Em 1947, a ONU aprovou a partilha da Palestina (1) entre árabes e judeus prevendo a criação de duas nações. Em 1948, quando o império britânico se retirou da Palestina, os judeus proclamaram Israel o seu Estado nacional. A população árabe, por não aceitar a criação de um Estado hebraico na região, rejeitou a partilha. Uma guerra entre diversos países vizinhos e Israel agravou a situação. Milhares de habitantes evadiram-se do território criando centenas de acampamentos nos países árabes vizinhos e formando a chamada diáspora palestina.
Mas, quais são as relações da esquerda com o sionismo? Existe alguma espécie de sionismo de esquerda? No início da construção do Estado de Israel, e apesar das origens suspeitas do sionismo, correntes de esquerda (judias e não judias) deram muita força à formação dos Kibutz e à socialização das relações de produção no país que surgia; fator que já vinha se desenvolvendo mesmo antes da fundação daquele novo Estado. O primeiro kibutz surgiu em 1909, no território que então ainda pertencia ao império Turco-Otomano.
Após a fundação do Estado de Israel, o sionismo trabalhista ou socialista era a ala esquerda na política oficial permitida. De forma oposta à tendência dos seguidores do fundador da ideologia sionista – Theodor Herzl – o sionismo trabalhista (ligado à Internacional Socialista) não acreditava que o Estado Judaico seria criado simplesmente pelo apoio e interferência de alguma potência mundial. Os sionistas trabalhistas acreditavam que o Estado de Israel “poderia ser criado como parte da luta de classes (2), através dos esforços dos trabalhadores.”
Todavia, as esquerdas – inclusive os judeus de esquerda, – sempre viram com desconfiança o Estado de Israel, desde o seu surgimento. Mesmo entre seguidores da suspeitíssima Internacional Socialista (II Internacional) de tendência reformista e social-democrata, houve e ainda há muita oposição à sua existência. Pelo menos nos moldes em que existe. Embora há dois anos, um episódio que culminou na expulsão de Pedro Gómez-Valadés do Bloco Nacionalista Galego (de esquerda), após a publicação do manifesto “Desde la Esquerda en Defensa de Israel” gerou muitas polêmicas na esquerda espanhola e repercutiu como manifesto apoio alguns de setores desta organização internacional ao nazi-sionismo.
O apoio incondicional das principais potências capitalistas à implantação e consolidação de Israel e a discriminação racial contra os árabes sempre foram fortes motivos para justificar esta tendência. A URSS – que não se pode considerar um país socialista (3) – mas que influenciou amplos setores que alinhavam com essas posições sempre foi contra a sua existência. Obviamente por fatores políticos e econômicos que interessavam ao império soviético, dada a sua aproximação com o Egito e outros países árabes. A construção de Assuã, nos anos 1960, então a maior hidrelétrica do mundo, financiada e construída com tecnologia e capital soviéticos é uma prova cabal deste fato.
No início do verão de 2007, organizações palestinas e árabes fizeram um amplo debate na Universidade Técnica de Berlim intitulado “O povo palestino entre muros e sanções”. Fizeram importantes declarações nesta ocasião, Norman Paech, porta-voz da esquerda no parlamento alemão e professor de Economia e Política da Universidade de Hamburgo, e Udo Steinbach, diretor do Instituto para Estudos do Médio Oriente na Alemanha.
Norman Paech chamou a Palestina da “Guantánamo do mundo árabe” exigindo que, face à “agressão contra os palestinos” israelenses, e os “amigos” de Israel no aparelho governamental alemão deveriam ser investigados. “Nós, os alemães, seríamos, já agora, cúmplices dos ‘crimes’ israelenses. Para os palestinos, deveriam reconhecer o direito à existência de um estado com as suas fronteiras definidas.”
