Com o título de Morte sem epitáfio, Alberto Dines publicou no Observatório da Imprensa no último dia 16 uma crônica que não só transcrevo como faço questão de comentar pela sua lucidez e pelo seu peso histórico de uma realidade que transformou o cenário jornalístico do Rio de Janeiro em um monólogo...
“Os sinos não dobram quando fecha um jornal, mas dobram pelo jornalismo. Nenhum jornal é uma ilha – menos um jornal, menor a imprensa. Menos um diário, menor o continente, o mundo, a humanidade.”
Neste parágrafo inicial, o jornalista já nos dá uma ideia da dimensão da catástrofe. De quanto pesa a ausência de um jornal e da imensidão de sua falta num cenário em que é importante a pluralidade de opiniões e as opções a que fica sujeito o leitor e/ou cidadão, em última instância aquele que usufrui destas opções necessárias ao seu objeto de escolha.
“Pífia, lamentável, a repercussão do anúncio do fim do Jornal do Brasil impresso. Ninguém vestiu luto – só os jornalistas – porque há muito aboliu-se o luto. O luto e a luta. Sobreviventes não lamentaram, dão-se bem no jornalismo morno, sem disputa. Juntaram-se para revogar a concorrência e enterraram a porção vital do seu ofício. Esqueceram a animada dissonância, preferiram a consonância melancólica.”
Aqui, Dines é brilhante, primeiro por constatar que poucos sentiram tanto o desaparecimento do referido veículo de comunicação quanto aqueles que, pela profissão exercida necessitam o oxigênio fornecido pelo próprio mercado. Quando diz que “... juntaram-se para revogar a concorrência...” fica claro o quanto o fim de um jornal significa no seu mercado. Pois como tambem diz que “sobreviventes não lamentaram, dão-se bem no jornalismo morno, sem disputa...” Uma lamentável conclusão!
“O derradeiro confronto jornalístico no Rio talvez tenha se travado no início dos anos 70 (ou fim dos 60) quando Roberto Marinho decidiu que O Globo não poderia ficar confinado ao esquema de vespertino e passou a circular aos domingos. Em represália, Nascimento Brito decidiu que o JB invadiria a segunda-feira. Encontro de gigantes, disputa de qualidade. Mesmo com a ditadura e a censura como pano de fundo.”
Isto remonta a tempos --que a maioria nem se lembra-- em que existiam os matutinos (jornais mais nobres) e os vespertinos (jornais mais vulgares). Tempos em que O Globo, em seu crescimento, começou a reivindicar sob a proteção das asas dos militares no poder um espaço maior como porta-voz deles mesmos, os generais-presidentes. O Jornal do Brasil, até pelo seu corpo editorial, representante de uma voz que pretendia se opor ao regime ditatorial até onde fosse permitido, era um obstáculo necessário de ser derrubado a qualquer custo.
“Sem competição, o jornalismo perdeu o elã; desvirtuado, virou disputa pelo poder. Exatamente isso atraiu Nelson Tanure, o empresário que investe em informática, estaleiros e faz negócios pelo negócio. Não lhe disseram que empresário de jornal não precisa escrever editoriais, basta gostar do ramo e ser fiel a ele.”
Neste particular, Alberto Dines reflete à disputa entre os dois jornais, na captura do que havia de melhor no JB para O Globo, a esvaziar os colunistas daquele jornal (se necessário a peso de ouro) para este, sem o menor elã (segundo suas palavras). Uma disputa que nos deixou apenas o saudoso e brilhante Fausto Wolff, que veio a falecer ainda como colunista diário do velho JB”. Os demais estão todos justamente n’O Globo!
Quanto a Nelson Tanure... Até valeu a tentativa. Mas o que tem o... a ver com a s calças?
“Simbólico: o fim do JB impresso foi confirmado na edição de quarta-feira (14/7) sob a forma de anúncio, publicidade. Aquela Casa não acredita em texto. E o seu jornal morreu sem epitáfio.”
Triste, muito triste...
“Os sinos não dobram quando fecha um jornal, mas dobram pelo jornalismo. Nenhum jornal é uma ilha – menos um jornal, menor a imprensa. Menos um diário, menor o continente, o mundo, a humanidade.”
Neste parágrafo inicial, o jornalista já nos dá uma ideia da dimensão da catástrofe. De quanto pesa a ausência de um jornal e da imensidão de sua falta num cenário em que é importante a pluralidade de opiniões e as opções a que fica sujeito o leitor e/ou cidadão, em última instância aquele que usufrui destas opções necessárias ao seu objeto de escolha.
“Pífia, lamentável, a repercussão do anúncio do fim do Jornal do Brasil impresso. Ninguém vestiu luto – só os jornalistas – porque há muito aboliu-se o luto. O luto e a luta. Sobreviventes não lamentaram, dão-se bem no jornalismo morno, sem disputa. Juntaram-se para revogar a concorrência e enterraram a porção vital do seu ofício. Esqueceram a animada dissonância, preferiram a consonância melancólica.”
Aqui, Dines é brilhante, primeiro por constatar que poucos sentiram tanto o desaparecimento do referido veículo de comunicação quanto aqueles que, pela profissão exercida necessitam o oxigênio fornecido pelo próprio mercado. Quando diz que “... juntaram-se para revogar a concorrência...” fica claro o quanto o fim de um jornal significa no seu mercado. Pois como tambem diz que “sobreviventes não lamentaram, dão-se bem no jornalismo morno, sem disputa...” Uma lamentável conclusão!
