terça-feira, 11 de maio de 2010

A mágica de “La vida es silbar”

O elenco é composto de Luis Alberto Garcia, Isabel Santos, Coralia Veloz, Rolando Brito, Claudia Rojas, Joan Manuel Reyes.
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Bebê é uma menina de 18 anos que está feliz e não entende por que os outros, todos criados por uma mulher de nome Cuba, não o são. Em sua infância, Bebê assobiava ao invés de cantar. Em close, ela narra as histórias de Mariana, Julia e Elpidio, os três personagens centrais desta história ambientada em uma Havana belíssima em suas cores tropicais.
Mariana é uma jovem dançarina de balé que tenta obter o papel de Giselle. Faz uma promessa numa igreja de nunca mais dormir com qualquer homem para conseguir vencer um concurso que a capacite a viver o personagem sonhado. Ao se apaixonar por seu parceiro – tambem bailarino – cria para si um problema cujo conflito está entre suas crenças e o desejo.
Julia, cuja paixão é fazer o bem aos outros e aos animais tem uma vida feliz, até que um dia começa a sofrer desmaios estranhos ao ouvir determinada palavra. É indicada para procurar um psiquiatra. Ela hesita, mas o destino faz com que se encontrem, cara a cara. Se apaixonam, mas ela, extremamente reprimida resiste a se entregar.
Elpidio é um músico mulato jovem que foi abandonado por sua mãe (a tal, de nome Cuba) e pergunta sobre o seu futuro. Tem em seu quarto um manequim mascarado que supõe seja um ícone que representa su madre. Ao apaixonar-se por uma estadunidense, membro do Greenpeace, tambem ver alterarem-se valores de sua vida.
Na narrativa acima resume-se a trama de La vida es silbar (A vida é assobiar), um filme de 1998, direção de Fernando Perez a que pude assistir no domingo passado no Cine Ibermédia exibido pela TV Brasil, que tem divulgado o “nosso cinema/nuestro cinema”, tambem o sub título do programa.
O mais impressionante neste filme é a sua forte simbologia, a começar pelo nome da mãe adotiva dos personagens, desde a narradora aos outros. O sugestivo nome de Cuba é claramente simbólico. E toda a história gira em torno da “mãe pátria” e seus filhos. Sua força e os conflitos gerados por sua presença marcante.
A própria crítica ao sistema cubano faz-se de forma bastante sutil... Tanto que o próprio governo o financia através de órgãos oficiais, o que vem provar que naquela ilha do Caribe, a censura não é o que divulga a nossa mídia, esta sim, vendida às classes dominantes e seus interesses.
Tambem é impressionante a similitude de características, as quais nós, brasileiros, encontramos na cultura popular cubana, principalmente no tocante ao “sincretismo religioso”. E isto se deve ao fato de que os negros que vieram para ambos os países originavam-se de regiões semelhantes, coisa que não aconteceu com os que foram para os EUA ou a Jamaica, por exemplo. O fato é que isto nos identifica com a história e os símbolos expostos com uma grande facilidade.
Por outro lado, a fotografia é belíssima e surpreendente. As cenas finais que o digam, pois em uma mescla de por do sol e luz artificial um efeito mágico surpreende nosso olhos num clímax de exuberância policromática irretocável que nos convence que a vida deve ser tocada de forma leve e alegre, essencialmente mágica, sempre a assobiar.

6 comentários:

Stela Borges de Almeida disse...

Parabéns pela postagem, além de chamar atenção para a programação de cinema da TVBrasil. Ainda não tive chance de assisitir, mas sei da excelência. Só fiquei em dúvida sobre o título do filme, em se tratando da hermosa isla há que silbar, mas nem sempre a vida é tão bela quanto merecemos. Enquanto permanecer o bloqueio americano, a bela ilha que o diga.

Jonga Olivieri disse...

'Es bienvenida Stela... La Isla nos necesita ...'
Falaste bonito sobre a Ilha. Assim mesmo, começando com maiúscula.
pena que resíduos da "burocracia stalinista" a impregnaram de um certo desconforto, mas o que aconteceu em Cuba foi uma coisa maravilhosa.
Como a mãe adotiva dos personagens, cujo nome é Cuba. Coincidência? Claro que não...
Este filme reflete a beleza de um país que "quase" tornou-se o Paraíso lendário, o El Dorado perdido nas brumas da história.
O bloqueio é o reflexo disto tudo. Tentando evitar (mas não conseguindo) o raciocínio "maniqueísta, sabemos quem são os 'maus da fita' e as vítimas nesta bloqueio 'safado' e na propaganda que tenta arrazar um país que se mantem de pé... Apesar de tudo.

André Setaro disse...

A julgar pelo que li no 'post', "La vida es silbar", até pelo título, o filme marca uma diferença com as produções que estamos acostumados a ver no mercado exibidor. Há um despojamento no tratamento temático que faz lembrar os grandes momentos do neorrealismo italiano. O humanismo, desaparecido da indústria cultural hollywoodiana, em função dos 'avatares' e dos efeitos especiais, quando a técnica se sobrepõe à linguagem, é uma tônica nos filmes que estão sendo veiculados pela TV Brasil.

Devo parabenizá-lo pelo interesse em assisti-los e propagá-los.

Jonga Olivieri disse...

Olha professor Setaro. Você falou bonito aquando se refere ao sentido humanista de obras do neo realismo, ou mesmo no cinema ianque, bastando para tal citar um Frank Capra e sua grandiosidade... Ou Chaplin, quase que um filósofo dos tempos modernos.
O certo é que venho comprovando que os filmes ibero americanos estão impregnados de humanismo e continuam sendo cinema e não uma exibição circense dos efeitos de botão...
Será nosso sentimento latino... Não sei se apenas isto, mas fundamentalmente sim!

André Setaro disse...

Walter da Silveira, o maior ensaísta baiano de todos os tempos (e também um dos maiores do Brasil), já dizia que o cinema é um instrumento do humanismo. Com a ascenção do neoliberalismo e a desnaturação dos estúdios hollywoodianos, o homem passou a ser 'pano de fundo' dos espetáculos cinematográficos, um títere, por assim dizer, que, 'acionado', faz detonar a ação dos filmes.

A mostra dos filmes que está a acontecer na Tv Brasil é uma oportunidade única para se conhecer outras cinematografias latinas. Que possuem este desaparecido humanismo no cinema.

Jonga Olivieri disse...

Quando você refere que "... o homem passou a ser 'pano de fundo' dos espetáculos cinematográficos...", mormente no cinema estadunidense acertou em cheio no cerne da questão.
Estou tendo a oportunidade de, através do "Cine Hibermedia´- Nosso Cinema - Nuestro Cine" um espetáculo de histórias focadas no ser humano. Isto aliado a um cinema sem computações gráficas, mas ancorados na gramática do cinema.
Por isso eu digo: pegue uma cervejinha, um tira-gosto e delicie-se com o bom cinema na TV Brasil, todo domingo às 11 PM.