Udo Steinbach, intelectual que goza de grande atenção da esquerda anti-sionista por suas tendências pró-árabes, declarou na ocasião: “Se o Holocausto não tivesse acontecido, a Alemanha precisaria interromper as relações diplomáticas com Israel”, que para Steinbach, “é a potência absoluta da região...” acrescentando que a sua existência não estava em perigo. “O governo Hamas é a representação escolhida dos palestinos e deve ser reconhecido por nós. O muro é sinal da ruína, como podemos ver no exemplo da própria Alemanha. E finalizou dizendo que “sanções contra Israel são necessárias para forçar uma mudança de sua política.”
(1) Após dois meses de debates, a Assembléia Geral da ONU aprovou, em 29/11/1947, a Resolução 181, que deliberou sobre o Plano de Partilha, um documento detalhado anexo à resolução, que previa o fim do Mandato e a retirada gradual das forças armadas britânicas e a definição de fronteiras entre os dois estados e Jerusalém. Determinava que a criação destes não deveria ultrapassar a 1/10/1948. A Palestina seria dividida em 8 partes: três pertenceriam ao estado judeu e três ao estado árabe; a sétima, a cidade de Jaffa, deveria formar um enclave árabe dentro do território judeu; e a oitava parte, Jerusalém, administrada por um conselho tutelar da ONU.
(2) Até então a Internacional Socialista ainda admitia a luta de classes como motor da história, posição que abandonou oficialmente em um congresso poucas décadas depois, quando tirou definitivamente a sua fachada de esquerda, renegando de forma definitiva o Materialismo Histórico.
(3) A União Soviética é o exemplo mais evidente de um tipo de capitalismo que se firmou no século XX em países, que tendo retardado o seu processo de acumulação de capital e a conseqüente revolução industrial (em vista de um estágio econômico anacrônico) optaram por um capitalismo centralizado nas mãos do Estado.
Mas, quais são as relações da esquerda com o sionismo? Existe alguma espécie de sionismo de esquerda? No início da construção do Estado de Israel, e apesar das origens suspeitas do sionismo, correntes de esquerda (judias e não judias) deram muita força à formação dos Kibutz e à socialização das relações de produção no país que surgia; fator que já vinha se desenvolvendo mesmo antes da fundação daquele novo Estado. O primeiro kibutz surgiu em 1909, no território que então ainda pertencia ao império Turco-Otomano.
Após a fundação do Estado de Israel, o sionismo trabalhista ou socialista era a ala esquerda na política oficial permitida. De forma oposta à tendência dos seguidores do fundador da ideologia sionista – Theodor Herzl – o sionismo trabalhista (ligado à Internacional Socialista) não acreditava que o Estado Judaico seria criado simplesmente pelo apoio e interferência de alguma potência mundial. Os sionistas trabalhistas acreditavam que o Estado de Israel “poderia ser criado como parte da luta de classes (2), através dos esforços dos trabalhadores.”
Todavia, as esquerdas – inclusive os judeus de esquerda, – sempre viram com desconfiança o Estado de Israel, desde o seu surgimento. Mesmo entre seguidores da suspeitíssima Internacional Socialista (II Internacional) de tendência reformista e social-democrata, houve e ainda há muita oposição à sua existência. Pelo menos nos moldes em que existe. Embora há dois anos, um episódio que culminou na expulsão de Pedro Gómez-Valadés do Bloco Nacionalista Galego (de esquerda), após a publicação do manifesto “Desde la Esquerda en Defensa de Israel” gerou muitas polêmicas na esquerda espanhola e repercutiu como manifesto apoio alguns de setores desta organização internacional ao nazi-sionismo.
O apoio incondicional das principais potências capitalistas à implantação e consolidação de Israel e a discriminação racial contra os árabes sempre foram fortes motivos para justificar esta tendência. A URSS – que não se pode considerar um país socialista (3) – mas que influenciou amplos setores que alinhavam com essas posições sempre foi contra a sua existência. Obviamente por fatores políticos e econômicos que interessavam ao império soviético, dada a sua aproximação com o Egito e outros países árabes. A construção de Assuã, nos anos 1960, então a maior hidrelétrica do mundo, financiada e construída com tecnologia e capital soviéticos é uma prova cabal deste fato.
