Já há algum tempo venho pesquisando para postar uma matéria sobre religiões na América Ibérica, tendo em vista o inegável avanço das doutrinas protestantes (hoje evangélicas) frente à famigerada “Santa Madre Igreja”. Publico hoje uma primeira conclusão e/ou introdução ao tema.
A nossa América, aquela ao sul do Rio Bravo “nasceu” católica. Isto porque os primeiros exploradores espanhóis e portugueses aqui chegaram com o intuito não somente de conquistar economicamente terras e riquezas naturais, mas, também, de ver concretizado o sonho “salvacionista cristão” de encontrar o paraíso terrestre (Jardim do Éden). A expansão ibérica significou também a expansão do “cristianismo católico”, com a conseqüente ausência ou limitação da liberdade religiosa na região. Ao longo do tempo, porém, a situação foi mudando e hoje nota-se uma heterogeneidade de posicionamentos, principalmente no tocante às relações oficiais entre a Igreja e o Estado.
A Venezuela, é proporcionalmente o país mais católico da América (1), com 96% dos seus habitantes fiéis a essa religião. Em seguida, aparecem Bolívia e República Dominicana, com 95% de católicos, Equador, com 94%, Argentina, com 92% e Paraguai com 90% de identificações católicas cada um. Entre 80% e 90% figuram Chile com 89%, Peru e México, com 88%, Panamá, com 85%, El Salvador, com 83%, Colômbia, com 81,7% e Haiti, com 80%.
Reitero que a análise se circunscreve ao âmbito legal, mediante os dispositivos constitucionais vigentes nos países da América Latina acerca das relações entre Estado e religião. Nesse sentido, a análise da Carta Magna de 20 países mostra uma diversidade de situações, configurada em três distintos posicionamentos: aqueles que adotam o regime de Igreja de Estado, os que adotam o regime de separação Igreja e Estado, com dispositivos particulares em relação à Igreja católica, e enfim, aqueles que mantêm um regime de separação Estado-Igreja com a conseqüente igualdade de cultos. Vejamos, agora, mais detalhadamente cada um desses modelos de organização das relações Igreja-Estado na América Latina.
Três são os países em que o regime de Igrejas de Estado vigoram: Argentina, Bolívia e Costa Rica.
A título comparativo com a Europa, vale assinalar que naquele continente há quatro países que mantêm o regime de Igrejas de Estado. É o caso da Inglaterra, onde desde o século XVI o anglicanismo é considerada a Igreja do Estado; a Grécia, em cujo preâmbulo da constituição consta que a Igreja ortodoxa, que reúne mais de 90% da população, é tida como a religião de Estado; a Finlândia, que reconhece oficialmente duas Igrejas de Estado (a Igreja ortodoxa e o protestantismo luterano) e a Dinamarca, que também atribui, em sua Constituição, à Igreja protestante luterana o status de Igreja de Estado.
No século XIX o protestantismo despertou de sua inatividade e deu início a uma intensa obra missionária na América (Latina), com a implantação de muitas denominações nessa época. A entrada do protestantes neste pedaço da América dependeu de pressões econômicas aplicadas externamente pela Inglaterra e Estados Unidos, e também de pressões ideológicas liberais e anti-clericais internas. O protestantismo teve um início audacioso com a chegada do educador James (Diego) Thompson em 1819 na Argentina e com a concessão da liberdade de culto aos estrangeiros no Brasil em 1823. O crescimento foi demorado e a resistência Católica foi grande durante todo o século XIX. Somente no século XX, a partir da 2ª Guerra Mundial o protestantismo veio a ter influência e começou a ccolher o que foi semeado no século anterior.
A penetração do protestantismo na América Latina no século XIX faz parte do que Latourette chamou de “O Grande Século do Avanço Missionário”, e ao qual ele dedicou três dos sete volumes de sua obra. A Expansion of history of the Christianity (Uma História da Expansão do Cristianismo).
