave. Os números aqui mostram isso.
Brilhante a sua análise.
Gervásio

Anônimo disse...

Parabéns. Você tocou num assunto que ninguém está levantando. O Salário Mínimo é um ponto crítico de defasagem.

Anônimo disse...

Dá para acreditar que uma família com pouco mais de 1.300 reais possa ser considerada como uma família com renda superior?

Anônimo disse...

O pior de tudo é que a grande mídia só divulga o que lhe interessa. Esta comparação do salário mínimo e sua projeção tem muit o tempo que não vejo.
Otávio

Jonga Olivieri disse...

Hoje está assustadora. Veja bem, são R$ 4.000,00 menos do que deveria ser na realidade.
Quanto à ilusão do consumo, eu acho que é isso mesmo.
E consequência do processo de urbanização acentuado da nossa sociedade.

Jonga Olivieri disse...

No nordeste a situação é MUITO GRAVE. estatificou-se a miséria...

Jonga Olivieri disse...

E a mídia simplesmente não fala nisso.
Não é manipulação da opinião pública?
marcuse tinha razão...

Jonga Olivieri disse...

A renda está completamente defasada. O termo correto é este.
Veja bem, o salário mínimo se propunha a cobrir uma família com dois adultos e duas crinaças. Em alimentação, transporte e moradia.
Por isso as favelas crescem do jeito que crescem.

Jonga Olivieri disse...

Isso até soa a piada, Dalton. hehenhe

Anônimo disse...

Gostei de ver. O nível do Nova Pensatas está ainda melhor do que o de Pensatas.

Pedro Britto disse...

Interessante perspectiva. Realmente há uma manipulação, nem que não pensada, mas existe.

Jonga Olivieri disse...

Obrigado, Mary.

Jonga Olivieri disse...

Caro Pedro, não creio que seja assim tão "não pensada"...

Pedro Britto disse...

Nem que não pensada, ou seja, em último caso. Quis me expressar dessa forma.

Jonga Olivieri disse...

Obrigado Pedro, esclareceu.