“O derradeiro confronto jornalístico no Rio talvez tenha se travado no início dos anos 70 (ou fim dos 60) quando Roberto Marinho decidiu que O Globo não poderia ficar confinado ao esquema de vespertino e passou a circular aos domingos. Em represália, Nascimento Brito decidiu que o JB invadiria a segunda-feira. Encontro de gigantes, disputa de qualidade. Mesmo com a ditadura e a censura como pano de fundo.”
Isto remonta a tempos --que a maioria nem se lembra-- em que existiam os matutinos (jornais mais nobres) e os vespertinos (jornais mais vulgares). Tempos em que O Globo, em seu crescimento, começou a reivindicar sob a proteção das asas dos militares no poder um espaço maior como porta-voz deles mesmos, os generais-presidentes. O Jornal do Brasil, até pelo seu corpo editorial, representante de uma voz que pretendia se opor ao regime ditatorial até onde fosse permitido, era um obstáculo necessário de ser derrubado a qualquer custo.
“Sem competição, o jornalismo perdeu o elã; desvirtuado, virou disputa pelo poder. Exatamente isso atraiu Nelson Tanure, o empresário que investe em informática, estaleiros e faz negócios pelo negócio. Não lhe disseram que empresário de jornal não precisa escrever editoriais, basta gostar do ramo e ser fiel a ele.”
Neste particular, Alberto Dines reflete à disputa entre os dois jornais, na captura do que havia de melhor no JB para O Globo, a esvaziar os colunistas daquele jornal (se necessário a peso de ouro) para este, sem o menor elã (segundo suas palavras). Uma disputa que nos deixou apenas o saudoso e brilhante Fausto Wolff, que veio a falecer ainda como colunista diário do velho JB”. Os demais estão todos justamente n’O Globo!
Quanto a Nelson Tanure... Até valeu a tentativa. Mas o que tem o... a ver com a s calças?
“Simbólico: o fim do JB impresso foi confirmado na edição de quarta-feira (14/7) sob a forma de anúncio, publicidade. Aquela Casa não acredita em texto. E o seu jornal morreu sem epitáfio.”
Triste, muito triste...
10 comentários:
É mesmo triste como você falou no final deste post um jornal fechar. Principalmente um como o Jornal do Brasil, tão conhecido.
E no caso do Rio de Janeiro é uma perda irreparável. Mesmo se levando em consideração que o JB vinha decaindo há vários anos...
É muito triste para a nossa imprensa ficar com um ou dois jornais... Pena mesmo!
Tua postagem de outro dia com o texto de Alberto Dines neste blog foi excelente.
Agora esta, falando do fim do famoso (e com razão) Jornal do Brasil também.
Mas gostei muito dos teus comentários.
Alberto Dines, é um jornalista competente e estabelecido. O seu texto e suas posições são conhecidas pela sua imparcialidade e experiência.
Quanto a mim, obrigado pelo elogio aos meus comentários, mas apenas quis reforçaros pontos de vista dele.
Quando ia muito ao Rio nos anos 70, de ônibus, pela Rio/Bahia, descia antes da rodoviária para ficar a olhar o prédio do Jornal do Brasil. Em 1975, pedi demissão de um emprego considerado bom e seguro, para ir ao Rio trabalhar como jornalista no 'Jornal do Brasil'. Cheguei a me inscrever para um teste de revisor. Mas problemas outros determinaram a minha volta à Bahia.
Sempre fui leitor voraz do JB
Fui lá diversas vezes. Primeiro porque atendi à conta do jornal em uma agência de publicidade em que trabalhei. E uma outra porque tinha uma ex-colega que trabalhava lá e fui almoçar certa ocasião com o Antônio Torres a convite dela no restaurante do jornal. Que era excelente, por sinal.
Mas coincidentemente, ainda hoje estava a ler (na Tribuna do Helio Fernandes) sobre a construção daquele prédio, abandonado há tantos anos.
Ele foi construido daquele tamanho todo com a intenção de abrigar a TV JB, cujo projeto foi abortado pelas Organizações Globo e o governo militar... Coisas do futebol!
A ditadura nunca admitiu que o Jornal do Brasil tivesse uma emissora de televisão. Numa concorrência que houve, os militares preferiram a SBT de Sílvio Santos do que a Tv Jornal do Brasil. Teríamos tido, disso tenho certeza, caso o Jornal do Brasil tivesse sido escolhido, uma televisão de muito melhor nível.
A Editora Abril tambem viu frustradas as suas tentativas de ter o seu canal.
Quanto ao senhor Senior Abravanel (leia-se Silvio Santos) foi muito oportuno para os militares, pois não ofereceia risco algum.
Concordo com os argumentos apresentados pela perda do JB, entre outros, sinto saudade do Caderno de Idéias do sábado, trazia análises dos principais lançamentos de livros e revistas, com excelentes articulistas.
Era mesmo um excelente caderno do jornal. Mas o próprio Caderno B, durante muitos anos foi excelente. Uma pena mesmo. Até porque eu era leitor deste jornal e O Globo não mee agrada de todo.
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