O protestantismo implantado dava mais ênfase a doutrina e ao compromisso pessoal do indivíduo. Embora todo tipo de protestantismo tenha buscado estabelecer seu espaço. Os que colocaram maior ênfase na evangelização, juntamente com o compromisso pessoal de mudança do comportamento, cresceram mais rapidamente.
As denominações que começaram seu trabalho na América Latina foram os Anglicanos, Luteranos, Irmãos (Plymouth), Congregacionais, Presbiterianos, Metodistas, Batistas, Menonitas e Adventistas (Sétimo Dia). As missões anglicana e luterana trabalharam quase exclusivamente com os emigrantes que determinaram tanto a forma cultural quanto a extensão do alcance dessas denominações. As demais trabalharam com os nativos em sua própria linguagem e cultura, embora quase sempre houvesse uma imposição inconsciente do lastro cultural e expectativas do missionário.
O Catolicismo Romano não foi muito simpático com o avanço protestante. Com exceção da primeira metade do século XIX, quando houve relativa aceitação dos missionários principalmente no Brasil, no mais havia muita intolerância e perseguição. Os protestantes encontraram aliados e até protetores entre alguns setores políticos, o que provocou reação ainda mais forte entre o clero católico. Principalmente no Brasil, onde a hierarquia do clero temia pela protestanização do país através e principalmente pela imigração. Como resultado desses conflitos, o protestantismo da América Ibérica assumiu um perfil anti-católico.
Outro fato significativo na história dos primórdios do protestantismo ibero-americano, foi que a evangelização teve início associada à venda de Bíblias e a alfabetização de novos convertidos. As pessoas se convertiam, compravam Bíblias e como não sabiam ler ou escrever, se dedicaram a alfabetização para se dedicarem à leitura das Escrituras. Estas características no seio do protestantismo era tão forte que os crentes passaram a ser chamados de os “Bíblias”. A venda de Bíblias pelos que anunciam a Palavra ainda é comum em nossos dias, porque as Bíblias continuam sendo vendidas em todo o território nacional, principalmente pelos evangelistas que as comercializam para a sua sobrevivência e a de seus familiares, bem como para financiar as viagens e outras despesas, sendo uma forma de manter a evangelização viva e atuante.
(1) Dados extraídos de L. Gonzalez, Justo, “Uma História Ilustrada do Cristianismo, Sociedade Religiosa” Edições Vida Nova, São Paulo – SP, 1991. E. Cairrns, Earle, “O Cristianismo Através dos Séculos, Sociedade Religiosa” Edições Vida Nova, São Paulo – SP, 1992. Walker, Williston, “História da Igreja Cristã”, Juerpe/Aste, 3ª Edição, 1981.
A nossa América, aquela ao sul do Rio Bravo “nasceu” católica. Isto porque os primeiros exploradores espanhóis e portugueses aqui chegaram com o intuito não somente de conquistar economicamente terras e riquezas naturais, mas, também, de ver concretizado o sonho “salvacionista cristão” de encontrar o paraíso terrestre (Jardim do Éden). A expansão ibérica significou também a expansão do “cristianismo católico”, com a conseqüente ausência ou limitação da liberdade religiosa na região. Ao longo do tempo, porém, a situação foi mudando e hoje nota-se uma heterogeneidade de posicionamentos, principalmente no tocante às relações oficiais entre a Igreja e o Estado.
A Venezuela, é proporcionalmente o país mais católico da América (1), com 96% dos seus habitantes fiéis a essa religião. Em seguida, aparecem Bolívia e República Dominicana, com 95% de católicos, Equador, com 94%, Argentina, com 92% e Paraguai com 90% de identificações católicas cada um. Entre 80% e 90% figuram Chile com 89%, Peru e México, com 88%, Panamá, com 85%, El Salvador, com 83%, Colômbia, com 81,7% e Haiti, com 80%.
