“(...) Não ficaria feliz se esse filme fosse visto como um filme sobre um problema alemão, sobre o nazismo. Este é um exemplo, mas significa mais que isso. É um filme sobre as raízes do mal. É sobre um grupo de crianças, que são doutrinadas com alguns ideais e se tornam juízes dos outros – justamente daqueles que empurraram aquela ideologia goela abaixo deles. Se você constrói uma idéia de uma forma absoluta, ela vira uma ideologia. E isso ajuda àqueles que não têm possibilidade alguma de se defender, de seguir essa ideologia como uma forma de escapar da própria miséria ... Em nome de uma ideia bonita pode-se virar um assassino ...”
Michael Haneke em entrevista ao “New Yorker (outubro de 2009).
Ele é um dos mais importantes cineastas da atualidade (1). Suas realizações costumam provocar perplexidade por abordarem sem firulas ou rodeios a violência, tanto física quanto psicológica. Em “A fita branca (Das weisse band), Palma de Ouro no Festival de Cannes de 2009, Haneke chega a incomodar, tal a violência de certas cenas e diálogos.
Narrada pelo professor (interpretado por Christian Friedel) de uma pequena cidade no interior da Alemanha, a história inicia-se no ano de 1913, às vésperas da Primeira Guerra Mundial, onde a vida é ditada pelos rigorosos princípios “moralistas” do puritanismo luterano, da submissão e do autoritarismo, um eixo das relações antagônicas entre proprietários de terras e camponeses, entre homens e mulheres... Entre pais e filhos.
Neste pequeno povoado começam a acontecer uma série de agressões inexplicáveis, mas curiosamente em série, cujos autores se constituem num enigma. Logo no início do filme, um arame estendido no local em que passava a cavalo o médico local, a morte violenta e dramática de uma camponesa, duas crianças brutalmente espancadas, o incêndio de um celeiro na fazenda.
Michael Haneke em entrevista ao “New Yorker (outubro de 2009).
Ele é um dos mais importantes cineastas da atualidade (1). Suas realizações costumam provocar perplexidade por abordarem sem firulas ou rodeios a violência, tanto física quanto psicológica. Em “A fita branca (Das weisse band), Palma de Ouro no Festival de Cannes de 2009, Haneke chega a incomodar, tal a violência de certas cenas e diálogos.
Narrada pelo professor (interpretado por Christian Friedel) de uma pequena cidade no interior da Alemanha, a história inicia-se no ano de 1913, às vésperas da Primeira Guerra Mundial, onde a vida é ditada pelos rigorosos princípios “moralistas” do puritanismo luterano, da submissão e do autoritarismo, um eixo das relações antagônicas entre proprietários de terras e camponeses, entre homens e mulheres... Entre pais e filhos.
Neste pequeno povoado começam a acontecer uma série de agressões inexplicáveis, mas curiosamente em série, cujos autores se constituem num enigma. Logo no início do filme, um arame estendido no local em que passava a cavalo o médico local, a morte violenta e dramática de uma camponesa, duas crianças brutalmente espancadas, o incêndio de um celeiro na fazenda.
Tudo isto em preto e branco, numa narrativa “noir” e um rigor fotográfico da dramática escuridão que traduz de forma exata o próprio lado escuro e obscuro do ser humano (e da história), onde os rumores e o mistério provocam o medo numa progressão que deixa o espectador preso à tela... Sim, medo; o mesmo medo que observamos em “M – o vampiro de Dusseldorf” (Fritz Lang 1931) ou em “O ovo da serpente” (Ingmar Bergman 1977).
Um medo que tambem foi o embrião do nazismo (3), que o alimentou e o sustentou. Um medo que se estendeu através de todo o século XX nos invadindo em profunda escuridão psicológica, destacadamente nas formas das ditaduras fascistas à direita ou stalinista, supostamente à esquerda (2), marcando um período cinzento da humanidade.
(1) Seus filmes mais importantes são “A professora de piano”, e “Caché”. Também realizou, entre outros, “Violência gratuita”, “O castelo” e “Código desconhecido”.
(2) Sempre defendo a tese de que Stalin (e o stalinismo que o sucedeu) deturpou e “quase” enterrou os princípios do Materialismo Histórico, deixando a esquerda numa encruzilhada frente ao futuro.
(3) Respeito o ponto de vista do diretor... Tanto que comentei sobre o stalinismo porque sei que ele (Haneke) acredita que outras ideologias podem levar a este mesmo ponto (cinzento) da história. Leiam na introdução a esta matéria, nas palavras do próprio diretor.
Um medo que tambem foi o embrião do nazismo (3), que o alimentou e o sustentou. Um medo que se estendeu através de todo o século XX nos invadindo em profunda escuridão psicológica, destacadamente nas formas das ditaduras fascistas à direita ou stalinista, supostamente à esquerda (2), marcando um período cinzento da humanidade.
(1) Seus filmes mais importantes são “A professora de piano”, e “Caché”. Também realizou, entre outros, “Violência gratuita”, “O castelo” e “Código desconhecido”.
(2) Sempre defendo a tese de que Stalin (e o stalinismo que o sucedeu) deturpou e “quase” enterrou os princípios do Materialismo Histórico, deixando a esquerda numa encruzilhada frente ao futuro.