No início do verão de 2007, organizações palestinas e árabes fizeram um amplo debate na Universidade Técnica de Berlim intitulado “O povo palestino entre muros e sanções”. Fizeram importantes declarações nesta ocasião, Norman Paech, porta-voz da esquerda no parlamento alemão e professor de Economia e Política da Universidade de Hamburgo, e Udo Steinbach, diretor do Instituto para Estudos do Médio Oriente na Alemanha.
Norman Paech chamou a Palestina da “Guantánamo do mundo árabe” exigindo que, face à “agressão contra os palestinos” israelenses, e os “amigos” de Israel no aparelho governamental alemão deveriam ser investigados. “Nós, os alemães, seríamos, já agora, cúmplices dos ‘crimes’ israelenses. Para os palestinos, deveriam reconhecer o direito à existência de um estado com as suas fronteiras definidas.”
Udo Steinbach, intelectual que goza de grande atenção da esquerda anti-sionista por suas tendências pró-árabes, declarou na ocasião: “Se o Holocausto não tivesse acontecido, a Alemanha precisaria interromper as relações diplomáticas com Israel”, que para Steinbach, “é a potência absoluta da região...” acrescentando que a sua existência não estava em perigo. “O governo Hamas é a representação escolhida dos palestinos e deve ser reconhecido por nós. O muro é sinal da ruína, como podemos ver no exemplo da própria Alemanha. E finalizou dizendo que “sanções contra Israel são necessárias para forçar uma mudança de sua política.”
(1) Após dois meses de debates, a Assembléia Geral da ONU aprovou, em 29/11/1947, a Resolução 181, que deliberou sobre o Plano de Partilha, um documento detalhado anexo à resolução, que previa o fim do Mandato e a retirada gradual das forças armadas britânicas e a definição de fronteiras entre os dois estados e Jerusalém. Determinava que a criação destes não deveria ultrapassar a 1/10/1948. A Palestina seria dividida em 8 partes: três pertenceriam ao estado judeu e três ao estado árabe; a sétima, a cidade de Jaffa, deveria formar um enclave árabe dentro do território judeu; e a oitava parte, Jerusalém, administrada por um conselho tutelar da ONU.
(2) Até então a Internacional Socialista ainda admitia a luta de classes como motor da história, posição que abandonou oficialmente em um congresso poucas décadas depois, quando tirou definitivamente a sua fachada de esquerda, renegando de forma definitiva o Materialismo Histórico.
(3) A União Soviética é o exemplo mais evidente de um tipo de capitalismo que se firmou no século XX em países, que tendo retardado o seu processo de acumulação de capital e a conseqüente revolução industrial (em vista de um estágio econômico anacrônico) optaram por um capitalismo centralizado nas mãos do Estado.
4 comentários:
Lembro, de ainda guria, o pai dizendo (baixinho) que não tinha nada contra os judeus, mas anti-sionista ele era.
Entre nós de descendência alemã, criada em colônias, se expressando muito mais na língua dos avós do que no próprio português (pelo menos no meu caso até os sete anos assim foi) é um assunto muito difícil.
Porque a culpa pelo que aconteceu lá nos marcou demasiado.
Mas, passados tantos anos e com tantos conhecidos judeus, posso afirmar que esquerda e sionismo não se cruzam. O sionismo adquiriu a característica de ser pró-imperialista e também é o próprio Israel um país imperialista.
Isso me faz lembrar o marido da prima da minha mulher que é neto de alemães e também foi criado falando mais alemão do que português.
Uma vez tava conversando com ele e falei sobre um filme de guerra. Perguntei se ele havia visto. Ele, lacônicamnte respondeu que não via filemes de guerra.
Aí caiu a ficha. Apesar de ser um sujeito de posições esquerdistas, é duro ser tratado como o mal da fita.
A culpa dos alemães de um modo geral é muito grande. Veja o discurso de Udo Steinbach nessa postagem. Ele diz: "... se o Holocausto não tivesse acontecido...". A coisa pega e deve ser duro carregar essa pecha.
E o pior de tudo é que começou o ataque de Israel por terra com tanques e tropas.
O massacre agora vai tomar proporções maiores ainda.
Agora mesmo é que vai ser um extermínio...
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