Reitero que a análise se circunscreve ao âmbito legal, mediante os dispositivos constitucionais vigentes nos países da América Latina acerca das relações entre Estado e religião. Nesse sentido, a análise da Carta Magna de 20 países mostra uma diversidade de situações, configurada em três distintos posicionamentos: aqueles que adotam o regime de Igreja de Estado, os que adotam o regime de separação Igreja e Estado, com dispositivos particulares em relação à Igreja católica, e enfim, aqueles que mantêm um regime de separação Estado-Igreja com a conseqüente igualdade de cultos. Vejamos, agora, mais detalhadamente cada um desses modelos de organização das relações Igreja-Estado na América Latina.
Três são os países em que o regime de Igrejas de Estado vigoram: Argentina, Bolívia e Costa Rica.
A título comparativo com a Europa, vale assinalar que naquele continente há quatro países que mantêm o regime de Igrejas de Estado. É o caso da Inglaterra, onde desde o século XVI o anglicanismo é considerada a Igreja do Estado; a Grécia, em cujo preâmbulo da constituição consta que a Igreja ortodoxa, que reúne mais de 90% da população, é tida como a religião de Estado; a Finlândia, que reconhece oficialmente duas Igrejas de Estado (a Igreja ortodoxa e o protestantismo luterano) e a Dinamarca, que também atribui, em sua Constituição, à Igreja protestante luterana o status de Igreja de Estado.
No século XIX o protestantismo despertou de sua inatividade e deu início a uma intensa obra missionária na América (Latina), com a implantação de muitas denominações nessa época. A entrada do protestantes neste pedaço da América dependeu de pressões econômicas aplicadas externamente pela Inglaterra e Estados Unidos, e também de pressões ideológicas liberais e anti-clericais internas. O protestantismo teve um início audacioso com a chegada do educador James (Diego) Thompson em 1819 na Argentina e com a concessão da liberdade de culto aos estrangeiros no Brasil em 1823. O crescimento foi demorado e a resistência Católica foi grande durante todo o século XIX. Somente no século XX, a partir da 2ª Guerra Mundial o protestantismo veio a ter influência e começou a ccolher o que foi semeado no século anterior.
A penetração do protestantismo na América Latina no século XIX faz parte do que Latourette chamou de “O Grande Século do Avanço Missionário”, e ao qual ele dedicou três dos sete volumes de sua obra. A Expansion of history of the Christianity (Uma História da Expansão do Cristianismo).
O protestantismo implantado dava mais ênfase a doutrina e ao compromisso pessoal do indivíduo. Embora todo tipo de protestantismo tenha buscado estabelecer seu espaço. Os que colocaram maior ênfase na evangelização, juntamente com o compromisso pessoal de mudança do comportamento, cresceram mais rapidamente.
As denominações que começaram seu trabalho na América Latina foram os Anglicanos, Luteranos, Irmãos (Plymouth), Congregacionais, Presbiterianos, Metodistas, Batistas, Menonitas e Adventistas (Sétimo Dia). As missões anglicana e luterana trabalharam quase exclusivamente com os emigrantes que determinaram tanto a forma cultural quanto a extensão do alcance dessas denominações. As demais trabalharam com os nativos em sua própria linguagem e cultura, embora quase sempre houvesse uma imposição inconsciente do lastro cultural e expectativas do missionário.
O Catolicismo Romano não foi muito simpático com o avanço protestante. Com exceção da primeira metade do século XIX, quando houve relativa aceitação dos missionários principalmente no Brasil, no mais havia muita intolerância e perseguição. Os protestantes encontraram aliados e até protetores entre alguns setores políticos, o que provocou reação ainda mais forte entre o clero católico. Principalmente no Brasil, onde a hierarquia do clero temia pela protestanização do país através e principalmente pela imigração. Como resultado desses conflitos, o protestantismo da América Ibérica assumiu um perfil anti-católico.