(3) Respeito o ponto de vista do diretor... Tanto que comentei sobre o stalinismo porque sei que ele (Haneke) acredita que outras ideologias podem levar a este mesmo ponto (cinzento) da história. Leiam na introdução a esta matéria, nas palavras do próprio diretor.
10 comentários:
Ele já havia recebido o Prêmio de Melhor direção e Prêmio da Crítica internacional no Festival de Cannes de 2005, com 'Caché' estrelado por Juliette Binoche.
'A Fita Branca' é simplesmente brilhante nos sentidos sociológico e psicanalítico. E um filme que mereceu o a Palma de Ouro.
A tua análise é muito profunda e expõe muito bem o clima de mistério que paira sobre a narrativa desde o início até o final desta obra, indiscutivelmente uma das melhores dos últimos anos.
Obra que reflete, como você bem observou, sobre as raízes do Mal, "A Fita Branca", de Michael Heneke, é um filme atípico no panorama medíocre do cinema contemporâneo. Para seu autor, a educação rígida, autoritária, como a praticada, principalmente, pelos países nórdicos, pode gerar, no futuro, monstros. A sua estrutura narrativa lembra um filme de Carl Theodor Dreyer, descontando, claro, a espiritualidade, que não existe nem como uma réstia no diretor de "A Fita Branca". O filme, por exigência dos produtores, foi filmado a cores e depois 'descolorizado', gerando, com isso, tonalidades cinzentas e matizes não propriamente do preto e branco (embora pareça sê-lo).
Oportuna a comparação com "M", do grande Fritz Lang.
Considero "A fita branca" uma das obras analíticas mais profundas quanto à obscuridade do moralismo "cristão", uma das principais origens de todos os nossos problemas políticos e sociais...
Tirei estas "raízes do mal" do próprio texto do New Yorker do próprio Heneke. Achei uma definição fantástica e que resume todo este maravilhoso trabalho dele.
A obra é de uma crueza que chega a nos incomodar, nos assustar.
Quanto ao PB é maravilhoso, mas tenho uma impressão (ficou na minha cabeça) que a primeira cena do filme é em cores. Ou estou enganado?
Uma pergunta: o livro do André Setaro vai ser lançamento Nacional?
Sua crítica sobre o A Fita Branca é irretocável. Parabéns.
Caro Anônimo, vou me comunicar com ele e ver se obtenho uma resposta.
O lançamento de "Escritos sobre Cinema - Trilogia de um tempo crítico", de minha autoria, caro "Anônimo", terá, sim, um lançamento nacional ou, pelo menos, nas mais importantes capitais brasileiras já que a editoria é a Azougue do Rio em parceria com a Editora da Universidade Federal da Bahia (Edufba). O livro será primeiramente lançado em Salvador no dia 13 de abril e depois distribuído pelo Brasil. Será também lançado, com a presença do autor, nos principais festivais e eventos cinematográficos do país.
A moral cristã, pelo menos a presbisteriana, como falava Max Weber, é terrível. E a católica também (vide o sofrimento de Luis Buñuel quando interno em colégio de padres, trauma que levou, o que foi bom, para suas obras-primas). Bergman, tal qual um personagem infantil de "A Fita Branca", também comeu o pão que o diabo amassou quando menino educado por seu pai, severo pastor protestante, que não o permitia falar durante as refeições e sofria toda série de castigos, sendo-lhe incutida profundo sentimento de ser culpado, de ser um pecador. Tudo está nos seus filmes, primas obras.
Isto quer dizer: o que Haneke mostrou brilhantemente no seu filme, tão bem exposto em suas idéias gerais pelo autor deste blog, é que uma educação autoritária leva, inexoravelmente, à criação de pessoas 'culpadas', e para 'exorcizar' os fantasmas recônditos dessa culpa podem vir a praticar atos monstruosos, quando adultos. O fato é que as pessoas precisam, de alguma forma, de alguma maneira, 'expiar' a culpa e a expiação pode ser 'configurada', no futuro, através dos atos brutais, dos assassinatos, ou, também, pela arte (como assim procederam Bergman e Buñuel, e, por que não? também o próprio Haneke com seu cinema sempre virulento e sem perdão).
Haneke foi também, talvez, um daqueles meninos, mas, felizmente, se salvou. Seu filme, sobre ser belo, não deixa, porém, de ser muito cruel. Mas uma crueldade que expõe a verdade.
Sim André. Veja o caso do pastor no filme. Figura, aliás, que eu por bom tempo achava que era o autor das monstruosidades no lugarejo.
Mas se não o era, era um monstro com seus filhos e lhes dava chibatadas.osmaltratava.
Os mais imorais são os moralistas, aqueless que teem um discurso que acusa e castiga a todos, como no caso o pastor.
O único momento que senti algo de bom no seu coração foi quando seu filhinho se dirigiu a ele para lhe ofertar o pássaro que havia recolhido para curar, substtuindo o que fors peversamente morto.
Mas logo depois, fecha o tempo com o professor quando este lhe revela as fortes suspeitas de que os verdadeiros autores eram as crianças.
Obrigado pela informação.
(a) Anônimo Anônimo
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