Outro fato significativo na história dos primórdios do protestantismo ibero-americano, foi que a evangelização teve início associada à venda de Bíblias e a alfabetização de novos convertidos. As pessoas se convertiam, compravam Bíblias e como não sabiam ler ou escrever, se dedicaram a alfabetização para se dedicarem à leitura das Escrituras. Estas características no seio do protestantismo era tão forte que os crentes passaram a ser chamados de os “Bíblias”. A venda de Bíblias pelos que anunciam a Palavra ainda é comum em nossos dias, porque as Bíblias continuam sendo vendidas em todo o território nacional, principalmente pelos evangelistas que as comercializam para a sua sobrevivência e a de seus familiares, bem como para financiar as viagens e outras despesas, sendo uma forma de manter a evangelização viva e atuante.
(1) Dados extraídos de L. Gonzalez, Justo, “Uma História Ilustrada do Cristianismo, Sociedade Religiosa” Edições Vida Nova, São Paulo – SP, 1991. E. Cairrns, Earle, “O Cristianismo Através dos Séculos, Sociedade Religiosa” Edições Vida Nova, São Paulo – SP, 1992. Walker, Williston, “História da Igreja Cristã”, Juerpe/Aste, 3ª Edição, 1981.
10 comentários:
Fui educada em família Luterana. Hoje, felizmente, marxista, estou longe do mito e da mistica religiosas. Como diria Marx, o ópio do povo.
O teu trabalho é interessante sendo que pouco tem sido feito de sério nesta país em bisca de conclusões sobre o que vem acontecendo com a religiosidade no Brasil.
O fato é que aprendi com esta 'pensata' sobre as relações perigosas entre a Igreja e o Estado. Entre uma cachimbada e outra, você está a desenvolver um blog versátil no qual comenta assuntos dos mais variados. Vá em frente porque atrás vem gente!
O que não é de estranhar, Fraulien (ou será Frau?) Schimidt.
Mas o Materialismo Histórico nos proporciona um novo horizonte. principalmente no tocante a esta praga chamada religião.
Essa pesquisa, tem algum tempo, está embasada em boas referências, procuradas a dedo. mas mesmo assim é difícil chegar a um final "feliz".
Religião é sinônimo de infelicidade, de mutilação, de humilhação do ser humano em sua toatalidade.
Pena que não possa ser excluida por decreto, mas, sem dúvida o mundo será melhor no dia em que "o último dos Cardeais for enforcacado nas tripas do último dos reis" (Diderot).
Igreja e Estado t~em que ser elementos completamente separados. Graças aos deuses estamos cada dia mais a avançar neste sentido.
Mas, Igreja Romana e Estado Latino é ainda pior. Resultou em sangue... suor e lágriams... muitas lágrimas. Muita Inquisição: o pior dos Holocaustos!
Veja "Sombras de Goya", de Milos ("Um estranho no ninho") Forman, para ter uma idéia do Terror (sim, com T maiúsculo mesmo) praticado pela Igreja Católica na famigerada Inquisição. Quando estive em Santiago, Chile, vi, pela televisão, em horário nobre, uma interrupção na programação para que o Cardeal de lá falasse por dez minutos. O chileno respeita muito a Igreja. No Brasil, "graças a Deus", já não se liga muito. Quando poderíamos ver um Cardeal a tomar minutos preciosos de um horário nobre? Não teria poderes para isso.
Mas já houve uma outra época... quando eu era criança, a tal da "sexta-feira da paixão" era um dia deprimente.
As rádios não tocavam músicas comuns, mas somente fúnebres. Se alguém falasse alto era reprimido.
Pôrra, o quê que eu tenho a ver com a morte de Cristo se ele não é o meu deus?
Mas não importava... todos tinham que seguir aquelas regras...
Estudos como este tem que ser estimulados porque nos esclarecem em relação ao assunto.
Obrigado.
Pretendo aprofundá-lo mais. Esta é apenas uma introdução ao assunto.
Coisa muito séria este estudo. Continue mantendo o alto nível.
Otávio
Pode crer, vai ser um trabalho meticuloso e, claro, demorado.
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